Que língua é essa que o Vyni fala?

O perfil do influencer cearense no Instagram criou até o que chamam de "vocabulário caririense do cearensês brasileiro".

Legenda: Vyni, nosso representante no BBB, tem listado o vocabulário cearense na TV.
Foto: Reprodução/TV Globo

Gastrite? Não, gastura! É quando a gente sente uma coisa ruim na barriga. Por isso a gente evita comer.
Sonho? Não, soim! Soim é o nome do macaco. Atrepado. Funaré. Macaxeira.

Vyni, nosso representante no BBB, tem listado o vocabulário cearense na TV. O perfil do influencer no Instagram criou até o que chamam de "vocabulário caririense do cearensês brasileiro". 

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Realmente, o nosso jeito de falar é inspirador. Levou a cordelista Josenir Alves de Lacerda a escrever uma obra-prima da poesia popular: "O Linguajar Cearense", um cordel-dicionário.

A lista é quase sem fim
Não cabe num só cordel
Tem alpercata, alfinim
Enrabichada e berel
Chué, baé, avexado
Bãe de cuia, oi bribado
Quebra-queixo e carritel

Tem visage, sarará
Tem bruguelo e inxirido
Rabiçaca e aluá
Ispritado e zói cumprido
Bunda canastra, lundu
Dona encrenca, sabacu
Bonequeiro e maluvido

São só duas estrofes, mas até o mais cearense dos nossos conterrâneos ficaria impressionado com tanta palavra. A dama da poesia é de um talento que nos orgulha. E o nosso linguajar é rico na maneira de dar nomes às coisas e aos sentimentos.

Mas também temos riqueza na forma de pronunciar. E aí você já deve ter notado que o Ceará pode ser dividido em dois. O chamado dialeto da Costa Norte do português brasileiro é o que prevalece.

Ele é falado na maioria dos nossos 184 municípios, com destaque para a Capital. Já no sul do Estado e em alguns outros municípios, o dialeto é outro. No Cariri, por exemplo, falamos o subdialeto do interior nordestino.

Apesar desses nomes bem técnicos, todos sabemos a principal diferença entre eles: o povo do Cariri não costuma falar "tchia" e "dhia". Falamos tia e dia sem chiado. E também falam assim paraibanos, pernambucanos, potiguares e outros nordestinos que moram no Sertão. O Vyni é falante desse dialeto.

Importante pontuar que é diferente do dialeto do Recife, que é aquele falado pelo Gil do Vigor. Mas ambos não palatalizam, não chiam com T e D.

O subdialeto do interior do Nordeste é também o mais comum de ser visto na TV como uma forma de representar toda uma região. Este cronista mais experiente se lembra das novelas "A Indomada" e "Pedra sobre Pedra". Você, mais jovem, deve se lembrar de Dona Lurdes, a simpática personagem de Regina Casé que protagoniza "Amor de Mãe".

Mas, se o subdialeto do interior nordestino é o mais comum na ficção, no telejornalismo é o contrário. Ainda prevalece a tendência a usar as pronúncias que palatalizam ou que se aproximem do padrão do Centro-Sul.

Alguns precisam até mesmo recorrer a profissionais da fonoaudiologia para se adequar.
Na verdade, se o Brasil são muitos, pode-se dizer que o Nordeste também é um bocado.

Está aí o Vyni para provar que o nosso jeito de ser é um dos nossos pontos fortes. Por isso, a boa conduta é não botar boneco com o sotaque de ninguém. É preciso respeitar e celebrar a riqueza do nosso povo.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.