Principal nome do trap no Brasil, o cantor Matuê começa o primeiro projeto de festa da carreira neste mês. Ele escolheu como ponto de início da label a terra natal, Fortaleza — onde ele montou um dos estúdios da produtora 30praum. Em entrevista exclusiva à coluna, o cearense revelou o planejamento de trazer artistas internacionais ao Brasil.
"O meu plano não é só mostrar a força que o trap tem dentro da nossa região de Fortaleza, mas trazer essa infraestrutura para o Nordeste todo. Eu quero poder levar esse evento nas grandes capitais do Nordeste: Recife, Salvador, São Luiz, por aí vai. Fidelizar esse público, entendeu? Realmente, mostrar que além do forró, que é uma cultura muito rica nossa, tem o rap".
Matuê aponta que o mercado voltado ao trap ficou muito ligado aos shows programados, anualmente, ao sul do mapa brasileiro. "Muitas vezes os artistas estão voltados com trabalhos ao sudeste. Eu, por exemplo, trabalhei boa parte da minha carreira, mas sigo em Fortaleza até hoje. É um paradigma que a gente tenta quebrar com esses eventos".
Estamos tentando mostrar realmente que levamos a sério. Fora isso, vem também de um movimento de autonomia que parte do hip-hop em si.
Intitulado "Plantão", o evento que leva a assinatura da produtora de Matuê surge como mais uma oportunidade para trazer shows de nomes internacionais da música ao Brasil.
A coluna questionou o interesse de Matuê em negociar shows internacionais, e ele não escondeu o planejamento.
"Acho que você já tá com feeling, João. 100% de probabilidade. Agora, tem um grande porém nisso. O hip-hop nacional tem ganhando uma expressividade muito forte e artistas nacionais conseguem disputar, em termo de números, com artistas internacionais. A gente quer fazer isso acontecer da maneira correta".
A iniciativa de Matuê e demais artistas da produtora do cearense em iniciar uma festa própria nasceu por uma demanda do mercado da música. São inúmeros empresários de outros gêneros que fazem festas de trap pelo País.
Crítico, Matuê aponta que viu uma necessidade de arquitetar uma própria label por entender que os fãs e os artistas do segmento podem ser melhores atendidos.
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"A gente tem muito mais contato com nossos fãs, a gente sabe o que eles precisam e querem. Tomando com o exemplo o REP Festival, a gente vê que muitas vezes o empresário de fora, que não tem contato com o rap, ele vai fazer uma pesquisa superficial do que é o artista que tá no topo ali, do que é o que fã quer, muitas vezes não vai atender a vontade desse público", ressaltou o cearense.
O REP Festival, que aconteceu em Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro, cancelou todas as atrações, em edição de fevereiro deste ano, depois de um sábado marcado por falhas de estrutura, lama, sapos e cobras no meio do público, e muitas reclamações nas redes sociais.
Para o primeiro projeto de label, Matuê diz ser aberto para negociação com todos os que desejam investir. "A gente tá aqui para fazer negócio bom. Se for um empresário de boa índole, estiver disposto a sentar com a gente e conversar... envolver um bom projeto. A gente quer proteger os interesses dos nossos artistas e fãs, em primeiro lugar, sempre. Entendeu? A mesa tá aberta para fazer negócios".
O cearense aponta que negociações com empresários do samba, sertanejo, forró, além do próprio hip-hop e da música eletrônica, são uma realidade na rotina da produtora. "Justamente para fazer uma troca de experiência, montar negócios, mas sempre com nossa autonomia".