Que o esporte influencia a formação de uma pessoa, isso já não é novidade, seja em caráter, opinião, socialização... Um atleta profissional, de alcance nacional, tem que saber que viver de esporte não é apenas entrar em quadra e desempenhar o seu papel ali, mas ter a consciência de que o que é feito fora é também espelho para muitos.
Na era das redes sociais, o cuidado com as palavras se tornou imprescindível. A liberdade existe, mas esse direito perde o sentido se fere o direito do outro de não ser ofendido e/ou agredido.
O exemplo mais recente de quando um atleta virou manchete não por seus feitos em quadra, mas por suas manifestações desrespeitosas, aconteceu com o meio de rede, Maurício Sousa, atualmente atleta do Fiat/Gerdau/Minas. No último dia 12, ele publicou para mais de 200 mil seguidores do Instagram uma crítica com teor homofóbico, em relação à divulgação do novo Superman ser bissexual.
Praticamente duas semanas depois, na última segunda-feira (25) é que o clube de Maurício resolveu publicar uma nota dizendo não acordar com tal tipo de manifestação. Os patrocinadores da equipe também se manifestaram, nesta terça-feira (26), após a repercussão em torno do assunto ter aumentado.
O fato é que a pressão causada pela comoção do público encurralou o clube a tomar uma decisão mais efetiva, apenas um comunicado não seria suficiente. Ou Maurício se retrataria ou sua situação ficaria insustentável. Além de multa e afastamento por tempo indeterminado, o atleta se retratou. Mas a verdade é que não pareceu nada mais do que estar cumprindo uma ordem para manter seu emprego. Escolheu a rede social em que àquela altura tinha apenas 51 seguidores, o Twitter, em vez de utilizar a mesma em que publicou o post ofensivo. Post esse que nem sequer foi apagado, está lá reafirmando a verdadeira opinião de Maurício.
Pessoal, após conversar com meus familiares, colegas e diretoria do Clube, pensei muito sobre as últimas publicações que eu fiz no meu perfil. Estou vindo a público pedir desculpas a todos a quem desrespeitei ou ofendi, esta não foi minha intenção. pic.twitter.com/oJ20loqbgj
— mauricio luiz souza (@mauriciovolei1) October 27, 2021
Em um País de memória curta, o que o Minas espera é que ‘cumprida a tabela’ da retratação, Maurício possa voltar à quadra em momento oportuno na Superliga, que acabou de começar.
Apesar de tudo, situações como essa são importantes para entender quem são os ‘ídolos’ do esporte, atualmente. A polêmica gerou manifestações de jogadores como Carol Gattaz, Douglas Souza, Maique Reis, além das ex-atletas, bicampeãs olímpicas, Sheilla Castro e Fabi Alvim.
Desde a intensificação da polarização política no Brasil, em 2018, episódios em que os atletas expressam claramente a opinião nesse sentido vêm gerando repercussão, com pesos diferentes, não há como deixar de observar.
Ainda em 2018, durante o mundial de vôlei masculino, o mesmo Maurício Souza e Wallace apareceram em uma foto fazendo o número 17, do então candidato à presidência, Jair Bolsonaro. Na época, a Confederação Brasileira de Vôlei disse, em nota, repudiar manifestações discriminatórias, além de não compactuar com manifestações políticas e acreditar na liberdade de expressão.
Condução diferente teve o caso da atleta do vôlei de praia, Carol Solberg, que, no ano passado, durante entrevista, em etapa do Circuito Brasileiro se manifestou com ‘Fora Bolsonaro’. A atleta chegou a ser advertida e foi a julgamento no Superior Tribunal de Justiça Desportiva, onde foi absolvida em 2ª instância. Fica a questão, dois pesos, duas medidas?
Quando a opinião agride, ofende ou causa qualquer tipo de dano, deixa de ser apenas opinião. Afinal, como diz a célebre frase do filósofo inglês Herbert Spencer "A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro".
O que acontece no meio esportivo é reflexo do que vivemos em sociedade e reflete em muita gente. Debater ideias, situações, opiniões é válido, sempre. Mas é preciso saber se posicionar e entender que nem tudo hoje em dia se resume a ‘opinião’. Há vezes que o comentário ‘opinativo’, pode ser crime e causar danos profundos em quem já lida constantemente com esse tipo de conteúdo.