O Brasil caminha para encerrar 2021 com expressiva retomada da economia. No entanto, em um país tão diverso, é natural que haja diferenciação entre setores e regiões. O choque inicial da pandemia levou a uma contração muito uniforme e sincronizada, mas há bastante divergência nas trajetórias de recuperação.
Dados do IBGE mostram que o varejo foi o setor que se recuperou mais rápido da primeira onda, em parte devido à menor sensibilidade ao isolamento social, em parte devido aos estímulos implementados pelo governo.
Como o impacto do Auxílio Emergencial foi mais concentrado no Norte e Nordeste, essas regiões tiveram repiques mais intensos, saindo do pior momento, em abril de 2020, para picos de vendas em agosto do mesmo ano, significativamente acima dos níveis observados logo antes da pandemia (12,8% acima no N e 11,7% acima no NE, contra uma média nacional de 3,9%).
Essa dinâmica mais forte que a do resto do país, porém, durou relativamente pouco, uma vez que a redução dos programas de transferência de renda removeu parte do impulso em questão.
Os dados oficiais mais recentes mostram que as vendas no varejo em junho se situavam 6,8%, 4,7% e 4,0% acima de fev/20, nas regiões N, NE e Brasil, respectivamente.
O setor de serviços, mais vulnerável às necessidades de isolamento, foi o mais afetado em todo o país. Sob a ótica regional, o Norte teve contração significativamente menos intensa e recuperação mais rápida que o resto, algo que parece estar associado, principalmente, a um menor recuo da mobilidade social.
Na ponta oposta, o NE teve a maior queda e uma das recuperações mais lentas, devido a um peso mais alto de atividades como alojamento, alimentação e turismo. Em junho, as receitas das atividades de serviços da região N se situavam 13,9% acima do patamar de fev/20, enquanto no Brasil como um todo a alta era de 3,0% e no NE, de apenas 0,7%.
A combinação de real competitivo e progresso na vacinação contra o COVID-19 deve impulsionar o turismo interno no verão, o que tende a favorecer a retomada da atividade no NE.
Por fim, a indústria é onde há maior disparidade. Enquanto o varejo e os serviços mostram tendências comuns a todas as regiões, com diferenças apenas de magnitude, na produção industrial há comportamentos bem distintos da média do Brasil. No Centro-Oeste, esse descolamento se dá porque a indústria da região, muito ligada ao agronegócio, pouco oscilou durante a pandemia, enquanto o setor fazia uma trajetória profunda em formato de “V” no restante do país.
O NE seguiu a tendência nacional num primeiro momento, mas começou a ficar para trás ao final de 2020, e acumulou queda expressiva no primeiro semestre desse ano, muito afetada pelos gargalos enfrentados pelas fábricas de veículos (falta de semicondutores), que têm peso importante na região.
O Norte também segue esse padrão, ainda que de forma menos intensa, provavelmente devido aos efeitos dessa mesma escassez sobre o polo industrial de Manaus. Em junho, a produção industrial do Brasil se situava exatamente no mesmo patamar de fev/20, enquanto a do N estava 9,1% abaixo e a do NE era 15,7% menor que antes do choque.
O PIB brasileiro deve crescer 5,3% em 2021. O Norte deve liderar com alta de 6,8% e o Nordeste deve ficar próximo a média nacional, com 5,4%.
Já em 2022, o cenário deve se tornar mais desafiador. A elevação em curso das taxas de juros, aliada à redução do gasto público e ao menor ritmo de expansão da economia global devem levar o PIB brasileiro a crescer apenas 0,5%. Passado o choque da pandemia, haverá menos espaço para divergência e as regiões NE e N não devem escapar dessa desaceleração, crescendo, respectivamente, 0,9% e 0,6%.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.