Vias de parto: os limites entre a abordagem médica e o desejo da mãe
Na humanização do parto, a conduta adequada é aquela que garante o bem-estar da mãe e do bebê
Durante uma gestação, cada avanço semanal deixa o encontro mais próximo. O que acontece depois do parto? Confesso que eu não parei para pensar. Estar com o filho nos braços já cumpre toda a nossa demanda física e afetiva. Ninguém espera que as complicações aconteçam, mas elas existem.
Minha gestação evoluiu como esperado. Eu desejava ter um parto normal - nem gosto de chamar assim, o termo correto é vaginal - normal é o que garante o bem-estar da mãe e do bebê. O meu objetivo era segurar minha filha nos braços. Faria qualquer coisa para trazê-la ao mundo em segurança. Tive que viver cada etapa com um medo diferente.
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A influenciadora Viih Tube passou por uma cesária de emergência. Três dias depois da chegada do segundo filho, a mãe do Ravi precisou ser internada na UTI para receber uma transfusão de sangue, após sofrer uma intercorrência pós-parto.
“Foram 19 horas de trabalho de parto ativo, eu dilatei os 10 cm. Na fase do expulsivo, virou uma cesária de emergência.” revelou a ex-BBB.
Viih Tube teve a primeira filha de parto cesariano e tentava a experiência do parto vaginal. Informações divulgadas, o desejo da mãe e até a conduta da equipe médica foram alvo de questionamentos nas redes sociais. Conversei com a obstetra Caroline Heimbecker sobre essa relação entre médico e paciente na preparação para o parto.
“A abordagem correta para a escolha da via de parto deve ser conversada com a paciente de forma detalhada. É preciso analisar o desejo da paciente e o exame físico. Saber se ela tem fatores de risco para o parto vaginal ou cesariano. Se a mulher tem interesse no parto vaginal, que tem menor risco de infecção hospitalar e tem melhor evidência de recuperação, tentaremos realizar com um plano de parto, mesmo tendo uma cesárea anterior”
Complicações no pós-parto
O sangramento pós-parto, de fato, assusta. Depois que a Beatrice nasceu, lembro que recebi o atendimento de algumas enfermeiras, que acompanhavam e verificavam o fluxo de sangue. Por alguns instantes fiquei preocupada, mas depois a profissional me disse que estava tudo bem, a quantidade estava normal e logo eu iria para o quarto. Tudo foi como esperado, sem complicações.
Voltando para o caso da Viih, Caroline destacou que nem sempre o tempo corresponde somente ao trabalho de parto ativo - a partir de 5 cm de dilatação. Antes, tem a fase de pródromos - contrações irregulares e espaçadas, às vezes durante a semana inteira. Na sequência, vem a fase latente – que é a mais demorada. As contrações podem vir acompanhadas de dor, mas ainda não são regulares. Só então é que começa a fase ativa.
Comentei com a profissional de ginecologia sobre a cesária anterior com menos de 18 meses e as chances de sucesso para o parto vaginal, um recorte sobre a gestação da influenciadora digital. Caroline reforçou a necessidade de avaliar a ausculta a cada 5 minutos de forma detalhada.
“Se o parto for espontâneo, tem mais chance de dar certo. O risco de complicações aumenta em casos de indução. Se o bebê está com boa vitalidade, é indicado prosseguir com o parto vaginal. Porém, se o colo uterino não evolui como esperado, demora agora umas quatro horas para aumentar um centímetro, então sinal de alerta. Essa demora na dilatação do útero aumenta o risco de rotura uterina. Mesmo fazendo a cesária de emergência, a paciente pode ter hemorragia após o parto.”
Rotura uterina é uma complicação obstétrica grave que consiste no rompimento do útero, parcial ou total, durante a gravidez ou no parto. É uma emergência que requer tratamento imediato
Revisitando o dia do meu parto
Fiquei de 6h às 16h com dores bem suportáveis, em casa mesmo. Depois começou a apertar e fui para o hospital. Cheguei por volta de 17 horas e, após o exame de toque, descobri que estava com 5cm de dilatação - a dor ficou mais intensa porque eu estava em trabalho de parto ativo. Fui até às 22 horas para dilatar 10cm e fiquei pouco mais de 2 horas no período expulsivo. Fazendo alguns cálculos, meu tempo de trabalho de parto ativo foi de aproximadamente 8 horas.
Na contramão de muitas mães que vivem a experiência da primeira gestação, eu tinha medo de evoluir para uma cesária. Não é nem questão de preferência, qualquer tipo de cirurgia me causaria a mesma sensação de angústia e desconforto. É preciso ter preparação para encarar essa etapa da maternidade, parte física e mental. Com a indicação correta, a cesariana pode salvar a vida da mãe e do bebê.
Faça boas escolhas
Escolher a vida de parto envolve um acompanhamento multidisciplinar capaz de determinar se a mãe possui condições de saúde que garantam o bem-estar dos dois, não há espaço para romantização. Caroline Heimbecker reforça que o peso do bebê, os batimentos cardíacos, a pressão arterial da mãe e as avaliações médicas são fatores cruciais na decisão de prosseguir com o parto vaginal ou optar por uma cesariana. Riscos de intercorrências podem ocorrer nos dois casos.
Acredito que as boas experiências preparam melhor a gestante para acreditar ou aceitar o parto que está por vir. Umas sentem mais dores, outras suportam melhor. No meu caso, a experiência foi tranquila, mas eu sei que outras mulheres carregam traumas. Quem devemos escutar? Não existe disputa nessas afirmações! O relato é a nossa intimidade, parte do que construímos ao longo da vida e da gestação. Não deixe que a insegurança te transporte para mitos e medos externos.
Conselho de uma mulher que já experimentou o parto: procure profissionais alinhados com o que você acredita e que inspiram confiança. Em algum momento, decisões importantes serão tomadas e esse será o momento em que a sua escolha fará toda a diferença. Converse com o profissional que te acompanha e tire todas as suas dúvidas. Ninguém nasce sabendo como parir, nem tudo é intuição. Prefira seguir com o repertório adequado. O protagonismo deve ser exercido com responsabilidade.