O "Almoço do Governador" e sua importância pré-eleitoral

Evento tradicional promovido pela Fiec, o deste ano, na próxima sexta-feira, 12, terá de ser visto pelas presenças e pelas ausências

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 05:07)
Legenda: Ricardo Cavalcante, presidente da Fiec, e o governador Elmano de Freitas mantêm cordiais e respeitosas relações
Foto: LC Moreira / SVM
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Na próxima sexta-feira, 12, ao meio-dia, a Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) promoverá o seu tradicional “Almoço do Governador”, que, pelo terceiro ano consecutivo, homenageará Elmano de Freitas, atual chefe do Poder Executivo estadual.

O evento terá nesta, como teve em suas anteriores edições, um claro aspecto político: mostrará que se mantêm intactas, próximas, cordiais e respeitosas as relações entre a principal entidade do empresariado cearense e o governo do estado.

Com efeito, o presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, que é vice-presidente da CNI, tem sido, com o apoio de toda a liderança industrial, parceiro de primeira hora das grandes iniciativas do Palácio da Abolição, a começar pelo projeto de criação do hub do hidrogênio verde no Complexo Industrial e Portuário do Pecém. 

Para o “almoço do governador”, são convidados não só o comando das outras federações empresariais, como a da Agricultura e Pecuária (Faec), com a qual a Fiec tem muito próxima relação, mas também representantes dos Poderes Legislativo e Judiciário, o que o torna, naturalmente, um acontecimento que atrai a atenção da mídia, principalmente neste momento de especulações em torno do que poderá acontecer na eleição do próximo ano, quando Elmano de Freitas tentará a reeleição.  

Haverá, por via de consequência, muito interesse da imprensa no sentido de anotar quem compareceu e quem deixou de comparecer – e por qual motivo se ausentou, uma vez que aqui, nestes detalhes, poderá estar uma pista para prospecções dos que seguem os atos e os fatos desse mutante universo dos políticos.

Antes que comece, efetivamente, o almoço – no melhor estilo “self service”, haverá as rodinhas de jornalistas com empresários e destes com os políticos, tudo girando em torno de quem será o candidato da oposição, aquele que enfrentará a poderosa coligação apoiadora de Elmano de Freitas. Será Ciro Gomes? Será Roberto Cláudio? Será André Fernandes? Será um outsider? 

Um dos mais importantes e influentes industriais cearenses disse ontem à coluna que o pleito para governador do Ceará poderá ser “uma eleição ou um passeio”, dependendo de quem se oporá à candidatura de Elmano de Freitas, que, pelo andar da carruagem, do ponto de vista de hoje, é – até que surja um fato novo e muito poderoso – o favorito, havendo, pois, grande expectativa em torno do que decidirão os partidos oposicionistas.  

Nas áreas empresariais, ouvem-se comentários do tipo: “O PT está sofrendo de fadiga do material”. Mas também se ouvem, de industriais influentes, a seguinte constatação: “Em time que está ganhando, não se mexe”, sugerindo que a gestão de Elmano de Freitas também agrada a setores da indústria do Ceará.  

Na área da agropecuária, esta coluna pode revelar o que parece contraditório, mas não é: o presidente da Faec, Amílcar Silveira, um severo crítico do PT, é um dos que mais elogiam a administração de Elmano de Freitas, “que tem cumprido seus compromissos com o nosso setor”, como costuma dizer o líder dos agropecuaristas cearenses, reeleito há 10 dias pela unanimidade dos produtores rurais, e agora membro da Diretoria Executiva da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).  

Retomemos o fio desta meada: o “almoço do governador”, nesta época natalina, tem produzido, pelo menos nos últimos anos, discursos – são apenas dois, o do anfitrião, Ricardo Cavalcante, em nome da Fiec, e o do homenageado – de conteúdo confraternizador. 

O pronunciamento do presidente da Fiec tem sido de júbilo pelo desempenho do setor industrial; o do governador, tradicionalmente, tem sido de quase uma prestação de contas do que já fez, está fazendo e fará a sua gestão. Tendo em vista as atuais circunstâncias que cercam o ambiente pré-eleitoral, que promete agudizar-se a partir do primeiro mês de 2026, o pronunciamento de Elmano de Freitas deverá ser escutado com ouvidos bem abertos e com o olhar muito atento ao gestual. O que interessa poderá estar nas entrelinhas. 

Em tempo: recomenda-se a todos os convidados, principalmente aos parlamentares não acostumados a eventos dessa magnitude, que ouçam em silêncio os dois discursos. Nos últimos cinco “almoços do governador”, eles e suas altas conversas chegaram a prejudicar a audiência dos pronunciamentos do presidente da Fiec e do governador do Ceará. 

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