Jean Paul Prates, que deixou o PT, detona lobby contra o Nordeste

Ex-presidente da Petrobras, em mensagem a esta coluna, lamentou que o governo tenha trocado a energia renovável e o H2V pelo biodiesel, “que não o combustível do futuro”

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 11:25)
Legenda: Para Jean Paul Prates, a energia eólica offshore, ou seja, dentro do mar (foto) é, também, energia renovável de que o Nordeste dispõe
Foto: Maia Júnior
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Ex-presidente da Petrobras e ex-senador pelo PT do Rio Grande do Norte, do qual se desligou ontem, o advogado, economista e mestre em Planejamento Energético e Gestão Ambiental pela Universidade da Pensilvania (EUA), Jean Paul Prates pede a palavra para engrossar a tese do engenheiro Adão Linhares, que ontem, aqui, afirmou que a região Nordeste é a ideal para receber as novas e modernas indústrias ultra consumidoras de energia elétrica. E energia renovável. 

‘Teremos de guerrear com gente muita graúda que é contra as energias renováveis, eólica e solar, e contra, também, tudo o que delas decorrem, principalmente Data Centers, no curto prazo, e Hidrogênio Verde, que acabou de sumir, totalmente, da pauta do governo, e a indústria verde em geral”, disse Prates, em troca de mensagens, ontem, com este colunista.  

Na sua opinião, esses temas desapareceram, também, da pauta da COP 30. Ele disse que, “não por outra razão – tentaram alegar que era por causa do lobby do petróleo, dos países petrolíferos, mas isso nunca impediu que o assunto fosse tratado no âmbito da COP 30 – porém desta vez o tema ficou de fora, embora tivesse havido uma insistência do embaixador brasileiro André Corrêa do Lago, presidente da Conferência. Essa insistência foi uma iniciativa isolada do embaixador, e não do Ministério de Minas e Energia”. 

Por quê, quis saber a coluna. Jean Paul Prates respondeu. 

“Porque o pessoal fez corpo mole, literalmente, em relação à verdadeira transformação energética que nós podemos fazer, que é justamente a sediada nos nossos dois estados, o Ceará e o Rio Grande do Norte. Foi nesse momento que, na COP 30, o mundo percebeu que eles não estavam falando de eletromobilidade, isto é, de solar, eólica offshore, hidrogênio verde, nada disso estava ali, só o biocombustível”. 

O ex-presidente da Petrobras acrescentou: 

“É louvável falar de biocombustível, pois o Brasil tem muito a agregar neste particular, mas não se trata do combustível do futuro. O mundo todo está pulando essa etapa, ou seja, a etapa de usar o combustível agrícola, porque isso ocupa terra e usa água em abundância, e nem todos os países têm as condições que o Brasil tem. Então, nem adianta exportar esse tipo de solução porque ela não é escalável para todos os países. A maior parte das grandes economias não a utiliza. Na China, não pegou; na Europa, muito menos, porque terra para o europeu é um bem sagrado, pois eles precisam dela para plantar alimentos. Só nos EUA, no Brasil e na Índia é que se produz biocombustível, e a Índia ainda vai arrepender-se. Nem a Austrália — que tem tanta terra quanto o Brasil, embora 70% do seu território sejam áreas desérticas — embarcou nessa história, e foi direto para o H2V, direto para a energia limpa.” 

Para Jean Paul Prates, o Nordeste Setentrional tem a condição de ser a vanguarda desse processo todo (de produção de energias renováveis), “mas não estão deixando, pelo contrário, estão sabotando. Em vez de pelo menos deixar que nós joguemos o nosso jogo, os caras não só querem ganhar de todo o mundo, querem tomar o mercado, querem manter a sua reserva de mercado com subsídios pesados, como ainda querem fazer da energia o Plano B do agro, como também não querem deixar que nós, nordestinos, desenvolvamos nossos projetos de geração de energias renováveis no continente e dentro do mar, empreendimentos que são muito mais eficientes. Quem vai querer Data Centers com gás natural, mesmo biometano, mesmo etanol, se você dispõe aqui no Nordeste de vento e sol à vontade e sobrando?”. 

Ele prossegue: 

“É por isto que você vê tanta postagem de influenciadores altamente financiados. Há jornais bancando críticas às eólicas pelos efeitos que elas teriam nas comunidades. Críticas contra a eólica offshore por causa da pesca, contra o H2V por ser inviável, entre aspas, e agora contra os Data Center por consumirem água. Tudo factoide, tudo que a tecnologia resolve. Ninguém fala da ocupação de terras, de desmatamento, da atividade de grilagem, dos processos que ocorrem por trás da produção de biocombustível em geral, trabalho análogo à escravidão. São coisas pontuais, que também acontecem.”