Wilson Witzel queria um palanque e encontrou na CPI da Pandemia

O espetáculo dantesco do depoimento do ex-governador depõe contra os trabalhos da comissão

Legenda: De posse de um habeas corpus, o ex-governador disse o que queria e foi embora quando as perguntas incomodaram
Foto: Pedro França/Agência Senado

O ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, cassado por denúncias de corrupção, usou a CPI da Pandemia como um palanque para fazer a própria defesa no processo de impeachment que sofreu no seu Estado.

Após o Brasil virar as costas para a querela paroquial carioca, o ex-governador se aproveitou da grande audiência da CPI para dizer que houve "perseguição" e "conspiração" contra sua gestão e que boa parte disso foi culpa do presidente Jair Bolsonaro.

E você, caro leitor, deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com as investigações sobre a Covid-19? Absolutamente nada.

Com um habeas corpus debaixo do braço que o permitia silenciar em casos que considerasse prejudicar a sua defesa, ex-governador fez o previsível: foi à CPI atacar seus adversários e ex-aliados da família presidencial, com quem caminhou de mãos dadas para a vitória nas urnas em 2018. 

O depoimento do ex-governador acabou sendo um espetáculo circense que depõe contra os trabalhos da CPI.

Witzel, que diz querer voltar para a política, procurava um palco e encontrou. A CPI se deixou usar para um desabafo completamente despropositado.

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O que disse em acusação ao governo Bolsonaro ou ao presidente em si não conseguiu se aprofundar e trazer elementos concretos.

Um discurso meramente político, que contou com a complacência do relator Renan Calheiros que, em várias oportunidades, levantou a bola para Witzel cortar contra seu desafeto, Flávio Bolsonaro. Este, por sua vez, acompanhou tudo, interrompendo e contribuindo para o tumulto dos trabalhos. 

Após o espetáculo dantesco, o ex-governador simplesmente resolveu ir embora, evitando responder perguntas sobre os desmandos apontados pelas autoridades competentes durante seu governo, e desmoralizando a CPI.

Para não dizer que não houve nada que indicasse algo de produtivo, declarou que há organizações sociais que criaram uma máfia da saúde no Rio e que o atual governador manteve os contratos. Também nesse caso, sem dar mais detalhes.

Se topar ouvir agentes políticos da envergadura de um governador ou ex-governador de Estado sem as amarras legais de uma convocação, a CPI será, mais uma vez, desmoralizada.

Não é possível um “convidado” usar a comissão de palanque e provocar senadores, num bate-boca totalmente improdutivo e desrespeitoso. 

Sem carta branca  

Até o momento, a Comissão tem levantado informações importantes, isso é inegável. É por meio dela que o País tem descoberto, em detalhes, a demora na compra de vacinas que custou milhares de vidas. Mas não se pode deixar que a oposição a Bolsonaro contamine o carater minimamente técnico que a CPI precisa ter, mesmo sendo claro que há em qualquer comissão desta natureza, um caráter político. Completamente lamentável o episódio.