O corpo inflável do estilista Marc Jacobs

No dia 30 de junho, o estilista Marc Jacobs levou 19 looks que brilharam na New York Public Academy. A coleção “Beauty” fala sobre um corpo que só existe na cabeça do estilista - e fora dela também.

Escrito por
Elaine Quinderé verso@svm.com.br
(Atualizado às 08:25)
Legenda: Designers vão fazer peças oversized, brincar com esses corpos irreais, mas simplesmente não vão fazer peças plus size
Foto: Divulgação

Beleza é o nome do último desfile de Marc Jacobs e é, além de tudo, um estudo sobre a ideia de corpo na moda. Foram pouco mais de quatro minutos de passarela na Biblioteca Pública de Nova York, e o estilista apresentou silhuetas distorcidas, barrigas salientes, mangas hiperbólicas e quadris acolchoados de desenho em quadrinho… Corpo “fora de forma”, para uma indústria que segue ditando o que é o estar em forma.

O estilista é conhecido pelo seu estilo dramático e teatral, e nessa coleção cria uma imagem de beleza que beira a caricatura. A maquiagem desenhada por Pat McGrath parece saída de um pesadelo animado: lábios colados, olhos com pontos gráficos, pele sem expressão. Os cabelos se empilham como torres góticas, e os vestidos lembram armaduras de espuma.

É um desfile visualmente hipnotizante, mas que espelha perfeitamente a realidade atual da moda.

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“Beauty” é uma provocação? Sim, mas acho que também é uma fuga. Em vez de propor o corpo típico das modelos, ele escapa para o que parece uma fantasia, para a abstração do feminino. Isso seria louvável se o campo da moda não estivesse saturado de corpos invisíveis: mulheres gordas, velhas, com deficiência, trans.

Para mim é um pouco frustrante ver um desfile assim ganhar tanta projeção e o adesivo de “don’t touch, it’s art”, quando a moda plus size que realmente veste esse corpo irreal do Marc Jacobs perde tanto, especialmente aqui no Brasil.

Coleção de Marc Jacobs foi apresentada em desfile na Biblioteca Pública de Nova York
Legenda: Coleção de Marc Jacobs foi apresentada em desfile na Biblioteca Pública de Nova York
Foto: Divulgação

É artístico, belo e peculiar vestir esses corpos hiperbólicos em modelos magérrimas, mas é incapaz de criar um peça no tamanho 50.

É a confirmação daquela velha máxima: designers vão fazer peças oversized, brincar com esses corpos irreais, mas simplesmente não vão fazer peças plus size.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora

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