Economia nordestina em um ano difícil

Legenda: No Nordeste, a extensão do auxílio governamental e a normalização do setor de serviços (impacto sobre o turismo) devem favorecer a retomada, mas a alta dos juros deve prejudicar a retomada da indústria
Foto: Gustavo Pellizzon

As perspectivas econômicas para 2022 não são muito animadoras. Os economistas do Itaú projetam uma ligeira contração do PIB, de -0,5%, e o consenso de mercado, apesar de mais otimista, não vai além de 1,0%, e vem recuando nas últimas semanas. A desaceleração deve decorrer basicamente dos efeitos do aperto monetário em curso, em contexto de crescimento global mais lento.

Como fatores expansionistas, enxergamos um esperado desempenho robusto do setor agrícola, e, possivelmente, além da extensão das medidas de amparo social do governo federal, algum aumento de gastos a nível subnacional.

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Mas o saldo, ainda assim, deve ser uma economia estagnada. A estagnação decorre, em minha opinião, dos efeitos da pandemia. O choque foi muito intenso, as políticas adotadas para minimizar os impactos econômicos e sociais, conquanto necessárias, implicam custos, que serão pagos no próximo ano – a alternativa teria sido uma recessão bem mais profunda em 2020, e crescimento mais forte em 2021 e 2022, e não está claro se esta trajetória seria melhor, do ponto de vista social.

A esperada contração do PIB nacional não será observada de forma homogênea entre as distintas regiões do país. Como o principal fator contracionista será o efeito da política monetária, que deve ocasionar uma desaceleração do crescimento do crédito, a contração deve ser mais pronunciada na região cuja atividade é mais sensível a alterações das condições financeiras domésticas, em especial a indústria.

Assim sendo, esperamos recuo de 0,9% na economia do Sudeste. As regiões mais dependentes da atividade agropecuária, que deve ter um crescimento forte em 2022, devem apresentar modesta expansão ou estabilidade, 0,7% no Centro-Oeste e 0,0% na região Sul.

No Nordeste, a extensão do auxílio governamental e a normalização do setor de serviços (impacto sobre o turismo) devem favorecer a retomada, mas a alta dos juros deve prejudicar a retomada da indústria, e com isso o PIB da região deve acompanhar o movimento nacional, com queda de 0,5%.

Considerando as principais economias da região Nordeste, os efeitos citados acima, intensificando ou mitigando a contração, também irão se manifestar. O crescimento tende a ser mais forte nos estados cujas economias tiverem maior exposição ao agribusiness, e mais fraco onde a atividade industrial, voltada para o mercado doméstico, for mais relevante.

Não elaboramos projeções para estados individuais, mas uma apresentação do Banco do Nordeste, publicada em setembro passado, apontava para expansão de 2,8% no PIB baiano em 2022, 1,8% na economia de Pernambuco, 1,4% no Ceará e 1,7% no Maranhão.

Cabe notar, contudo, que o mesmo trabalho conta com um crescimento do PIB nacional de 1,7% no ano que vem, o que, no momento, parece bem otimista (e, como mencionado acima, superior ao consenso do mercado).

A sustentabilidade da retomada, nos estados, depende de vários fatores. Por um lado, a profundidade da recessão em 2020 aponta para uma retomada mais forte e prolongada na Bahia do que nos demais estados – simplesmente, a economia do estado parece ter recuado mais em 2020 e, com isso, teria mais terreno a recuperar.

Por outro, economias estaduais mais dependentes das atividades industriais voltadas para o mercado interno tendem a ser mais afetadas pelos efeitos do aperto monetário, que irá conter a demanda por bens de consumo duráveis.

A política fiscal federal, sob a forma de uma extensão do auxílio emergencial que tende a sustentar a demanda na região, deve ter efeito relevante no Nordeste.

Olhando de hoje, o ano de 2022 será desafiador para o Brasil e para o Nordeste, mas a normalização do setor de serviços, decorrente do sucesso do programa de vacinação, pode mitigar os efeitos da política monetária: será um ano difícil, mas não um ano perdido.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor



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