Comitiva alemã se impressiona com H2V no Ceará, mas menciona detalhes 'pouco ambiciosos'; entenda

Representantes do setor privado e do governo alemão visitaram a sede da Fiec, o Porto do Pecém e projetos de hidrogênio verde

Legenda: Comitiva alemã apresentou potencialidades do mercado de hidrogênio verde no país europeu
Foto: AHK São Paulo - Albano Ribas

O Ceará está mostrando um bom potencial para fortalecer as relações comerciais com a Alemanha nos próximos anos para comercializar hidrogênio verde (H2V). Contudo, representantes da comitiva que veio ao Estado apontaram, também, caminhos mais amplos para a evolução desse mercado no cenário local. 

A visita da comitiva faz parte do projeto H2Brasil, que integra a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável e é implementado pela GIZ Brasil e pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e financiado pelo Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ na sigla em alemão). 

O H2Brasil apoia o portal H2Brasil realizado pela Aliança Brasil-Alemanha para o Hidrogênio Verde, formada pela Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo e a Câmara Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro.

Para Werner Diwald, presidente do conselho DWV, que reúne 175 empresas e 429 representantes associados, o Ceará tem todas as condições para produzir hidrogênio verde a custo baixo e competitivo para entrar no mercado global. Contudo, a perspectiva de considerar esse mercado apenas pelo lado da exportação seria "pouco ambiciosa" para membro do conselho focado no desenvolvimento de uma economia de H2V sustentável e de baixas emissões. 

A entrevista foi concedida durante evento na sede da Fiec (Federação das Indústrias do Estado do Ceará), na última quinta-feira (16).

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"O Ceará tem uma boa oportunidade para produzir hidrogênio verde, por ter muitos recursos naturais para energias renováveis, e tem criado uma estratégia para desenvolver o mercado, então é importante que garantam o primeiro projeto, que será um bom ponto de começo.O Estado também tem o Porto (do Pecém) para exportar hidrogênio e derivados, então o potencial é muito alto para produzir de forma barata e se tornar competitivo", disse.

Mas não é ambicioso o bastante olhar apenas para o setor de exportação. Eu penso que é importante olhar para o uso doméstico de hidrogênio verde como fonte de energia sem emissões de carbono, então o setor de transporte ou de aço, por exemplo, também têm o desafio de reduzir emissões e o H2V é um possível combustível para usar nesse processo, assim como o setor de mobilidade"
Werner Diwald
Presidente do conselho DWV

"Porto verde" e empregos

Outra perspectiva que poderia ser trabalhada no Ceará é usar o desenvolvimento do mercado de H2V para promover uma descarbonização do Porto do Pecém e usar o projeto como vitrine para o mundo do potencial no Estado. O cenário, além de criar uma modelo sustentável de atuação no terminal, poderia impulsionar outros setores relacionados ao combustível além da energia, como a mobilidade e a siderurgia. 

"Temos outra possibilidade também aqui no Ceará, que não tem sido observada pelo próprio terminal, que é tornar o Pecém um porto verde também, então é ótimo esforço para mostrar ao mundo como ter um terminal completamente verde, com energias renováveis, substituindo veículos pesados a combustão, por exemplo, como ônibus para os funcionários, mostrando que é uma ótima oportunidade para descarbonizar o mundo", analisou. 

A iniciativa, aliada ao já impulsionado mercado de energias renováveis, poderia servir como elemento de criação de novos empregos no Ceará, segundo Diwald. 

"Acho que é mais interessante do que só olhar pelo viés de exportação. Agora, é preciso olhar o hidrogênio mais do que como fonte de energia, temos de olhar o que ele representa para o mercado do aço e diversificar o a produção na área, e a indústria no Ceará não é tão comparável às melhores do País, e você pode usar essa indústria das energias renováveis para criar mais empregos", disse. 

"Se olharmos apenas a exportação de hidrogênio para a Alemanha, você pode criar empregos, mas não é muito ambicioso, e você tem mais oportunidades nessa área para dar ao povo no futuro", completou.

Hidrogênio verde
Legenda: Comitiva visitou os contêineres de produção de hidrogênio verde da EDP Brasil no Pecém
Foto: Kid Júnior/Diário do Nordeste

Potencial aproveitado 

Apesar das ponderações do compatriota, Catharina Horn, gerente do Programa Internacional de Soluções Energéticas da Alemanha pela NOW GmbH, ressaltou que o potencial do mercado de energias renováveis vem sendo muito aproveitados pelo Ceará. 

Segundo ela, o modelo de atuação integrado pela cooperação entre iniciativa privada, academia e setor público conseguiu gerar um cenário positivo para o desenvolvimento do cluster das energias renováveis e do hidrogênio verde de maneira única.

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"Os últimos dias foram muito impressionantes pelas atividades que vi aqui no Ceará e o projetos que estão no pipeline, considerando o cluster que está sendo construído a partir da integração das empresas, academia e setor público, que é muito único. E vimos que a mentalidade é muito mais de operação de fato, então podemos aprender", disse. 

"O Ceará enxergou o potencial das energias renováveis e o transformou em um projeto concreto, e conversamos muito sobre importação e exportação de hidrogênio verde e derivados, então isso temos muito grande potencial. Mas os representantes com quem conversamos destacaram muito a criação de valor na região, implementando os recursos aqui para produzir hidrogênio como fonte de energia, mas também com aplicações na indústria e mobilidade", completou.