Por que o Brasil não é como a Espanha?

Na geografia brasileira, cabem 20 Espanhas. Mas os espanhóis têm infraestrutura de transporte rodoviário e ferroviário de Primeiro Mundo. E o Brasil patina nessa área.

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 11:21, em 04 de Outubro de 2025)
Legenda: O Brasil já deveria ter uma estrutura de transporte ferroviário de Primeiro Mundo, como a da Espanha. as não a tem. Por que?
Foto: Kid Júnior / SVM
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Córdoba (Espanha) -- Por que o Brasil, dentro de cujo território cabem 20 Espanhas, não tem a infraestrutura rodoviária e ferroviária de que dispõe o povo espanhol? Por que, possuindo 18% da água doce e a maior biodiversidade do planeta, tendo ainda riquezas naturais e minerais que o nivelam aos países do chamado Primeiro Mundo, o Brasil – que é líder mundial da agropecuária -- tem péssimas rodovias, com exceção das de São Paulo, e precária rede ferroviária e parece estar hoje ameaçado pela ação do crime organizado, que, de tão organizado, colocou os pés e as mãos no mercado financeiro, invadiu o setor de produção de etanol e de distribuição de combustíveis, e agora prepara-se para entrar na política, via eleições de 2016. 

Há várias respostas, e uma delas é a passividade dos três poderes da República diante dos desafios. Nesta semana, o Congresso Nacional aprovou o novo orçamento do pornográfico Fundo Partidário, que, no próximo exercício -- ano de renovação de toda a Câmara dos Deputados e das Assembleias Legislativas estaduais, de dois terços do Senado Federal e, principalmente, da eleição ou reeleição do presidente da República -- contará com um Evereste do tamanho de R$ 4,9 bilhões. 

Ontem, os 35 integrantes da Missão Técnica e Empresarial promovida pela Federação da Agricultura e Pecuária (Faec) e pela Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem (Abid), viajaram de Madri até Córdoba, na região da Andaluzia, no sul da Espanha, por uma autoestrada de 400 quilômetros, sem qualquer deformação no seu pavimento asfáltico, ou seja, sem buraco em todo o trecho, que é de asfalto em grande parte dele e de concreto rígido, em uma outra parte. E observaram atentamente as dezenas de belos viadutos e pontes, a perfeita sinalização vertical e horizontal e a velocidade máxima permitida, que varia de 70 a 120 quilômetros.  

Na agradável viagem, todos conversaram sobre a grande e visível diferença entre a infraestrutura de transporte da Espanha e a do Brasil, cuja economia é bem maior e mais forte do que a espanhola. E todos concordaram: aqui, na Espanha, há um plano estratégico de desenvolvimento que não é do governo de plantão (na Espanha, o regime político é parlamentarista e o modelo econômico é o de livre iniciativa), mas de estado.  

Ao longo dos 400 quilômetros da estrada que liga a capital do país â Córdoba viam-se, de um lado e outro da rodovia, imensas e bonitas plantações de oliveira – a Espanha é o maior produtor mundial de azeite de oliva. Hoje, a Missão da Faec e da Abid iniciou uma programação de visitas a projetos de irrigação na área de Córdoba, nos quais são aplicadas as melhores tecnologias que envolvem desde o uso da água, que é tratada aqui como um ouro líquido, até o correto manejo do solo. 

O clima da Andaluzia é muito semelhante ao do Ceará, e sua pluviometria é irregular como a cearense. “Foi por este motivo que organizamos esta missão com o objetivo de aprender com os espanhóis a fazer mais com menos terra e menos água”, como explicou o secretário Executivo do Agronegócio da SDE do Governo do Ceará, Sílvio Carlos Ribeiro, que lidera a comitiva.  

Do grupo que integra a missão fazem parte produtores rurais que atuam em glebas do Distrito de Irrigação Jaguaribe-Apodi (Dirja), os quais disseram à coluna que vieram dispostos a conhecer como se desenvolvem as áreas irrigadas da Andaluzia. Há claras diferenças em relação ao Ceará: para começar, os irrigantes espanhóis produzem hortifrutis de alto valor agregado, enquanto os cearenses produzem até coco verde em perímetros de irrigação, algo desaconselhável no agro moderno e tecnológico. Depois, a produção nas áreas irrigadas aqui tem forte presença do associativismo, por meio de cooperativas, algo que o presidente da Faec, Amílcar Silveira, tenta impulsionar no Ceará, para o que tem mantido contato permanente com grandes cooperativas do Paraná, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, até agora sem êxito, porém. 

Retomando o fio da meada: se a elite política do Brasil fosse mais comprometida com o desenvolvimento do país, o estado brasileiro seria menor, mais eficiente, mais ético e custaria bem menos do que custa hoje. Isto agrava o quadro fiscal, que deverá explodir ao longo de 2026 e tornar-se caótico em 2027. 

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