A Copa do Mundo na era de ouro do rádio

Confira a coluna desta quarta-feira (16) do comentarista Tom Barros

Legenda: A Seleção Brasileira é uma das favoritas ao título da Copa do Mundo de 2022
Foto: Nelson Almeida / AFP

Faltam três dias para o início da Copa do Mundo do Qatar. Da primeira edição (1930) até a Copa de 1966, o meio de transmissão ao vivo para o Brasil era o rádio. Os locutores da época descreviam os acontecimentos e cabia a cada ouvinte imaginar como tudo estava acontecendo. A primeira Copa que acompanhei foi a de 1958. Os narradores Pedro Luiz e Edson Leite entraram para a história. Após a sensacional conquista do primeiro título mundial na Suécia, os lances, nas vozes deles, foram imortalizados num LP especial comemorativo. Eu tinha onze anos de idade. Fiquei deslumbrado. O som das ondas curtas das emissoras variava. E, por mais paradoxal que pareça, dava até mais beleza e emoção. A Rádio Nacional do Rio de Janeiro era a mais importante do país. Tinha como titular o famoso Jorge Cury, narrador que, anos depois, conheci pessoalmente numa transmissão feita por ele no PV. Não tive a felicidade de conhecer Edson Leite, mas conheci Pedro Luiz na Copa de 1990 na Itália. Ele já estava com 71 anos de idade. Sentou-se ao meu lado no ônibus da imprensa. Nem acreditei que ali estava o narrador que em 1958 eu ouvira na minha casa, direto da Suécia. A magia do rádio é fantástica.

Televisão 

Na Europa, em 1958, pela primeira vez uma final de Copa do Mundo foi transmitida ao vivo pela televisão. Mas poucos países tiveram o privilégio de receber as imagens. Detalhe importante: uma câmera de filme de cinema foi acoplada a um monitor de tv e assim filmava as imagens, que foram preservadas até hoje. Na época ainda não existia vídeo. 

Ainda o rádio 

Na Copa do Mundo de 1962, no Chile, também não houve transmissão ao vivo pela televisão para o Brasil. Mais uma vez o rádio predominou. A dupla Edson Leite e Pedro Luiz continuou na Rádio Bandeirantes de São Paulo. Jorge Cury na Rádio Nacional do Rio. Waldir Amaral na Rádio Globo. Oduvaldo Cozzi na Rádio Tupi. Fiori Gigliotti na Rádio Pan-Americana de São Paulo. 

Teipe 

A novidade na Copa de 1962 foi o teipe dos jogos que, em São Paulo e no Rio, passava no mesmo dia da partida. A TV Tupi e a TV Record fizeram um pool. Um avião trazia o teipe assim que o jogo terminava. Aí o teipe era levado ao ar às 23 horas. Na época ainda não existia a TV Globo. Em Fortaleza o teipe só era exibido no dia seguinte na TV Ceará, Canal 2, da Rede Tupi.  

A festa do rádio 

Em 1958, o presidente do Brasil era Juscelino Kubitschek de Oliveira. Tempo de paz, sem ódios e intolerâncias da política. Plena a democracia. O rádio comandou a festa antes, durante e depois da Copa do Mundo. Havia confiança na conquista. A cada vitória, o entusiasmo tomava conta do país. Foi através do rádio que o povo brasileiro se uniu na inesquecível comemoração do primeiro título.