Minha vida sempre foi guiada pela presença e a memória do feminino. Uma mãe extremamente presente, uma casa com duas irmãs, sendo especialmente a mais velha uma grande referência pra mim, uma avó que partiu antes do meu nascimento e a outra que faleceu segurando minha mão.
De criação religiosa, as santas católicas também regiam minha vida. Lembro das clássicas novenas de Mãe Rainha que enchiam minha casa de devotos e da imagem de Nossa Senhora da Conceição, no pátio da igreja da matriz da minha cidade. Ficava encantando quando a via.
Há 10 anos, em Porto Alegre, tive minha primeira experiência dentro de um terreiro de Umbanda, onde fui acolhido e abraçado por Oxum, que como boa mãe, me deu conselhos valiosos sobre a vida. Depois, num jogo de búzios, descobri ser filho de Yansã e muita coisa ficou clara sobre minha personalidade e ações a partir dessa informação.
Em Fortaleza, foi na Tenda Espiritualista Mãe Tutu, que encontrei Preta Mandinga, uma preta velha que me recebeu como um filho que volta pra casa. Foi lá também que conheci de perto a força e o trabalho comunitário da Umbanda de Mãe Telma e seus filhos de santo.
Pra minha alegria, é justamente, Mãe Telma, que estreia o novo filme da produtora Peixe-Mulher “Arreda Homem que Chegou Mulher”, ao lado de outras duas mães de santo de Fortaleza: Elisa e Cristina. No filme, as três são protagonistas de suas próprias histórias e contam sobre o sacerdócio, o matriarcado e o machismo dentro da religião.
O filme, dirigido por Renata Monte e produzido por Luana Caiubi, conta ainda com performances das atrizes Adna Oliveira, que interpreta uma mãe de santo, e Yasmim Shirran, que dá vida a outra grande mulher que rege meu caminhar e toma conta da minha proteção: Dona Pombagira.
“Arreda Homem que chegou Mulher” será exibido no Cineteatro São Luiz, na Mostra de Filmes Cearenses, no próximo dia 16 de outubro, às 16h, totalmente gratuito. Uma obra que fortalece não só a cultura, mas também se une ao combate à intolerância religiosa.
É muito bonito ver um cinema cearense feito por mulheres e falando de mulheres, ainda mais dentro de um recorte que sempre me toca, que são as religiões de matriz afroameríndias. Que venham mais!
E assim como o ponto de Pombagira que dá título ao filme, que se arredem os homens, porque elas chegaram. A gira vai começar!
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.