Gostaria de começar a escrever neste espaço admitindo meu total desinteresse pelas Olimpíadas de Tóquio. Sempre fui amante dos Jogos Olímpicos e guardo na memória os momentos reunidos em família para assistir à cerimônia de abertura e de, quando criança, brincar de atleta, imaginar modalidades, vencer, ganhar minha tão sonhada medalha de ouro.
Em 2021, o jogo virou. Me vi completamente desatento e desinteressado. Talvez seja pela forma como nosso país se encontra politicamente e que tem me desmotivado a torcer pelo Brasil. É claro que nossos atletas não são responsáveis por isso.
Entretanto, para mim, tornou-se um pouco mais sacrificante essa paixão nacional. A não ser por um outro motivo: a representatividade LGBTQIA+ declarada, assumida, escancarada, sem nenhuma vergonha de alguns atletas.
Começo no vôlei masculino, com Douglas Souza. O esportista usou suas redes sociais para expor curiosidades sobre sua vida e a emoção em fazer parte das Olimpíadas. Seu jeito espontâneo e, absolutamente, sincero me fisgou e acendeu a chama do meu espírito torcedor.
Essa é a primeira vez que enxergo claramente, dentro da delegação brasileira, heróis LGBTQIA+ e isso me traz muito mais do que identificação ou representatividade, me promove uma catarse.
Catarse é uma mudança, uma alteração que alguém experimenta ao expurgar sentimentos depois de viver um acontecimento traumático ou que lhe provocou uma exaltação bastante grande.
Pois bem, sendo o Brasil o país que mais mata LGBTQIA+ no mundo, ter nos Jogos de Tóquio um recorde de esportistas declaradamente fora do armário, contribui para inclusão da nossa comunidade não somente na competição, mas também em espaços de promoção de diálogos sobre o respeito e a importância de fomentar políticas públicas para nossa existência.
Somando as Olimpíadas de Londres (2012) e Rio de Janeiro (2016), tínhamos 70 esportistas assumidamente LGBTQIA+. Em Tóquio (2021), são mais de 160 atletas que fazem parte da comunidade.
Os Estados Unidos lideram esse ranking com 30 atletas, seguido do Canadá (17 atletas), Grã-Bretanha (16), Holanda (também 16), Austrália (12) e Nova Zelândia (10). O Brasil está em quinto lugar nesse ranking , com um total de 15 atletas.
Assim, me alegra muito ter o fogo olímpico acesso diante do fato que, de alguma forma, ganhamos mais espaço. Desse pódio, a gente não desce mais. Agora deixo todo o meu carinho e admiração aos meus medalhas de ouro da diversidade:
Marta (futebol)
Andressa Alves (futebol)
Bárbara Barbosa (futebol)
Formiga (futebol)
Letícia Izidoro (futebol)
Aline Reis (futebol)
Debinha (futebol)
Izabela da Silva (atletismo/disco)
Babi Arenhart (handebol)
Isadora Cerullo (rugby)
Silvana Lima (surfe)
Ana Marcela Cunha (natação)
Ana Carolina (vôlei)
Carol Gattaz (vôlei)
Douglas Souza (vôlei)
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.