Após recuperação judicial, quais os próximos planos da Aço Cearense?

Empresa cearense deverá investir no aumento da produção da planta de Marabá, parte da Sinobras, e fazer novos aportes em logística, tecnologia, ESG e cultura empresarial

Legenda: Aline Ferreira destacou os planos da Aço Cearense após a recuperação judicial
Foto: Fabiane de Paula

Encerrado o processo de recuperação judicial, o Grupo Aço Cearense já prepara os planos restruturação, reinvestimento e operação nesse novo momento de mercado.

De acordo com vice-presidente comercial e financeira da companhia, Aline Ferreira, há a previsão de expandir a produção da planta no Pará e fazer novos aportes em logística, tecnologia e cultura empresarial. Além disso, a empresa já estuda a viabilidade de começar a produzir aço verde nos próximos anos.

Todas essas previsões fazem parte de um plano de adaptação da Aço Cearense, deixando de lado qualquer indício de uma mudança brusca do modelo de operação atual, mesmo que a executiva esteja sendo preparada para assumir o controle da empresa no futuro. No entanto, ainda não há um prazo definido para vice-presidente comercial ascender ao posto de CEO do Grupo. 

Aline Ferreira, contudo, descreve os planos de expansão de forma clara e direta. Já tendo investido cerca de R$ 200 milhões no projeto de ampliação da planta da Sinobras (empresa do Grupo) em Marabá (PA), a Aço Cearense ainda deverá alocar R$ 400 milhões no projeto. O objetivo é impulsionar a produção no local, passando de 380 mil toneladas de aço por ano, para cerca de 800 mil toneladas.

Além disso, Ferreira destacou que a Aço Cearense deverá fazer investimentos em logística, comprando caminhões e carretas; tecnologia e inovação; melhorias dos processos de relacionamento com clientes; e fortalecimento da cultura empresarial, para auxiliar as adaptações durante o processo de transição. 

"A gente não para de investir. Os acionistas estão sempre pegando os resultados e investindo nos negócios. Estamos mais que dobrando a nossa operação no Pará, saindo de 350 mil toneladas para 800 mil toneladas; estamos investindo em logística, compra de carretas e caminhões; em tecnologia; CRM (Gestão de Relacionamento com o Cliente, da sigla em inglês); cultura empresarial, até para termos uma cultura forte", explicou Aline.

"Ainda temos uma agenda de ESG (Governança ambiental, social e corporativa, da sigla em inglês), frentes de inovação e excelência operacional. Estamos investindo em gente, tecnologia e operação", completou. 

Atualmente, o Grupo Aço Cearense, após ter anunciado o corte de 1,3 mil colaboradores durante a pandemia, gera 4 mil empregos diretos e mais de 20 mil indiretos, segundo previsão repassada pela vice-presidente comercial. 

Apesar da ampliação da produção da planta no Pará, Aline Ferreira confirmou que, por conta da capacidade ociosa ainda registrada no Ceará, não há perspectivas para ampliações nas plantas instaladas no Estado. 

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Impactos da pandemia 

Sobre a crise gerada pela pandemia do novo coronavírus, Aline Ferreira destacou que os impactos sentidos pelo mercado global também ajudaram a impulsionar os resultados do setor de siderurgia, fator importante durante o processo de recuperação da Aço Cearense após a crise registrada entre 2015 e 2016.

A empresa, que possuía uma dívida da aproximadamente R$ 1,8 bilhão (principalmente com bancos), conseguiu renegociar com os credores e, agora, conta com o endividamento na faixa de R$ 800 milhões. 

"Muitas usinas diminuíram produção, a logística do mundo foi impactada e tivemos uma ruptura muito grande, lockdown na Ásia, nos principais produtores de aço da região, então criou-se um novo ambiente de negócios, mas no início da pandemia, que jogou o preço do aço para um valor de recuperação após a queda da crise de 2015 e 2016, quando estávamos pagando para vender", explicou Aline. 

