A economia mundial deve experimentar um crescimento vigoroso em 2021, em parte fruto da normalização da atividade do setor de serviços, decorrente do progresso das campanhas de vacinação, e em parte em função de doses massivas de estímulos fiscais e monetários. Os economistas do Itaú projetam um crescimento do PIB global em 6,0% em 2021.
Mas a mesma equipe espera crescimento mundial de apenas 3,9% em 2022. A esperada desaceleração deve decorrer do impacto contracionista da elevação dos preços internacionais de petróleo e outras fontes de energia, da redução dos estímulos fiscais, do atual aperto monetário (que está longe de se restringir ao Brasil) e também das dificuldades na economia chinesa. A desaceleração global deve impactar o Brasil por vários canais, sendo o comércio exterior o mais direto.
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A economia do Nordeste também será, inevitavelmente, afetada. E o impacto tende a ser maior naqueles estados onde a exportação representa uma fatia maior do PIB. Vamos considerar nessa coluna o desempenho exportador dos estados nordestinos e as possíveis implicações da desaceleração global para as exportações e a atividade no próximo ano.
Em primeiro lugar, cabe registrar que, segundo estimativas do Itaú, as principais economias da região, Bahia (28% do PIB regional), Pernambuco (19%), Ceará (16%), Maranhão (10%), também são responsáveis pela parcela dominante das exportações regionais (91% do valor total em 2020, sendo 49% apenas na Bahia). O total exportado pela região em 2020 atingiu $16,1 bilhões, apresentando queda de 4% ante o valor exportado em 2019. Nesse ano, com dados até setembro, as exportações já atingem $15,5 bilhões, e devem mostrar forte crescimento ante o ano passado, que concentrou os efeitos econômicos mais severos da pandemia.
As dúvidas e preocupações referem-se ao desempenho exportador da região em 2022. Como o real, sob a influência de incertezas domésticas e perspectiva de aperto monetário nos EUA, deve se manter em patamar desvalorizado, considerando a ausência de restrições de oferta e crescimento fraco da economia brasileira, que deve limitar a expansão da demanda interna, as perspectivas para as exportações regionais devem depender de forma crítica da evolução da demanda externa.
A Bahia, maior economia e maior estado exportador do Nordeste, vende ao exterior uma ampla gama de produtos, mas sua pauta é dominada por soja (17% do total), óleos combustíveis (15%), celulose (13%) e ouro (5%). Dada a pauta diversificada e com componentes que tendem a ter baixa sensibilidade em relação ao PIB global, as exportações baianas devem mostrar alguma resiliência.
A pauta exportadora de Pernambuco é ainda mais diversificada. Os principais produtos vendidos em 2020 foram óleos combustíveis (28% do total), frutas e nozes (12%), açúcares e melaços (10%), veículos para passageiros (8,8%), poliésteres e resinas (8,7%) e veículos de cargas (6,9%). Trata-se de uma pauta que pode ser algo mais sensível ao ciclo de negócios global, ainda que a relevância de produtos derivados de petróleo seja um fator positivo.
O Ceará, terceira economia da região, tem uma pauta menos diversificada e, aparentemente, mais sensível às flutuações da demanda externa. Quase 60% das exportações cearenses, em 2020, corresponderam a produtos semi-acabados de ferro ou aço, 7,9% foram vendas de calçados, 7,2% de geradores elétricos, e 5,6% de frutas e nozes.
Finalmente, o Maranhão é o quarto PIB do Nordeste, mas é o segundo maior estado exportador, respondendo em 2020 por 21% das exportações totais da região. Sua pauta é razoavelmente diversificada, liderada pela alumina (31%), seguida por soja (23%), celulose (15%) e minério de ferro (11%).
Considerando as perspectivas para a economia mundial, cabe apontar que a pauta exportadora do Ceará e, em menor medida, Maranhão, deve mostrar maior desaceleração devido à sensibilidade em relação ao ciclo global.
Mas o impacto do desempenho exportador sobre as economias regionais depende da relevância de tais atividades para o PIB. E, segundo as estimativas do Itaú, as economias regionais têm exposição heterogênea à economia global.Enquanto na média da região essa participação é de 8%, as exportações correspondem a parte relevante do PIB no Maranhão e na Bahia (18% e 15%, respectivamente), enquanto equivalem a apenas 6% do PIB cearense e 4% do produto pernambucano.
Levando em conta a exposição da pauta exportadora à economia mundial, e o peso das exportações sobre o PIB, é razoável esperar que a economia maranhense, entre as principais da região, seja a mais vulnerável à esperada desaceleração de 2022, ao passo que o peso limitado da demanda externa no PIB cearense e pernambucano deve limitar tal vulnerabilidade.
As exportações têm peso mais relevante na economia baiana, mas a demanda global por produtos derivados de petróleo, que deve crescer em torno de 4% em 2022, deve atuar para sustentar suas vendas externas.