Trump mantém tarifas sobre peixe, lagosta, melancia e melão
O presidente dos EUA, sob pressão dos lobbies e da queda de popularidade, realinha sua política e opta pelo pragmatismo
Ao retirar o tarifaço que impôs a vários produtos brasileiros exportados para o mercado norte-americano, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deixou claro que, no caso do Brasil, as tarifas não fizeram nem fazem parte de um plano estratégico, mas de uma manobra de raiz política que tem a ver com sua relação de amizade com a família Bolsonaro. Pelo visto, Trump realinhou sua posição política, conduzindo-a ao pragmatismo. Foram os diferentes lobbies do empresariado dos EUA que o levaram à decisão de extinguir a taxação extra de 40% sobre as importações de mais de 200 itens brasileiros, entre os quais carne, café e frutas. Havia dúvidas ontem sobre se o melão e a melancia foram ou não excluídos do tarifaço.
O Ceará e a região Nordeste com seus melões e mamões e com suas melancias e mangas e bananas aguardam um esclarecimento definitivo a respeito do texto da medida executiva de Trump. Já se sabe que foi mantida a taxação para os pescados, a lagosta, a castanha de caju, a cera de carnaúba e o aço
Trump cedeu à pressão do consumidor dos EUA, que se revoltou contra a subida dos preços do café, da carne e das frutas, o que tonificou a inflação de lá, causando a queda de sua popularidade, mas não só por disto. É verdade que o tarifaço ainda castiga outros produtos da pauta brasileira de exportação, principalmente os manufaturados e os semiacabados, mas o que veio da Casa Branca, como primeira leva, já causou decepção entre empresários cearenses do agro.
Por exemplo: a cearense Itaueira Agropecuária, que já exporta para a Europa e para o Canadá os seus melões, suas melancias e seus sucos de frutas, estava ontem na expectativa de um esclarecimento oficial sobre se melões e melancias haviam sido mesmo isentos das tarifas de Donald Trump. No início da noite, a notícia que chegou deu conta de que essas frutas permanecem taxadas em 40%, o que decepcionou, também, a Agrícola Famosa, outra podutora dessas frutas.
A Itaueira, empresa fundada por Carlos Prado e hoje dirigida por seus seis filhos e sócios, o quarto dos quais, Tom, é o CEO, mantém-se na expectativa de retomar as vendas para os EUA a partir de quando o tarifaço cair e de quando o Departamento de Agricultura de lá, cuja sigla é USDA, reconhecer a certificação do Ministério da Agricultura brasileiro, que considerou zona livre da mosca da fruta a geografia do Município de Morada Nova, onde se localiza sua fazenda de produção. Uma parte da produção dessa fazenda já está indo para o mercado europeu e canadense.
Tom Prado disse à coluna que o fim do tarifaço sobre as frutas brasileiras terá alta significação, uma vez que assegurará, em primeiro lugar, a manutenção de milhares de empregos no Nordeste e nas regiões produtoras do resto do país e, em segundo lugar, o prosseguimento das relações comerciais com os Estados Unidos, que já duram dois séculos e sempre foram muito cordiais.
Quem ontem também se declarou em “estado de expectativa” foi Amílcar Silveira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), que se frustrou pela exclusão da cera de carnaúba, dos pescados e da lagosta.
“Isto exigirá de nós da Faec e da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) um esforço junto ao vice-presidente Geraldo Alckmin para que, na próxima rodada de negociação com as autoridades do governo norte-americano, sejam incluídos esses itens, “que são muito importantes para a economia do Ceará,”, disse Amílcar Silveira.
Ele acrescentou que, diante do novo cenário, a Faec retomará o seu plano de dobrar as exportações do agro cearense. Sobre este tema, Silveira tem mantido conversas com o governador Elmano de Freitas a respeito da possibilidade de o governo do Ceará ajudar a liderança da agropecuária, que deseja assumir a gestão de alguns projetos de irrigação hoje sob administração do Dnocs.
“Nesses perímetros, uma gestão moderna e eficiente, desenvolvida com as novas tecnologias, terá todas as chances de até triplicar sua produção e sua renda, cultivando produtos de valor agregado para os mercados interno e externo. Há algumas questões processuais e burocráticas a serem vencidas, mas o governador Elmano já entendeu o objetivo do nosso planejamento”, acrescentou o presidente da Faec, que, para esse empreendimento, tem o apoio da Federação das Indústrias (Fiec), uma vez que é o setor industrial que transforma e agrega valor ao que a agricultura e a pecuária produzem.
A propósito: esta coluna recebeu ontem a informação de que ladrões entraram na área do Projeto Tabuleiros de Russas e de lá roubaram, ao longo de vários dias, 72 transformadores da rede de energia elétrica da Enel lá instalados. Até agora, ninguém foi preso, mas a Polícia segue investigando. Não é difícil descobrir os autores desse roubo. A quem interessam esses transformadores?
Veja também