Ibama atrasa o trem da Ferrovia Transnordestina

Primeiro trecho da estrada de ferro que mudará economia da região Nordeste está pronto, mas não pode operar. Acredite.

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 03:33)
Legenda: Os rilhos da Ferrovia Transnordestina, entre Boa Vista (PI) e Iguatu (CE) estão prontos, mas o Ibama não deixa o trem circular
Foto: Kid Júnior / SVM
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Somos um país distinto dos outros. Temos brasileiros sábios, mas, também, sabidos, e isto faz muita diferença. Há 10 anos, constrói-se a Ferrovia Transnordestina, cujo primeiro grande trecho, ligando Boa Vista, no Piauí, a Iguatu, no Ceará, ficou pronto e deveria ter sido inaugurado no último dia 26 por um trem cargueiro. A viagem, porém, foi proibida pelo Ibama, cujos técnicos, sabidos, alegaram, acreditem, pendências técnicas que impedem a emissão da competente e indispensável Licença de Operação da estrada de ferro, o que quer dizer a circulação de suas locomotivas e de seus vagões. 

Esse empreendimento, que segue sendo implantado pela cearense Marquise Infraestrutura no acelerado ritmo do frevo, é essencial, podemos dizer vital para o desenvolvimento da economia de parte do Nordeste. Seus trilhos ligarão a zona produtora de grãos e fibras do Maranhão e do Piauí e a de frutas do Polo Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) ao Porto do Pecém.  

Em 2027, está previsto o fim da obra de infraestrutura dos seus últimos trechos (terraplenagem, cortes e aterros, sistema de drenagem, pontes, viadutos e túneis), de acordo com promessa feita há seis meses pelo presidente da concessionária Transnordestina Logística, Tufi Daher, ao presidente Lula. 

Por que o Ibama atrasa o trem do crescimento econômico do Nordeste e do país? Esta pergunta é pertinente, porque só há poucos dias, depois de mais de cinco anos de espera, o Ibama concedeu à Petrobrás licença para a perfuração de um poço exploratório na Margem Equatorial brasileira, mais de 500 quilômetros além da costa de Roraima. Essa exploração é tão importante para o interesse nacional e da própria Petrobras, que as obras de perfuração começaram seis horas depois de emitida a licença.  

As pesquisas indicam que na camada pré-sal da Margem Equatorial há um oceano de petróleo que se estende desde Roraima até o Rio Grande do Norte. Essa área alastra-se, também, até a Guiana, onde uma empresa norte-americana está extraindo centenas de milhares de barris diários de excelente petróleo, o que fez multiplicar por três o PIB do país, que segue crescendo. 

A Ferrovia Transnordestina está sendo construída com o que de mais moderno há na engenharia ferroviária. Seus trens circularão a uma velocidade média de 80 quilômetros, levando e trazendo, em pouco tempo, as riquezas produzidas pelo agro, pela indústria e pela mineração das áreas de sua influência, as quais, por falta de um transporte eficiente, ainda são conduzidas de caminhão.  

Por que, então, o Ibama retarda a licença de funcionamento do trecho Boa Vista-Iguatu? A linha permanente já foi testada com sucesso, não havendo, assim, do ponto de vista técnico e ambiental e pelo lado do bom senso, impedimento para a inauguração das viagens dos trens cargueiros da Transnordestina no seu primeiro trecho concluído. 

Imagina-se agora o que acontecerá daqui a cinco meses, quando a Petrobras concluir a perfuração do seu poço exploratório na Margem Equatorial. Estimam os especialistas que a sonda confirmará a existência de petróleo em mais uma área pré-sal. A Petrobras já avisou que quer perfurar mais três poços exploratórios para comprovar essas boas suspeitas. Que farão os técnicos do Ibama? Negarão a Licença Ambiental ou, como já fizeram os organismos ambientais guianenses, darão o sinal verde para a sua exploração comercial?  

Tanto na Transnordestina quanto na Margem Equatorial, o que está em jogo é o alto interesse nacional. O Brasil, que já é uma potência petrolífera, tornar-se-á um poderoso player desse mercado de energias fósseis que, pelos próximos 30 anos, no mínimo, ainda fornecerão energia para o mundo.  

No que tange ao modal ferroviário da logística de transporte, o Brasil só agora, com o apoio da China, acorda para a necessidade urgente de trocar o caminhão pelos trens de carga. Por enquanto, as ferrovias brasileiras não têm as catenárias que sustentam os cabos elétricos das estradas de ferro modernas e de alta velocidade da Europa e da Ásia. Assim, seguiremos por vários anos ainda, utilizando locomotivas movidas a óleo diesel ou biodiesel. Quando, um dia, descobrirmos as virtudes do trem elétrico, tudo mudará.