Quer conhecer as pessoas? Viaje com elas, e terá boas surpresas
Foi assim na recente Missão Empresarial da Fiec que foi a Portugal para aprender sobre a Economia Azul. Este colunista caiu do cavalo
Quer conhecer as pessoas? Viaje com elas, e aí descobrirá quem são na verdade. E a verdade o surpreenderá. Aconteceu durante a recente Missão Empresarial a Portugal, organizada pela Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), cujo presidente, Ricardo Cavalcante, está a investir no programa de Educação Executiva Interacional com o objetivo de localizar e capturar o melhor conhecimento sobre as últimas práticas da gestão corporativa, incluindo a Inteligência Artificial e a Economia Azul.
Esse programa já levou empresários e executivos de empresas e do governo do Ceará a imersões sobre variados temas da economia em Londres, Boston, Barcelona, Hong Kong e Carcavelos, na Grande Lisboa. Desta última, em Portugal, este colunista participou, e logo percebeu que ao seu lado se juntaram 27 egos diferentes, 27 personalidades variadas e 27 temperamentos distintos.
Peço permissão para usar a primeira pessoa, pois foi assim, do ponto de vista subjetivo, que encontrei a surpresa. Primeira surpresa positiva: ao examinar a relação dos missionários, indaguei a mim mesmo se algumas daquelas pessoas estavam verdadeiramente interessadas em ouvir longas aulas a respeito de como extrair e beneficiar a riqueza que os oceanos nos dão em peixe, lagosta, camarão, petróleo, energia eólica, navegação mercante e de cruzeiros – tudo isto de modo sustentável, ou seja, preservando os recursos existentes na superfície, no meio e no fundo do mar.
Preconceituoso eu fui, e caí do cavalo. Em todas as aulas, em todas, o que vi foi uma grande atenção do grupo. E o que ouvi de cada um deles foram perguntas corretas, inquirições pertinentes, dúvidas procedentes e, acreditem, uma boa demonstração de absorção, de análise e de clara disposição para o aprendizado. Homens e mulheres cearenses, alguns muito ricos, deixaram sua vaidade no aeroporto de Fortaleza e levaram sua humildade para a sala de aula da Nova School for Busines & Economics (Nova SBE), no seu campus de Carcavelos, na Grande Lisboa.
Logo no primeiro dia da programação técnica, eles logo se mostraram muito inteligentes e bem-informados, quando – em um único momento – se revelaram tão competentes e cientes do que estava em debate quanto o professor, que lhes propôs um desafio: pescar peixes no mar com determinado número de embarcações, em um tempo determinado e de forma sustentável, sem qualquer agressão ao oceano. Ora, alguns do grupo são empresários que já praticam, de modo sustentável, a captura, o beneficiamento e a venda para o exterior dos seus pescados, para o que contam com a melhor das tecnologias disponíveis.
Este foi o lado do comportamento pessoal de cada um do grupo na sala de aula da SBE, onde passaram 70% do seu tempo. Nos lanches servidos nos intervalos das aulas em uma sala ao lado e nos almoços que se realizaram numa grande tenda à moda árabe, o que observei foi outro surpreendente comportamento do grupo: alegres, trocando ideias uns com os outros, abordando questões da última aula e interessados nos temas expostos. Caiu por terra a minha antiga e falsa impressão (“Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás claramente para tirar o argueiro do olho do teu irmão”, ensina Jesus Cristo, segundo Lucas 7, 5).
No jantar de encerramento, na sexta-feira, em Lisboa, o que aconteceu foi a repetição dos dias anteriores: uma imensa e demorada confraternização. É como se todos, sem travas no olho, tivessem obedecido o ensinamento cristão. Assim, como boa consequência desse autêntico retiro que foi o mergulho na Economia Azul em Portugal, cearenses e lusitanos festejaram os novos conhecimentos e, principalmente, a amizade sob o pálio da comum unidade.
Essa comum unidade eu vi, também, na visita do grupo ao Porto de Lisboa e ao seu Oceanário, o maior da Europa e um dos mais visitados do mundo, onde todo o grupo lamentou o fim que teve o maravilhoso projeto de construção de um aquário em Fortaleza. Quando a diretora do porto de Lisboa revelou a movimentação de carga do porto no ano passado – 11,5 milhões de toneladas – nenhum dos cearenses pediu a palavra para dizer que o Porto do Pecém, sozinho, movimenta 17 milhões de toneladas em 2024.
O Oceanário de Lisboa é, além de ponto obrigatório de visitação turística, local de aulas práticas sobre a Economia Azul. Diariamente, centenas de jovens e adolescentes, alunos de escolas públicas e privadas de Portugal, visitam, com seus professores, o Oceanário lisboeta, algo que os cearenses não têm por questões políticas e até ideológicas. Lamentavelmente.
Retomando o fio da meada: as viagens coletivas - como as que a Fiec tem promovido com o exclusivo objetivo de qualificar o industrial cearense para o enfrentamento dos crescentes desafios do comércio exterior e para o sucesso do seu próprio negócio - são a chance de descobrir nas pessoas as suas virtudes, que, conforme provou a imersão em Portugal, são muito maiores do que os defeitos.
Viva a amizade!
Veja também