Para agroindustrial, estratégia de Lula e do PT preocupa

Com Jorge Messias, presidente Lula amplia maioria no STF, tira proveito das divergências na direita e, com Trump, melhora a popularidade

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 07:39)
Legenda: Lula abraça Jorge Messias, advogado geral da União, seu candidato à vaga do ministro Barroso, no Supremo Tribunal Federal (STF)
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
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Está sendo executada com precisão suíça a estratégia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do seu partido, o PT, que visa garantir mais uma vitória eleitoral em 2026 e assegurar, ao longo dos anos 30 e seguintes, o projeto de continuidade no poder. Na opinião de um empresário agroindustrial, com experiência política, com quem esta coluna conversou ontem na hora do almoço, a decisão já tomada por Lula de indicar o pernambucano Jorge Messias, 45 anos, advogado-geral da União, para a vaga do ministro Luiz Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal, enquadra-se perfeitamente no plano petista de blindar o governo contra possíveis decisões do Congresso – leia-se Câmara dos Deputados – onde Lula não tem maioria. 

É uma reflexão lógica, mas que deixa preocupados os agentes da economia de livre mercado, da livre iniciativa, e, também, boa parte da força de trabalho. De acordo com o mesmo empresário, Lula, que já indicara para o STF o jurista maranhense Flávio Dino, até então militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), já tem maioria na instância máxima do Judiciário. Tê-la-á ampliada com a nomeação de Messias, cuja aprovação já foi admitida pela própria oposição, que não tem no Senado Federal votos suficientes para rejeitá-la. 

Neste momento, todos os astros estão alinhados, apontando para uma tranquila reeleição de Lula. Os ventos das políticas interna e externa também enfunam a nau do PT para a linha de chagada do primeiro turno do pleito presidencial do próximo ano, cuja campanha começou. Do limão do tarifaço de Donald Trump, Lula está fazendo uma adocicada limonada: sua popularidade segue crescendo, e as próximas pesquisas revelarão a linha de rejeição, em declive, sendo superada pela de aprovação, em aclive.   

Das forças de oposição espera-se pouco. Primeiro, porque seu líder Jair Bolsonaro, condenado e preso domiciliarmente, está proibido de movimentar-se, de falar ao telefone, de fazer política. Segundo, porque o grande nome que o substituiria, o governador de S. Paulo, Tarcísio de Freitas, é alvo de críticas da própria família Bolsonaro, razão pela qual já anunciou que será candidato ao que parece ser uma sossegada reeleição ao Palácio dos Bandeirantes. Deve ser lembrado que Bolsonaro não foi condenado por corrupção, mas – segundo a primeira turma do STF, com o voto divergente do ministro Luiz Fux – por liderar uma tentativa de golpe de Estado.  

O que preocupa o empresariado e, principalmente, as chamadas forças do mercado? Resposta: a possibilidade de Lula e o PT usarem aqui as mesmas artimanhas de que lançou mão Hugo Chaves para criar e sacramentar, na Venezuela, com o apoio do Poder Legislativo e da Suprema Corte, a República Bolivariana, de clara ideologia socialista, que sepulta a democracia pela via do esmagamento dos partidos de oposição e transforma as eleições num mero processo de ratificação da vontade de quem está no poder. Não há um só país socialista convivendo com a democracia.  

Mas a população brasileira sempre foi contra as ditaduras, de direita ou de esquerda, e não permitirá que se repita aqui o castigo que hoje sufoca os venezuelanos – argumentou a coluna para o agroindustrial, que, depois de beber um gole de uma bem gelada cerveja, respondeu:  

“É a nossa esperança, e nela quero apostar todas as minhas fichas. Não podemos perder a liberdade que temos de ir e vir, de dizer livremente o que pensamos, de votar em quem queremos. Mas isto pode estar ameaçado pelo discurso que se propaga às nossas crianças e aos nossos jovens nas salas de aula dos colégios públicos e privados e, principalmente, nas universidades, por professores militantes do socialismo.” 

No fim do almoço, os comensais repartiram entre si o valor da conta, mas não suas opiniões. O empresário insistiu na sua tese de que a urdidura petista se desenvolve em teares das mais atualizadas e sofisticadas artes de fazer política e influenciar pessoas. Algo de que carece a maioria do Congresso Nacional, que, na opinião de Lula, “é de baixo nível e nunca esteve tão ruim como hoje”. E o disse na semana passada, no Rio de Janeiro, olhando diretamente para os olhos do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta.  

Para esta coluna, o cenário da política -- máxime o da economia -- é conturbado hoje, sê-lo-á amanhã e pior, ainda, em 2027, quando a conta da irresponsabilidade fiscal será apresentada aos brasileiros. Aí haverá choro e ranger de dentes. 

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