Independente do vencedor das eleições majoritárias, que serão disputados em segundo turno por Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), o Governo Federal precisará dar três sinais claros ao mercado para garantir confiabilidade e garantir bons níveis de crescimento da economia em 2023. A perspectiva foi apresentada pelo ex-secretário do Tesouro Nacional e atual economista-chefe do banco BTG Pactual, Mansueto Almeida.
Segundo ele, o País precisa reforçar a importância do ajuste nas contas fiscais, sinalizando uma nova regra de controle para os gastos públicos caso o teto seja, de fato, revisto. Além disso, o novo presidente terá de garantir apoio às medidas de proteção ambiental, estejam ou não relacionadas a questões empresariais, e voltar a discutir a agenda de reformas.
As pautas foram levantadas durante evento organizado pela Acqua Vero Investimentos, na semana passada.
O próximo Governo precisa dar três sinais: um de responsabilidade fiscal, de que o Brasil vai manter o ajuste fiscal para controlar a dívida de forma permanente; o cuidado com a questão ambiental; e o compromisso com a agenda de reforma, com as principais sendo a tributária e a administrativa"
"Todos os candidatos estão querendo rever o teto e é um debate legítimo. Mas o que é importante é ter uma regra fiscal, até porque temos um ajuste fiscal para ser feito e o próximo governo, tendo mudança ou não, precisa mostrar de que forma vai conseguir melhorar as contas fiscais ao longo dos 4 anos de tal forma que a gente enxergue que a dívida vai parar de crescer", completou.
O ex-secretário do Tesouro também comentou o cenário de juros altos no Brasil e a importância da política monetária para o controle da inflação.
Contudo, Mansueto destacou que as recentes elevações da taxa de juros básica (Selic), atualmente em 13,75%, também terão um impacto negativo para economia nacional, reduzindo as expectativas de crescimento no próximo ano.
"Esse ano de 2022 está sendo muito melhor do que a gente esperava e a expectativa era de que o brasil crescesse muito pouco ou perto de zero, mas vamos terminar com um crescimento perto de zero, com o mercado de trabalho muito aquecido. A taxa de desemprego no Brasil está no menor nível desde 2015, só que no próximo ano deveremos ter um crescimento menor, por volta de 1% porque é a política monetária funcionando. A taxa de juros está alta, isso vai reduzir crescimento, mas vai trazer a inflação para a meta, aqui e no mundo todo", explicou.
Veja também
O cenário de baixo crescimento, contudo, poderá ser minimizado caso o governo sinalize os mecanismos de controle da dívida pública, indicando o momento que ela deverá parar de crescer.
"Esse juro hoje está muito alto porque a gente está olhando para frente e não está entendendo muito bem qual será a regra fiscal do próximo ano, então o próximo governo tem de dizer qual será essa regra fiscal porque isso é fundamental para que essa curva de juros possa cair. Agora a gente tem de entender uma coisa, se a gente não conseguir controlar o gasto, a gente ter de pagar isso com imposto, e ninguém quer pagar mais imposto", afirmou.
Perguntado sobre o impacto dos recentes aumentos da taxa Selic sobre a dívida pública brasileira, Mansueto reconheceu a relação direta. Ele, no entanto, reforçou que a inflação é um "problema maior".
"Temos um problema maior e muito grande, que é a inflação. Todos os países do mundo estão elevando juros para controlar inflação. Aumento de taxa de juros é momentâneo, o que é importante é sinalização do controle fiscal", comentou.
Mansueto Almeida aproveitou para afastar as possibilidades de voltar a atuar no serviço público, já tendo feito parte de equipes econômicas do Governo Federal.
"Eu acabei de sair do Governo há tão pouco tempo, então agora estou no setor privado", garantiu.