O corpo inflável do estilista Marc Jacobs
No dia 30 de junho, o estilista Marc Jacobs levou 19 looks que brilharam na New York Public Academy. A coleção “Beauty” fala sobre um corpo que só existe na cabeça do estilista - e fora dela também.

Beleza é o nome do último desfile de Marc Jacobs e é, além de tudo, um estudo sobre a ideia de corpo na moda. Foram pouco mais de quatro minutos de passarela na Biblioteca Pública de Nova York, e o estilista apresentou silhuetas distorcidas, barrigas salientes, mangas hiperbólicas e quadris acolchoados de desenho em quadrinho… Corpo “fora de forma”, para uma indústria que segue ditando o que é o estar em forma.
O estilista é conhecido pelo seu estilo dramático e teatral, e nessa coleção cria uma imagem de beleza que beira a caricatura. A maquiagem desenhada por Pat McGrath parece saída de um pesadelo animado: lábios colados, olhos com pontos gráficos, pele sem expressão. Os cabelos se empilham como torres góticas, e os vestidos lembram armaduras de espuma.
É um desfile visualmente hipnotizante, mas que espelha perfeitamente a realidade atual da moda.
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“Beauty” é uma provocação? Sim, mas acho que também é uma fuga. Em vez de propor o corpo típico das modelos, ele escapa para o que parece uma fantasia, para a abstração do feminino. Isso seria louvável se o campo da moda não estivesse saturado de corpos invisíveis: mulheres gordas, velhas, com deficiência, trans.
Para mim é um pouco frustrante ver um desfile assim ganhar tanta projeção e o adesivo de “don’t touch, it’s art”, quando a moda plus size que realmente veste esse corpo irreal do Marc Jacobs perde tanto, especialmente aqui no Brasil.
É artístico, belo e peculiar vestir esses corpos hiperbólicos em modelos magérrimas, mas é incapaz de criar um peça no tamanho 50.
É a confirmação daquela velha máxima: designers vão fazer peças oversized, brincar com esses corpos irreais, mas simplesmente não vão fazer peças plus size.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora