O Ceará e o Brasil ameaçados pelo terror do crime organizado
Nasceu, cresceu e avança Brasil adentro a ideologia do crime e, para combatê-la, o país dispõe de um arsenal de leis que devem ser aplicadas, e ainda não o são.
Extrato de uma conversa que este colunista manteve ontem, na hora do almoço, com três empresários cearenses da indústria e do agro: uma nova ideologia nasceu e avança sobre o Brasil em todas as suas direções -- a ideologia do crime. Ela já se estabeleceu nos diferentes estratos da pirâmide social do país. E mais: inacreditavelmente, invadiu, também, a área da economia, alcançando, inclusive, o que parecia inexpugnável - o mercado financeiro.
Uma megaoperação da Polícia Federal, realizada há menos de três meses, apurou que várias das fintechs em operação na Avenida Faria Lima, onde está a Bolsa de Valores brasileira, a Bovespa, são comandadas pelo crime organizado. Nessa megaoperação, nenhum tiro foi disparado, ninguém se feriu, mas os mandados de busca e apreensão executados descobriram que esse polvo criminoso tem, ainda, tentáculos alcançando outras áreas da atividade econômica, entre as quais o da distribuição de combustíveis.
Corte para os bairros da periferia de Fortaleza e para municípios do interior do Estado, onde os agentes dessa ideologia estão a expulsar famílias de suas casas, a fechar escolas e lojas e a extorquir comerciantes. Um distrito de Morada Nova, no Vale do Jaguaribe, virou um povoado fantasma: todas as suas residências foram abandonadas pelos seus moradores por ordem do crime organizado. No Pecém, onde se localiza o principal porto marítimo do Ceará e onde cresce o que já é um grande polo industrial, uma empresa de telecom, que fornecia serviços de internet banda larga, foi obrigada a fechar suas portas e a deixar o lugar.
Na opinião do trio de empresários, “isto tem nome: terror, e quem o pratica é terrorista”. Há no Brasil leis específicas de combate ao terrorismo, que, no caso do crime organizado, não são aplicadas sob o argumento de que não se trata de um movimento ideológico. Como não? Uma organização dedicada ao crime de ameaçar e matar pessoas, de expulsar famílias, de intrometer-se na vida social e econômica com o fim de tumultuá-la nos bairros, nas favelas, nas cidades, nas empresas, nas escolas e até nas igrejas é, na opinião dos empresários com quem este colunista conversou ontem, “uma organização terrorista e assim deve ser tratada”.
Tratar como terror os atos praticados pelos agentes do crime organizado é, porém, uma decisão política que cabe a quem, nos três poderes da República, governa, legisla e julga. Não há, por enquanto, disposição do governo da União de considerar terroristas os que hoje são chamados de bandidos perigosos, narcotraficantes violentos, meliantes, facínoras, delinquentes, marginais e assaltantes, “os quais, segundo a narrativa que se ouve, vê e lê, são vítimas da sociedade de consumo, do modelo capitalista de livre mercado, de livre iniciativa”, comentaram os empresários.
Eles entendem que a tragédia registrada na terça e na quarta feiras no Rio de Janeiro “é um claro retrato do que está por vir nas demais cidades brasileiras, se providências corajosas e inovadoras não forem adotadas para combater e impedir que essa onda de terror siga avançando país adentro”. E acrescentam: “Em uma República, onde é a Lei que impera, deve ser respeitado o direito de ir e vir, a liberdade de residir onde quiser, de transitar, a pé ou de automóvel, a qualquer hora do dia ou da noite em qualquer bairro das cidades, e isto está proibido hoje pelo terror do crime organizado”.
Os três empresários têm planos de ampliar seus investimentos, mas só o farão quando vislumbrarem luz no fim do túnel da esperança, e esperança é o que não falta ao brasileiro que produz e trabalha, mesmo quando, como agora, o governo titubeia entre agir com firmeza para enfrentar e vencer o desafio da violência do terror ou, de olho nas urnas eleitorais de 2026, evitar novos confrontos das forças policiais com os agentes do crime.
Conclusão dos empresários: “A sociedade, cansada das promessas e dos programas irrealizáveis, espera uma solução rápida, eficiente e permanente para a questão do crime organizado e do terror que ele causa à vida das pessoas e das cidades e povoados em que residem. Elas pedem o mínimo: o direito de morar e de ir e vir da casa para o trabalho, para a escola, para o hospital, para a missa dominical, para a quermesse da paróquia. O direito de viver sem terror.”
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