De M Dias Branco a Crusoe Foods: 10 indústrias que usam tecnologias e 5G para ganhar produtividade

Programa NE 4.0, aplicado pela Sudene em parceria com o IEEE, identificou gargalos no mercado local e vem trabalhando soluções utilizando inteligência artificial, internet das coisas, automação e outras

Legenda: Painel do IEEE durante a Futurecom discutiu tendências do mercado de tecnologia
Foto: Samuel Quintela

Pelo menos 10 indústrias no Ceará já estão integrando as novas tecnologias impulsionadas pelo 5G para ter ganhos de produtividade. A lista, que inclui negócios de setores diversos, desde cosméticos a alimentos ou metalurgia, integra um programa da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) apoiado pelo Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE). 

De acordo com Carmelo Bastos Filho, membro do IEEE e Diretor de Ambientes de Inovação e Formação Superior na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação de Pernambuco, os resultados do projeto (NE 4.0) deverão ser apresentados até o final do ano. O trabalho, realizado a partir de residências tecnológicas, foi executado para identificar gargalos e formas de integrar a tecnologia como meio de solução. 

As perspectivas foram apresentadas durante a Futerecom 2022, realizada em São Paulo. A feira discute as novas tendências do setor de tecnologia no País.

Utilizando conceitos de inteligência artificial, 5G, internet das coisas, e robótica, Carmelo destacou que os ganhos de produtividade podem representar até 4 vezes o desempenho atual dessas indústrias.

"A gente começou por Pernambuco em um projeto-piloto por conta da sede do polo do Ministério de Desenvolvimento Regional. Mas a gente propôs à Sudene para que fosse ampliado e no primeiro momento foram 10 indústrias, que geraram 10 soluções, e cada uma delas teve um projeto aplicado que deu resultados. Mas cada projeto tem relação com uma necessidade. Um é sobre logística, outro sobre cadeia de conhecimento, linha de produção, com a tecnologia entrando para solucionar os problemas, como habilitadoras", disse. 

"Temos 5 polos, um deles no Ceará, em Fortaleza, com empresas em que a gente faz uma residência tecnológica, dando treinamento para os funcionários para que sejam capacitados em internet das coisas, inteligência artificial, 5G, robótica, para que eles possam desenvolver os projetos", completou.

No entanto, por questões de confidencialidade, não há detalhes sobre os projetos de cada empresa. 

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Empresas cearenses já utilizando o 5G

Veja a lista de empresas que no Ceará que já estão integrando às novas tecnologias impulsionadas pelo 5G: 

  • Agromix (fabricação de alimentos para animais) 
  • Cigel Industrial LTDA (comésticos e higiene pessoal) 
  • Halex Istar (farmacêuticos)
  • M Dias Branco (produção de alimentos)
  • ITL/Bombas King (equipamentos hidráulicos)
  • Crusoe Foods (conserva de peixe e crustáceos)
  • Laminação Vale do Jaguaribe (máquinas de metalurgia)
  • Alimempro (especiarias, molhos e temperos)
  • Fresnomaq (eletrodomésticos)
  • Control Engenharia (eletrônicos)

"Quantificar é complicado, pois depende do setor, da aplicação, mas podemos dizer que a indústria brasileira pode ter ficado para trás por conta do hiato de investimento e, hoje, nós só falamos da produtividade do empregado, sendo que é impossível você ter a mesma produtividade quando se compara o mercado brasileiro com o dos Estados Unidos, onde há mais ferramentas sendo empregadas, às vezes", disse carmelo.

Aplicações e novas tecnologias

Entre as aplicações criadas no projeto, destacadas pelo engenheiro do IEEE, estão o uso de inteligência artificial para classificação da qualidade do couro em cortumes ou padronização de placas de gesso para evitar desperdício. Ambos os projetos, efetuados em empresas diferentes, deverão ajudar a reduzir os desperdícios e aumentar a produtividade. 

"Em um projeto do setor de couros, hoje, você tem uma série de couros que são avaliados por 8 funcionários, em um cortume de grande porte, para definir a qualidade, mas uma pessoa olhar 100 couros, ela vai começar a confundir. Estamos usando visão computação, com inteligência artificial, para classificar de forma automática os couros de melhor qualidade e os mais simples", explicou Carmelo. 

"Na indústria de gesso, uma grande fabricante, onde se faz a pasta de gesso, coloca na linha de produção e ela vai secando até chegar moldada no final, para ser embalada e entregue. Mas quando ela sai das dimensões, uma pessoa mede e faz um corte, mas isso gera muito desperdício. Mas, agora, estamos usando inteligência artificial para prever quando essas peças começam a sair de padronização para tomar ações preventivas e reduzir o desperdício", completou. 

Desburocratização do crédito 

Apesar dos pontos possíveis ganhos, Carmelo destacou que o mercado brasileiro ainda precisa criar mecanismos mais acessíveis de financiamento e fornecimento de crédito para investimentos em tecnologia, principalmente os envolvendo risco elevado de retorno. 

"Precisamos identificar os gargalos porque a tecnologia é um meio, mas a gente precisa saber qual o desafio, e esses projetos visam levantar esses grandes desafios em indústrias pelo Nordeste. Identificando isso, abrimos o espaço para buscar financiamentos. Mas aí temos o terceiro problema, que é ter um financiamento diferenciado para o setor de tecnologia", disse.

"O BNB (Banco do Nordeste) tem, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem, a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) tem, mas se não temos o diagnóstico não adianta ter crédito, mas precisamos, também, desburocratizar o acesso ao crédito, criando créditos associados ao risco. E esse é um desafio que países desenvolvidos já resolveram", completou.

*A coluna viajou para a Futurecom a convite do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE)