Veja os fatores que podem elevar ou baixar os preços dos combustíveis no Brasil até o final do ano
Especialistas falaram sobre os cenários que poderão afetar o preço do diesel e da gasolina no Brasil, considerando os mercados nacional e internacional
Nos últimos meses o consumidor cearense vem convivendo com oscilações constantes para os preços dos combustíveis, puxados pelos reajustes da Petrobras ou por questões do mercado internacional. E mesmo sendo difícil prever o patamar máximo do valor de revenda que a gasolina e o diesel podem chegar esse ano, os especialistas apontaram alguns dos fatores que poderão afetar a dinâmica das bombas nos postos do País.
A lista de fatos a observar vai desde as taxas de juros nos Estados Unidos a projetos tramitando no Congresso Nacional.
Contudo, o primeiro ponto a ressaltar para entender a composição de preços dos combustíveis no Brasil é a última política adota pela Petrobras. Em 2016, ainda no governo Michel Temer, a Estatal implementou um modelo de paridade internacional.
A iniciativa faz com que o barril de petróleo no Brasil seja negociado seguindo a cotação no mercado internacional e a variação cambial, considerando o dólar como referência ao real.
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Veja os pontos que podem alterar o preço dos combustíveis até o final do ano e como eles alteram a dinâmica do mercado local:
VIÉS DE ALTA
Mercado dos Estados Unidos
Com as perspectivas de inflação em alta nos Estados Unidos, analistas de mercado tem apontado previsão de novas altas na taxa de juros pelo FED (banco central do país). Caso essa perspectiva se confirme, até o fim do ano, o fluxo de recursos financeiros pode ser mais uma vez redirecionado para garantir opções mais sólidas de retorno em um mercado mais tradicional.
Esse desequilíbrio acaba afetando o fluxo de dólares no Brasil e, como consequência, a taxa de câmbio. O reflexo imediato, seguindo o modelo da Petrobras, é registrar um aumento dos preços dos combustíveis.
"À medida que temos uma alta da taxa de juros futura lá você gera um movimento de saída de recursos das economias em desenvolvimento", explicou Ricardo Coimbra, economista e membro do Conselho Regional de Economia (Corecon) no Ceará.
"E no Brasil você gera um desequilíbrio de demanda de moeda estrangeira, no caso o dólar, e essa pode ser uma variável que pode elevar a taxa de câmbio", completou.
Cenário fiscal brasileiro
Coimbra também destacou que, durante o processo eleitoral brasileiro, o risco de um rombo fiscal também pode acabar afetando a variação cambial no Brasil. Mais uma vez, a consequência direta seria um aumento dos preços de combustíveis.
"O Governo atual pode gerar desequilíbrio até o final do ano, como uma interferência na política de preços da Petrobras, ou pode gerar mais despesas com o processo eleitoral visando criar um benefício de longo prazo. E se você gera incerteza sobre o endividamento público, você gera instabilidade no mercado e isso tem um reflexo no câmbio", comentou.
Demanda europeia
Já em relação ao mercado europeu, Bruno Iughetti, consultor da área de petróleo e gás, comentou que o desequilíbrio da demanda por petróleo no continente e a guerra na Ucrânia ainda poderão ter impactos direitos nos valores de revenda nas bombas.
Caso o conflito entre Rússia e Ucrânia se prolongue muito mais e demanda europeia por combustíveis fósseis não se estabilize no curto prazo, a tendência é que haja um choque de preços no mercado internacional, gerando reflexos diretos nos combustíveis brasileiros.
"Temos uma escassez de oferta e aumento da demanda. Hoje o preço internacional, sofre essas consequências e nada ajudam a estabilização de preços no Brasil e vamos ficar dependendo desses implicadores dos outros países por um tempo ainda", disse Iughetti.
Atualização de preços
Outro fator que pode aumentar os preços da gasolina e do diesel é a defasagem de custos indicado pela Petrobras em relação aos insumos importados para complementar a demanda interna. Atualmente, segundo Iughetti, o Brasil depende da importação de 25% de tudo que é consumido de diesel internamente.
Esse cenário tem gerado uma defasagem de cerca de 20% no País. Caso a Petrobras decida reajustar valores para compensar essas diferenças, novos aumentos seriam registrados.
"Há o efeito de maturação de preços, por conta da defasagem ante ao mercado internacional, porque estamos 20% abaixo em relação ao mercado externo, e isso é perigoso para a garantia para abastecimento de diesel no terceiro semestre. E não vejo outra alternativa senão ter novos aumentos no futuro", projetou o consultor.
VIÉS DE BAIXA
Atualização da política de preços
Ambos os especialistas destacaram que uma mudança da política de preços pela Petrobras deverá ser crucial para que uma redução real seja sentida nas bombas. Contudo, ainda não há previsões ou modelos sendo discutidos pela empresa, considerando até mesmo os cálculos e impactos financeiros sobre os resultados da petrolífera.
Coimbra, contudo, apontou que o Governo poderia criar um fundo de estabilização usando os recursos recebidos a partir do repasse de dividendos da Petrobras. A mudança estratégica também poderia impulsionar a redução de preços.
"Precisamos ter uma saída mais firme sobre a política de preços da Petrobras, só que isso não se resolve de uma hora para outra, mas a mudança da política de preços pode gerar uma redução. E seria importante porque temos notado aumentos nos índices inflacionários puxados pela alta do diesel", comentou Iughetti.
Redução do ICMS
Outra iniciativa que pode ajudar a reduzir os preços da gasolina e do diesel é o Projeto de Lei Complementar 18/2022, que fixa um limite máximo de 17% para a alíquota de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nos estados.
Contudo, Coimbra destacou que, apesar de haver uma previsão de redução inicial, há chances do impacto sentido pelo consumidor ser apagado por outras questões externas, como a variação do dólar ou do barril do petróleo.
"A redução do preço pode estar relacionada à sanção do projeto sobre redução do ICMS. Mas é interessante observar que se a movimentação de alta e baixa irá se manter com um preço de equilíbrio um pouco abaixo do que estamos vendo hoje", disse.