Moda como mensagem e roupa como grito: os looks mais políticos do Emmy 2025
O Emmy Awards nos mostrou, mais uma vez, com o tapete vermelho é muito mais que apreciar roupas bonitas. É também um palco onde o artista pode (e deve) se posicionar sobre aquilo que acredita.
Na noite de domingo (14), o tapete vermelho dos Emmy Awards parecia uma galeria de cartazes em forma de alta costura. Vestidos, joias, silhuetas, tudo foi arma simbólica. O que mais marcou não foi o que brilhou, mas o que se disse e como se disse.
A atriz Hannah Einbinder é um bom exemplo: ao ganhar seu Emmy de Melhor Atriz Coadjuvante em Comédia por Hacks, ela quebrou o limite de fala de 45 segundos para protestar conta política imigratória nos Estados Unidos e pedir por liberdade aos palestinos. Usando também o pin “Artists4Ceasefire” como insígnia visível de solidariedade ela encerrou o discurso com “Free Palestine” e “Fuck ICE” - serviço de imigração e alfândega dos EUA que atua como a polícia de imigração.
Nem só na fala: houve visual que se tornou protesto. A atriz Meg Stalter, personagem principal da série Too Much, circulou com uma bolsa estampada “Ceasefire Now!” (cessar-fogo agora), fazendo da moda um cartaz ambulante.
Além dela, o ator Javier Bardem usou uma keffiyeh no tapete vermelho, o item em questão é um lenço tradicional de algodão, em formato quadrado, usado por homens em muitas partes do Oriente Médio para se protegerem do sol e da areia.
O padrão xadrez específico da keffiyeh palestino é carregado de significado: o padrão de folhas de oliveira representa perseverança e resiliência, enquanto a rede de pesca simboliza a conexão com o mar Mediterrâneo.
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Paralelo aos protestos políticos, a irreverência estética não economizou. Jenna Ortega vestiu um look Givenchy e deixou pouca margem para moderação. Uma escolha quase de vanguarda, onde o corpo se torna tela.
Chloë Sevigny apareceu com um vestido preto de veludo Saint Laurent, por Anthony Vaccarello, com gola halter, mangas bufantes e fenda alta. Um contraste entre a estrutura clássica old Hollywood do vestido e os detalhes “subversivos”, criando uma tensão entre fluidez e rigidez da peça.
E Colman Domingo trouxe sua faceta de sempre: uma moda masculina que não se limita ao terno preto, que mistura corte, cor, textura e apostas ousadas para expressar personalidade, pertencimento e visibilidade.
Ele usou um traje custom Valentino com jaqueta azul-claro xadrez, com franjas de cristais pendendo, camisa de gola mandarina com estampa de bolinhas, calças marrons - uma combinação inesperada, quase contraditória, que funciona porque cada elemento parece escolhido para injetar teatralidade e luxo numa formalidade tradicional.
A moda política nem sempre é um slogan estampado; às vezes é escolha de cor, de símbolo, de tudo aquilo que você veste pra ser visto e interpretado.
Aimee Lou Wood vestiu um Alexander McQueen em tom rosado-pálido com detalhe vermelho interno não foi só audacioso visualmente, mas também acompanhado de pin pelo cessar-fogo Israel-Palestina. Um contraste entre suavidade estética e urgência política.
Já Sydney Sweeney, com um vestido vermelho Oscar de la Renta e joias exuberantes, acendeu também debates: o “vermelho MAGA” foi mencionado por observadores, demonstrando como cor e contexto político se cruzam.
Mais uma vez uma premiação mostra que, para muitos artistas, o tapete vermelho não é um desfile, e sim um palco: de estética, de política, de identidade.
Não importa se o vestido reluz ou se a joia pesa. O que pesa mesmo é o significado.
E talvez isso seja o grande salto desse ano. Não é um look só para impressionar pelo glamour, mas também provocar, incomodar, dialogar.
Em uma era em que tudo é imagem, vestir-se é também posicionar-se.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora