Previsões apontam desaceleração com chance de recessão das economias global e brasileira

Cenário de alta de juros nos principais mercados mundiais deve impactar crescimento de vários países e afetar evolução do PIB brasileiro

Legenda: O cenário de baixo crescimento, longe de ser uma exclusividade brasileira, também deve afetar, em 2023, toda a América Latina
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

As previsões para a economia global, e brasileira como consequência, é de forte desaceleração, com chances de recessão.

Contudo, uma ação coordenada dos bancos centrais pelo mundo poderia evitar um impacto mais prolongado e encurtar o período de possível estagnação. A perspectiva foi apresentada pelo economista-chefe do Itaú, Mário Mesquita, que destacou a importância de uma política monetária bem aplicada para conter o cenário de crise. 

Mesquita explicou que as políticas de expansão de gastos pelo mundo, úteis para conter os impactos da crise gerada pela pandemia e o desalinhamento das cadeias produtivas, tem gerado pressões inflacionárias nos principais mercados, como Estados Unidos e Europa.

O cenário vem estimulando os bancos centrais estrangeiros a elevar taxas de juros de forma simultânea, o que pode gerar a desaceleração da economia mundial e afetar, também, o Brasil. 

A perspectiva deve fazer com que o País, apesar de ter tido um reajuste positivo da perspectiva de crescimento em 2022, registre praticamente uma estabilidade em 2023, com alta de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB). Neste ano, a previsão do Itaú é de que o Brasil cresça 2%, o que superar a estimativa anterior de 1,8% estipulada pelo banco. 

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"Estamos caminhando para um desaceleramento da economia global que vai afetar a economia brasileira também. A gente acha que o FED vei ter de continuar subindo a taxa de juros para conter a inflação e vemos mais dificuldade para o BC Europeu subir tanto a taxa de juros pela questão da dívida dos países mais periféricos, como Grécia, Espanha, Itália. Então ele deve ter mais cautela", explicou. 

"Tudo indica que caminhamos para uma desaceleração da economia mundial, e ela será diferente que a gente observou nas últimas recessões globais. Tivemos uma grande recessão intensa na pandemia, que não foi causada pelas pressões monetárias", completou.  

A análise do Itaú coloca o Brasil abaixo da média de crescimento esperado para o mundo, fixada em 2,6% em 2023, e prevê um cenário de estagnação na América Latina, podendo culminar em uma recessão no Chile (-1% do PIB).

O cenário de baixo crescimento, longe de ser uma exclusividade brasileira, também deve afetar, em 2023, México (0,9%), e Argentina (0%). Colômbia (1,7%) e Peru (1,8%) deverão ter um resultado um pouco melhor.

Prejuízos da falta de coordenação 

Mesquita também destacou que a falta de coordenação dos bancos centrais pelo mundo pode ser fator determinante para uma extensão do cenário de estagnação da economia, sem descartar recessões em alguns países.

Fator importante para a redução de uma crise global, segundo o economista, é que o nível de poupança das famílias nos Estados Unidos ficou acima do esperado durante a pandemia. 

Essa reserva pode ajudar a mitigar o impacto da crise nos EUA e reduzir a influência negativa no mercado global de uma possível recessão norte-americana. 

"Estamos observando uma alta de taxa de juros, sincronizada, mas não perfeitamente coordenada. Os bancos centrais estão reagindo à pressão inflacionária, mas é difícil calibrar as decisões de política monetária sem saber o que os pares irão fazer, então há uma chance de que os efeitos sejam maiores que se houvesse uma ação coordenada. Assim como os cortes de juros e incentivos trouxeram apoio à recuperação de maneira mais prolongada", disse. 

"No momento que os bancos centrais estão apertando as condições de crescimento com os juros, estamos criando as condições para uma desaceleração global, com recessão em algumas nações", completou. 

Juros e cenário eleitoral brasileiro

Confiante dos efeitos a longo prazo de uma política monetária consistente, Mesquita descartou uma ampliação de ações pelo Banco Central brasileiro e pelo Governo Federal, isolando a necessidade de se rediscutir a política de preços da Petrobras e os impactos dela sobre o preço dos combustíveis. 

O economista do Itaú também descartou que as perspectivas de desaceleração no aumento da taxa básica de juros (Selic) no Brasil indique um apoio do Banco Central ao governo de Jair Bolsonaro durante o período eleitoral, considerando que a medida pode gerar impactos positivos na atividade econômica e reduzir a pressão sobre o crédito. 

Mesquita reforçou o caráter de autonomia do Banco Central.

"Cortamos, quando eu ainda estava no Banco Central, os juros em 2006 no meio de uma eleição porque era o certo a fazer, e as perspectivas de inflação não foram alteradas. Então o BC tem de focar na meta e fazer o trabalho dele. Se ele começa a olhar essas variáveis, e eu acredito que o trabalho da política monetária quanto mais focado na inflação melhor o resultado, e vê que precisa reduzir essas altas nos juros, isso tem de ser feito. A população em geral, não acompanha a política monetária como a mídia especializada e o mercado fazem, então não deve ter um impacto durante as eleições", afirmou.