Ando refletindo sobre o padrão de perfeição imposto diariamente para a mulher-mãe. Seja no ambiente virtual ou na rotina do dia a dia, o julgamento sempre aparece. O que é ser uma boa mãe? Existe definição? Tem preparação para esse papel importante? Não quero ser um modelo de mãe, mas continuo escrevendo minha história.
Para conseguir sobreviver ao desfile de corpos e vidas perfeitas nas redes sociais, sigo um pensamento: absorver uma culpa ou comparação a partir da realidade do outro, não faz sentido! Essa tendência de edição instantânea, não respeita o curso natural da vida.
Todo dia o ambiente materno carrega suas dores pessoais, obrigações e escolhas, parece que a gente não tem muito tempo para refletir sobre os nossos limites. Esse “erro programado”, acaba abrindo espaço para a autocobrança. O repertório do outro pode fazer você cair na armadilhar de aceitar que não é boa o bastante.
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Na contramão dessa exposição nas redes sociais, também encontramos espaço para partilhar situações. É o sentimento de pertencer a uma comunidade, de ser ouvida, compreendida, de ter voz ativa e representar milhares de outras mulheres que compartilham da mesma experiência. Sigo refletindo sobre os limites dessa conexão.
O posicionamento em uma rede social tem o poder de impactar a dinâmica das relações sociais, da criação dos nossos filhos, da nossa postura no mundo digital e real. Com essa inquietação e depois de algumas pesquisas, encontrei a tese de mestrado da psicóloga Bruna Monteiro Hallak. Ela desenvolveu um estudo que analisou entrevistas com mães de crianças de até cinco anos, consumidoras de conteúdo sobre maternidade nas redes sociais. O mercado da maternidade foi um dos pontos observados.
“Muitas mães se diziam frustradas ao ver tantas consultorias com promessas milagrosas, ofertando uma maternidade mais fácil. Algumas compravam os cursos porque estavam desesperadas com a questão do sono, da alimentação, da rotina do bebê. Quando tentavam colocar em prática e não dava certo, a resposta do consultor era: você que não soube aplicar. A motivação para o consumo era sempre fazer o melhor para os filhos.”
Na pesquisa, Bruna também identificou a rede social como lugar de informação acessível, que ajudou muitas mães na correria diária. Os laços virtuais reforçaram um ambiente de troca de experiências, sem deixar de pontuar a necessidade de filtrar os conteúdos. Importante lembrar que o espaço não fica isento de críticas e julgamentos.
“A mãe pode ficar presa às imagens, quando vê uma blogueira que dá alimentos com cinco cores no prato, que brinca, que faz disciplina positiva, que pode oferecer os melhores produtos, que tem uma grande rede de apoio ou que voltou para o corpo de antes, pouco depois do parto. Essa não é a realidade da grande maioria.”
Entre os depoimentos, a pesquisadora destacou a fala de uma participante que tentou todos os cursos e promessas nas redes sociais. Só começou a dar certo quando a mãe passou a olhar para o filho como sua realidade em construção. Aquela mistura de instinto materno e conhecimento adquirido. Eu logo pensei nos processos da vida. São tantos que a gente passa. Na maioria você acha que não vai dar conta, mas até isso faz parte da nossa evolução.
O que apareceu muito na pesquisa é que há um apagamento da mulher na mãe, do feminismo, das mulheres no mercado de trabalho. Todas as teorias parecem colocar um foco muito central na criança e isso traz mais sobrecarga para a mãe que precisa seguir tantos protocolos, que acabam ficando exaustas na tentativa de fazerem o melhor. A mulher fica ali de canto, escondida na dimensão mãe
Existe uma carga complementar que as redes sociais, a sociedade e a autocobrança podem trazer para a realidade materna, que ainda carrega o estigma em torno dos transtornos mentais no período perinatal. Muitas mulheres têm receio de buscar ajuda, temendo serem julgadas como incapazes de cuidar de seus filhos. Esse silêncio pode levar ao agravamento do quadro e, em casos mais extremos, ao suicídio materno.
“Cerca de uma em cada cinco mulheres terá um episódio de saúde mental durante a gravidez ou no ano após o nascimento do bebê, como depressão, ansiedade, ou transtorno obsessivo-compulsivo.” OMS
Em um cenário onde as taxas de adoecimento mental continuam crescendo, não podemos descuidar do nosso bem-estar e da busca pelo equilíbrio. Quando a carga pesa, a prioridade é buscar ajuda profissional. Um ato de coragem por você e para a sua família.
Eu continuo na tentativa de trilhar um caminho mais leve, acolhendo as minhas particularidades. Ser mãe em um mundo contemporâneo é viver um dia de cada vez e aprender junto no processo. Respeite os limites da sua exposição no mundo digital e fique atento a influência de determinados conteúdos que você consome. Será que vale a pena? Acrescenta algo importante? Como você se sente? Reflita!