Sindicalismo: O pelego ainda existe! É a peste que precisa de ser erradicada

Em São Paulo, a Federação da Agricultura é presidida há quase 50 anos pela mesma pessoa.

Legenda: A agricultura brasileira é a melhor do mundo, mas seu mundo sindical, em alguns estados, como São Paulo, tem problemas.
Foto: Honório Barbosa

Houve um tempo do século passado – e faz muito tempo – em que a atividade de líder sindical, pelo lado patronal ou laboral, foi longeva. Nas confederações e federações de trabalhadores e de empresários da indústria, do comércio e da agricultura, essas nocivas lideranças apossavam-se de sua presidência e, num passe de mágica, a transformavam numa extensão de sua própria casa. E tudo, na época, foi entendido como algo normal.

Nos tempos atuais, a regra é outra, mas, como toda regra, tem as exceções, e elas ainda existem e são personificadas na figura do pelego, expressão que identifica aquele que, traindo a confiança dos seus pares, se agarra à posição de comando da entidade, extraindo dela o prestígio, a boa remuneração e tudo o que é possível extrair.

E como ele se reelege tantas vezes? Fazendo com os sindicatos o tradicional toma lá, dá cá. Simples assim.

Aqui está um exemplo pronto e acabado dessa exceção das novas regras e dos novos costumes do sindicalismo – e ele se passa na área do patronato:

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), Fábio de Salles Meirelles, há quase meio século no posto, quer concluir seu último mandato com mais uma demonstração de força, importância e influência, elegendo o próprio filho Tirso para o seu lugar.

É possível? Bem, do ponto de vista legal, sim; do ponto de vista ético, porém, é execrável e vergonhoso.

Contra essa pretensão e abrindo uma profunda divergência na financeiramente poderosa Faesp, está o advogado e agropecuarista Paulo Junqueira, presidente do Sindicato e da Associação Rural de Ribeirão Preto e da Associação Rural do Vale do Rio Pardo (Assovale), que, liderando o movimento “Nova Faesp”, vem ganhando músculos para guerrear contra a dinastia dos Salles Meirelles (com duplo ll).

Em dezembro do ano passado, a estratégia dos Meirelles quase deu certo, mas o Tribunal de Justiça do Trabalho da 2ª Região anulou a eleição de Tirso.

Paulo Junqueira acusa a Faesp de ser, há quase cinco décadas, uma capitania hereditária, e diz que isto é tanto verdade, que o plano de transferir para o filho Tirso a presidência da entidade permanece vivo, apesar da vigilância da oposição e da Justiça daquele estado.

Junqueira faz uma denúncia: a companheira de Tirso Meirelles, Juliana Alcazar Farah, é vice-presidente da Comissão de Semeadoras do Agro da Faesp/Senar e dona da Connect Assessoria, uma empresa que presta à Federação da Agricultura de São Paulo serviços que já foram questionados pelo presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), João Martins, outro que não se conforma com o que se passa na capitania sindical patronal do agro paulista.

Por que esta coluna está abordando uma questão que se passa a 3 mil quilômetros ao Sul de Fortaleza?

Resposta: porque o peleguismo precisa de ser erradicado do sindicalismo brasileiro – nos dois lados da moeda, o do patrão empregador e o do empregado.

Em outros estados do Brasil, como o Maranhão, o peleguismo mantém-se impregnado nas federações sindicais de patrões e empregados. Mas há em marcha  um movimento de assepsia .

Se no Ceará isto ainda existe, e talvez exista, que se apressem empresários e trabalhadores para jogá-lo na lata do lixo da obsolescência e da obscuridade.

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