Eu cheguei até aqui e isso é muito

“Então é Natal e o que você fez?". Se estamos aqui planejando metas para o ano que se aproxima, posso dizer que fizemos muito e devemos comemorar

Legenda: Espera-se que o espirito natalino contribua para a defesa da vida e subverta a lógica individualista em nome de agenciamentos coletivos voltados ao Bem Viver.
Foto: Natinho Rodrigues

Um dos sinais que o Natal está chegando é a música da cantora Simone nos estabelecimentos comerciais. “Então é Natal e o que você fez?”, indaga a cantora. Ela até continua: “o ano termina e nasce outra vez”, em um pensamento que pode nos indicar a renovação, a chance de refazer o que deu errado, o começar de novo.

Mas é mesmo a primeira frase que nos martela com o questionamento sobre o que conseguimos fazer. Cumprimos nossas metas? Fomos mesmo uma pessoa melhor (para os outros e para nós)? Sem saber, Simone passa o mês de dezembro nos instigando à reflexão.

Nesse ano, após atravessar uma pandemia, em uma das experiências mais marcantes que vivi ao longo dos meus mais de setenta anos, posso responder tranquilamente: Simone, querida, eu cheguei até aqui e isso é muito.

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2021 foi um ano difícil de atravessar. O segundo ano da Covid-19. Continuamos andando nas ruas de máscaras, passamos novamente por um isolamento rígido e saímos dele com um misto de vontade de abraçar e medo de adoecer. Contabilizamos ganhos e perdas e o saldo nem sempre foi positivo. Trabalhamos muito. Chegamos ao fim do ano com muito cansaço físico e mental.

Mais que nunca, nos afetamos com o outro. Aprendemos a conviver com mais miséria nas ruas, embora soframos com isso diariamente. Discutimos sobre a importância da ciência, aplaudindo cada conquista científica. Festejamos a saúde dos nossos.

É por tudo isso que digo que 2021 foi difícil de atravessar, mas se estamos aqui fazendo metas para o ano que se aproxima, posso dizer que fizemos muito e devemos comemorar.

No ano passado, ainda no início da pandemia, vi uma entrevista do filósofo indígena Ailton Krenak na qual ele dizia: “Se essa tragédia serve para alguma coisa é mostrar quem nós somos. É para nós refletirmos e prestar atenção ao sentido do que venha mesmo ser humano. E não sei se vamos sair dessa experiência da mesma maneira que entramos. Tomara que não”.

Certamente não saímos igual. Ainda não consigo avaliar como saímos. Talvez essa seja a grande missão de 2022: nos mostrar quem realmente nos tornamos.

Desejo que esse momento, que nos lembra o nascimento do menino Jesus e tudo o que Ele fez por nós, nos guie no caminho da compaixão conosco e com os outros. Que saibamos ser leves com nós mesmos, analisando os erros e acertos, mas guardando a certeza de que fizemos o nosso melhor.

Então é Natal e que bom que estamos aqui.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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