Para economista José Maria Porto, concorrência chinesa está só começando
Ele fez uma pesquisa que concluiu o seguinte: há setores nos quais “não há como concorrer com a China”.
Economista e consultor empresarial, José Maria Porto dedica-se, quando isto é necessário, à pesquisa. Foi o que ele fez para entender a causa dos protestos da indústria brasileira de têxteis, confecções e calçados contra a concorrência dos produtos importados da China. Ontem, após concluir seu trabalho, ele transmitiu à coluna seus comentários e observações. Porto começa dizendo o seguinte:
“Há setores nos quais, infelizmente, não há como concorrer com os chineses. No setor têxtil, principalmente! Fui, há 25 anos, gerente financeiro de uma grande empresa têxtil cearense, e na época já sofríamos com essa pressão asiática! Com certeza a roupa que estamos vestindo neste momento é chinesa!”.
José Maria Porto prosseguiu:
“É muito difícil afirmar que existam indústrias ou setores inteiramente livres da concorrência chinesa no Brasil, dada a amplitude e diversidade da produção e exportação da China. A influência chinesa na economia brasileira é sentida de duas formas principais:
“1. Concorrência de Manufaturados: produtos chineses, muitas vezes com preços mais competitivos, disputam o mercado interno brasileiro com a produção nacional em diversos setores (têxtil, calçados, eletrônicos, máquinas, equipamentos etc);
“2. Demanda por Commodities: a China é o principal parceiro comercial do Brasil e um enorme consumidor de commodities brasileiras (minério de ferro, soja, petróleo, celulose, carnes), o que impulsiona essas áreas da atividade econômica;
“No entanto, alguns setores e atividades tendem a ter uma concorrência chinesa direta menor no mercado brasileiro, principalmente por serem:
“1. Setores de Serviços e Não-Comercializáveis (ou de Baixa Comercialização Global). Estes são tipicamente menos expostos à concorrência internacional, incluindo a chinesa, pois exigem presença física e são voltados para o consumo local, como Serviços Pessoais e Locais; Educação (escolas, universidades, cursos presenciais); Saúde (clínicas, hospitais, consultórios); Serviços Domésticos (como reparos e manutenção); Turismo Interno (hotéis, restaurantes, agências de viagens focadas no Brasil); Construção Civil: projetos de construção de imóveis residenciais, comerciais e infraestrutura (exceto quando empresas chinesas investem diretamente nesses projetos); Serviços governamentais e administração pública.
“2. Setores com Vantagem Competitiva Natural ou Regulamentação Específica:
“Agropecuária de Commodities (em termos de produção): embora a China seja um grande comprador da produção brasileira (soja, carne), ela não é um concorrente significativo na produção primária brasileira desses itens devido às diferenças geográficas e climáticas. A concorrência aqui é indireta (outros países produtores);
“Setores com Regulamentação Estrita: certas áreas, como alguns serviços financeiros ou setores com alta regulação e exigência de conhecimento específico do mercado local (legislação, cultura), podem ter barreiras naturais à entrada de competidores estrangeiros.
Observação Importante: é crucial entender que a influência chinesa está em expansão.
“Infraestrutura e Energia: empresas chinesas têm investido pesadamente em projetos de energia, infraestrutura (portos, ferrovias) e tecnologia (telecomunicações) no Brasil;
“E-commerce: a entrada de grandes plataformas de comércio eletrônico chinesas (como Shopee, Shein e AliExpress) intensifica a concorrência em virtualmente todos os segmentos de bens de consumo.
“Portanto, a tendência geral é de que a concorrência chinesa, direta ou indireta, se torne cada vez mais presente em quase todos os setores da economia brasileira. Hoje é difícil entrar em qualquer indústria brasileira e não se deparar com a presença de máquinas chinesas! No setor de carcinicultura, por exemplo, as importações de máquinas chinesas estão em constante evolução!”, conclui José Maria Porto.
Ele tem razão: o empresário cearense Cristiano Maia, maior carcinicultor do país, informa que importou da China as máquinas de sua grande indústria de beneficiamento de camarão.
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