Pode fazer musculação menstruada? Veja como ciclo influencia prática de exercícios e dicas de treino

Sintomas como dor muscular, inchaço e cólica podem acontecer neste período e tornar atividade física desconfortável

Legenda: O ciclo menstrual, em média, dura 28 dias, podendo variar de pessoa para pessoa e até mesmo de um ciclo para outro, sendo mais longo ou mais curto
Foto: Shutterstock

Pessoas com útero podem sentir diversos sintomas, como inchaço, cólica, retenção de líquido, irritabilidade e fadiga durante a menstruação. Para alguns, esses sinais podem dificultar a prática de exercícios, por exemplo, musculação, natação e corrida. Manter a atividade física nessa etapa é indicado, mas inspira alguns cuidados.   

A professora do Instituto de Educação Física e Esportes da Universidade Federal do Ceará (IEFES-UFC), Raissa Forte, detalha que fazer exercícios gera efeitos positivos em qualquer indivíduo, e isso não é diferente durante o período menstrual, ou até mesmo no pré-menstrual. No entanto, a especialista destaca que é necessário adaptar a atividade “naqueles dias”, reduzindo, por exemplo, a intensidade do treinamento.  

Na fase pré-menstrual e menstrual a pessoa pode e deve continuar realizando atividades físicas, mas estas podem variar em intensidade, optando por intensidades mais leves. O importante é não interromper a prática de atividade física, pois a mesma traz muitos benefícios a saúde.” 
Raissa Forte
Professora do IEFES-UFC

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Exercício ideal para o período menstrual 

Para a especialista, a prática recomendada durante a menstruação é a que já é feita normalmente. Ou seja, se a pessoa costuma fazer musculação, deve continuar o treino durante esse período. No entanto, como já destacado, para alguns casos, em que os sintomas são intensos, é possível adaptar a atividade, reduzindo o número de repetições ou a quantidade de peso, por exemplo.  

Na área acadêmica, Raissa Forte afirma que os estudos científicos sobre os impactos do ciclo menstrual no desempenho esportivo são controversos, porém, alguns deles apontam que as diferenças fisiológicas, emocionais e psicológicas, características desse processo, afetam a performasse. Este é o caso da publicitária Vanêssa Souza, que relata ter sintomas desconfortáveis que a fazem reduzir a intensidade nessa época. 

Sinto às vezes cólica, mas o maior sintoma é o inchaço, os músculos doloridos e a sensibilidade, mas, até então, esses sintomas não têm sido motivos de impedimento para a prática dos exercícios. Porém, não consigo manter o ritmo com que costumo treinar. Durante esse período, é um treino mais ‘light’, com menos repetições e esforço.” 
Vanêssa Souza
Publicitária

A professora ressalta que a forma como o corpo de indivíduos com útero experiência “aqueles dias” varia, por diversos fatores, como uso de anticoncepcional hormonal ou flutuações de hormônios. Então, alguns não vão ter o desempenho alterado, mas outros sim.   

“É importante que essas pessoas tenham acesso a informações precisas, apoio médico e acompanhamento de um profissional de Educação Física a fim de atender às suas necessidades individuais e específicas para a prática de atividades físicas”, frisa.  

Influência do ciclo na motivação

O ciclo menstrual, em média, dura 28 dias. Este período varia de pessoa para pessoa e até mesmo de um ciclo para outro, podendo ser mais longo ou mais curto. Iniciando no primeiro dia de menstruação, ele é dividido em quatro etapas, que possuem características próprias que podem ou não refletir a prática de atividades físicas. 

É importante ressaltar que indivíduos que usam métodos contraceptivos como anticoncepcionais orais (pílula) e injetáveis não possuem ciclo menstrual, já que esses mecanismos de prevenção de gravidez funcionam impedindo a ovulação. Na verdade, somente usuários que não usam métodos contraceptivos ou optam pelos naturais (billings), ou pelos de barreira (camisinha, diafragmas etc), ou pelo dispositivo intrauterino (DIU) — seja de cobre ou hormonal — vão ovular e, logo, têm o ciclo completo.  

Fases do ciclo e relação delas com exercícios  

  • Menstruação (3 a 7 dias) — nessa fase há a descamação do útero quando não há fecundação. Nesse momento, os níveis hormonais são baixos e algumas pessoas podem sentir fadiga devido à perda de sangue, além de cólicas e de lombalgia (dor na região lombar), que, segundo a professora, inspiram cuidados na hora da prática de exercícios físicos.  
  • Folicular (7 a 14 dias) — essa etapa acontece logo após a menstruação e é quando o corpo começa a produzir estrogênio, estimulando o crescimento dos folículos ovarianos. Raissa Forte destaca que a elevação do hormônio nesse período pode ser associada a uma melhora no desempenho esportivo, aumentando a força muscular e a resistência. “Geralmente nesta etapa, as pessoas estão mais dispostas para realizar exercícios mais intensos”, detalha.  
  • Ovulação (1 a 2 dias) — marcando o meio do ciclo, ela acontece cerca de 14 dias antes do próximo período menstrual, e é quando o ocorre a liberação de um óvulo maduro pelo ovário. Nessa fase, pode ocorrer aumento temporário na temperatura corporal e um pico nos níveis de estrogênio. “Como consequência, pode aumentar a energia e a disposição para a prática de atividades físicas”. 
  • Lútea (10 a 16 dias) — momento em que o corpo produz progesterona, se preparando para uma possível gravidez. Porém, caso a fertilização não ocorra, os níveis hormonais começam a cair. É nessa época que algumas pessoas vivenciam sintomas pré-menstruais, como inchaço, irritabilidade ou fadiga. A especialista explica que esse período pode impactar negativamente o desempenho esportivo, assim como a motivação para se envolver em atividades físicas. 

Ou seja, segundo a professora, os melhores períodos para intensificar a prática de exercício físico é entre as fases folicular e, principalmente, ovulação.
 

"Isso pode variar de pessoa para pessoa, porque cada uma sente o ciclo de uma forma. Mas, diante de todos esses fatores, acredito que o profissional [de educação física] deve realizar a periodização do treinamento e o acompanhamento com base numa avaliação individual, e na necessidade específica da pessoa com útero diante do seu ciclo menstrual", frisa a profissional.