A recuperação do mercado de trabalho no Nordeste

Legenda: Ceará é o único estado da região que registra ganhos de emprego ante o pior momento da crise, mas com total emprego ainda inferior ao observado no período pré-pandemia
Foto: Natinho Rodrigues

A julgar pelo comportamento da taxa de desemprego, o mercado de trabalho brasileiro tem melhorado vigorosamente desde o final de 2020, após uma piora aguda quando do começo da pandemia.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral (PNADCT) do IBGE (com ajuste sazonal do Itaú) para o segundo trimestre deste ano mostram que a taxa de desemprego saiu de 11,7% ao final de 2019 para 14,8% um ano depois, retornou para 11,7% ao final de 2021 e atingiu 9,1% em junho passado.

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Tais movimentos ocorreram em todas as regiões do País. A primeira fase foi marcada pelo impacto inicial da pandemia e pela deterioração do mercado de trabalho, evidenciada pela alta do desemprego. A taxa de desemprego subiu 3,8 pontos percentuais no Nordeste, para 18,4%, e 3,7 p.p. no Sudeste, para 15,8%, e teve incrementos menores, mas ainda assim significativos, nas demais regiões.

A segunda fase, desde então, foi de recuperação. A taxa de desemprego caiu 6,6 pontos no Sudeste, para 9,2%, e 5,9 p.p. no Nordeste, para 12,5%, a redução do desemprego foi também particularmente intensa no Centro-Oeste.

As razões para essa redução da taxa de desemprego são várias, e ainda objeto de debate entre os economistas, mas provavelmente incluem os efeitos dos estímulos de política econômica, aspectos setoriais, bem como algum impacto da reforma trabalhista de 2017.

Considerando os maiores estados da região Nordeste, o padrão se repetiu. Na primeira fase, o desemprego subiu de 17,2% para 21,4% na Bahia, de 14,8% para 20,1% em Pernambuco, de 10,9% para 15,3% no Ceará e de 13,7% para 16,2% no Maranhão.

A taxa de desemprego apresentou redução em todos os estados, desde o final de 2020, com quedas mais expressivas em Pernambuco (6,3 pontos percentuais) e na Bahia (6,2 p.p.), para 13,8% e 15,2% respectivamente.

Mas a taxa de desemprego mostra um aspecto, a intensidade da busca por trabalho. Além da taxa de desemprego, o estado do mercado de trabalho deve ser acompanhado por indicadores adicionais, como emprego e renda.

O impacto inicial da pandemia sobre o emprego foi severo: uma redução de 8,4 milhões de postos, sendo 2,1 milhões no Nordeste. Desde então, o País vem conseguindo criar um número expressivo de vagas, 13 milhões de empregos, sendo 6,3 milhões no Sudeste e 3,1 milhões no Nordeste.

Considerando a economia nacional, o emprego apresenta incremento de 4,6 milhões (cerca de 5%) em relação a dezembro de 2019, sendo 912 mil postos no Nordeste (um ganho de 4,3%). Não supreendentemente, dado seu tamanho, a Bahia foi o estado que criou mais empregos, 947 mil desde dezembro de 2020, 320 mil ante o contingente empregado em dezembro de 2019.

Houve robusta criação de emprego também no Maranhão e, em menor grau, em Pernambuco, ao passo que o Ceará é o único estado da região, segundo os dados do IBGE, que registra ganhos de emprego ante o pior momento da crise, mas com total emprego ainda inferior ao observado no período pré-pandemia – especificamente, o estado perdeu 500 mil empregos no início da pandemia, e recuperou apenas 400 mil desde o final de 2020.

A situação do mercado de trabalho aparece com uma luz menos favorável no que se refere à renda real. Segundo o IBGE, a massa de rendimentos reais de todos os trabalhos caiu 10% no primeiro ano da pandemia, no País, e recuperou 9% desde então. O caso do Nordeste é pior, com queda de 12% no início da pandemia, e recuperação de 8% desde o final de 2020.

Entre os principais estados, a maior queda, desde o início da pandemia, mais especificamente entre dezembro de 2019 e junho de 2022, foi em Pernambuco (14%), seguido pelo Ceará (13%) e Bahia (9%).

No caso do Ceará, tanto a geração de empregos quanto a evolução dos salários reais têm impactado a massa salarial real. Nos demais estados, o que tem ocorrido é um efeito negativo da queda do salário real que mais que compensa o efeito positivo da criação de empregos.

Em suma, não apenas o impacto da pandemia sobre o emprego, mas, mais recentemente, a erosão que a inflação alta ocasiona nos salários reais, têm limitado o ganho de bem-estar derivado da queda da taxa de desemprego, tanto na economia nacional, como nos principais estados do Nordeste.