Evolução de demanda por carros elétricos e outros combustíveis pode favorecer mercado no CE; entenda
Investimentos em hidrogênio verde podem ajudar o mercado cearense, mas infraestrutura ainda é um desafio regional e nacional
Com muitos países reforçando os projetos de transição energética e descarbonização, as montadoras que tiverem apenas carros a combustão poderão perder espaço, tendo de reduzir de tamanho. E a busca por um combustível alternativo poderá acabar favorecendo o Ceará, segundo especialistas ouvidos pela coluna, por conta dos investimentos em hidrogênio verde.
De acordo com Raul dos Santos, vice-presidente do Ibef-CE(Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará), como as demandas da sociedade estão mudando, e a busca por carros elétricos ou movidos a combustíveis alternativos tem sido impulsionada, as marcas terão de reforçar os investimentos na transição de modelos e em inovação.
Isso deverá influenciar diretamente os planos das montadas que só tiverem carros movidos a combustão nos próximos anos.
"Realmente as montadoras que se fixarem e não tiveram projetos de diversificação na inovação da pauta energética, elas vão ter dificuldade. Não acredito que elas irão desaparecer, mas vai haver uma queda muito grande no volume de vendas, então elas vão ter de se preparar para diminuir de tamanho", disse.
"No caso do Brasil, a pauta é muito interessante, não apenas em hidrogênio verde, que está começando, mas também a energia solar, a eólica, e isso pode colocar o País em uma situação privilegiada", completou.
Esse cenário poderá ser impulsionado ainda mais a partir de 2027, quando, segundo a consultoria PwC Brasil, houver uma alta da demanda por veículos elétricos. A previsão aponta que os carros elétricos deverão representar 30% do total das compras de automóveis daqui a 4 anos, chegando ao patamar 66% em 2040.
Até 2026, contudo, o mercado deverá ter representatividade reduzida, concentrando apenas 13% do total de vendas até 2026.
Desafios de infraestrutura
No entanto, para a consolidação dessa perspectiva, o País e a indústria automobilística terão de investir consideravelmente em infraestrutura melhor operação dos veículos elétricos ou movidos a combustíveis alternativos. De acordo com Célio Fernando, vice-presidente da Apimec Brasil (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais) e membro da Academia Cearense de Economia, o Brasil ainda precisa elaborar um planejamento estratégico para acelerar o desenvolvimento desse setor.
"A Europa estabeleceu o ano de 2035 para a proibição das vendas de carros movidos a gasolina e diesel. Logo, o mundo desenvolvido já tem sua meta nessa transição. As montadoras começam a fabricar carros elétricos puros e híbridos em larga escala. O Brasil terá que se adaptar. Redes de eletropostos estão sendo implantadas em alguns estados. Hoje são pouco mais de 500 no Brasil e precisam ser regionalizados, na Europa o número passa de 220 mil eletropostos", disse.
"O Brasil precisa construir seu planejamento para essa ambição e acelerar o avanço de eletropostos. O Net Zero é 2050. Vejo que, considerando as depreciações em média dos automóveis, poderemos fazer essa migração em torno de 20 anos", completou.
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A perspectiva foi corroborada por Raul dos Santos, que previu a adaptação ao novo segmento em pelos anos 10 anos.
"A grande dificuldade é a infraestrutura para que essa energia chegue nos automóveis. Em Fortaleza, carregador dos automóveis, se você não tiver em casa, que você vai provavelmente ter de instalar, você ter nos shoppings e prédios comerciais. Então teríamos de evoluir muito nessa infraestrutura. A geração de energia tem o Brasil na vanguarda. Para o Brasil, isso se espera que aconteça em uma década", explicou.
Vantagens para o Ceará
Ambos os economistas destacaram que o Ceará, por já ter criado um plano de incentivos ao setor de hidrogênio verde, tendo consolidados diversos investimentos, pode acabar sendo ainda mais beneficiado, caso o novo combustível seja, de fato, usado no motor dos veículos no futuro.
Para Santos, no entanto, ainda será preciso um realinhamento da indústria automobilística para se adaptar a essa nova demanda.
"O Ceará pode ser beneficiado por ter saído na frente na questão do hidrogênio verde, mas teríamos de ter uma infraestrutura para essa energia chegar nos automóveis. Seria preciso todo um set up na indústria automobilística para se conseguisse alinhar a energia produzida e a infraestrutura para chegar nos automóveis", disse.
Célio Fernando ainda ressaltou que a sinalização de investimentos em fábricas de ônibus e caminhões movidos a hidrogênio verde podem ser uma boa indicação dos impactos positivos das estratégias de impulsão do mercado de hidrogênio verde.
"O Hidrogênio Verde e de baixo carbono é um dos caminhos para veículos pesados. No momento o avanço e regulamentações tem sido palco dos grandes debates mundiais nas Conferências do Clima e Fóruns como o de Davos. Os investimentos de fábricas de Ônibus e Caminhões podem oferecer vantagens competitivas locacionais se instaladas no Ceará. A modernização das frotas é um dos caminhos nessa sinalização e acompanhando esse futuro, considerando também a cadeia produtiva do chamado transporte verde", analisou.