"Mas as pessoas ficaram mais dentro de casa, e pensaram em construir um puxadinho, um banheiro e cuidar do espaço que elas tinham, que é a casa. Então elas consumiram muito aço e tivemos esse benefício de mercado, que colaborou muito para os resultados da Aço Cearense e do mercado de aço no mundo inteiro nos últimos dois anos. 2021 foi, disparado, o melhor ano do século para o setor de siderurgia, e encaixa a gente nesse momento de sair da recuperação judicial, estando equilibrado financeiramente", completou.

Apesar dos resultados positivos, a executiva reforçou que a empresa sempre manteve cuidados reforçados para garantir a saúde e segurança de todos os funcionários durante a pandemia. Aline ainda ressaltou as dificuldades de adaptação para o trabalho remoto e a digitalização de alguns processos durante o período, que ainda contou com operação total da produção de aço para atender o mercado da construção civil.  

Foto: Drawlio Joca

Expectativa de mercado

Olhando para o futuro, Aline projetou que 2023, ainda sendo influenciado pelo cenário de incertezas gerado pelas eleições majoritárias no Brasil, deverá ser um ano de cautela para o mercado e para a Aço Cearense.

Esse cenário não deverá impedir ou estacar investimentos que estão sendo planejados, mas demandará atenção para o cenário macroeconômico mundial.

Com possíveis crises nos mercados na Europa e nos Estados Unidos, empresas precisão de muita atenção nos próximos meses, segundo ela. Apesar das dificuldades, 2024 deverá ser um ano de recuperação da economia para a executiva.  

"Achamos que o próximo ano será de muita observação para nos preparar para surpresa do impacto de uma crise, seja na Europa ou Estados Unidos, das decisões da China, que é um gigante no mundo. Mas achamos que 2024 será um ano de retomada", disse.

Aço verde 

Enquanto projeta os cenários econômicos, a Aço Cearense também está estudando a viabilidade de investir em uma planta de produção de aço verde, que seria utilizado até no projeto de expansão da operação em Marabá. A iniciativa está sendo organizada em parceria com a Vale e deverá ter um relatório finalizado até o fim de 2023. 

A definição sobre a entrada nesse novo mercado, contudo, deverá ser anunciada apenas ao fim dos estudos de viabilidade. 

"A gente observa tudo, quando se fala em grafeno, de aço verde, até porque temos um projeto com a Vale, estudando a viabilidade técnica, financeira e operacional de construir uma planta, pensando que produziríamos um insumo que usaríamos na expansão da Sinobras", disse Aline.

"Estamos olhando para isso, mas não podemos atirar para todos os lados, até porque seria uma irresponsabilidade, então estamos com um estudo de 12 a 18 meses com a Vale sobre aço verde. Outras empresas estão explorando o hidrogênio verde, e isso dando certo, nós vamos botar isso na mesa", completou.

Legenda: Aline Ferreira destacou os planos da Aço Cearense após a recuperação judicial
Foto: Fabiane de Paula

Sucessão na companhia

Outro ponto que será amplamente discutido pela gestão da Aço Cearense é sucessão no cargo da presidência, hoje ocupado pelo fundador Vilmar Ferreira. Cotada para assumir o posto, ainda que não haja um prazo definido, Aline Ferreira falou sobre os desafios relacionados aos processos de análise do futuro da empresa. 

"O meu nome está na pauta, e estou sendo preparada para isso, mas eu tenho muita humildade, por mais que eu esteja recebendo apoio dos executivos e do CEO da empresa, que é o meu pai, eu tenho humildade para, se existir alguém melhor do que eu, a gente possa colocar essa pessoa na mesa", disse. 

"Se eu atrapalhar o crescimento do Grupo, eu atrapalho a nossa visão de ajudar o desenvolvimento do País, a vida dos nossos colaboradores, e isso está muito claro", completou.

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