Ibama atrasa o trem da Ferrovia Transnordestina
Primeiro trecho da estrada de ferro que mudará economia da região Nordeste está pronto, mas não pode operar. Acredite.
Somos um país distinto dos outros. Temos brasileiros sábios, mas, também, sabidos, e isto faz muita diferença. Há 10 anos, constrói-se a Ferrovia Transnordestina, cujo primeiro grande trecho, ligando Boa Vista, no Piauí, a Iguatu, no Ceará, ficou pronto e deveria ter sido inaugurado no último dia 26 por um trem cargueiro. A viagem, porém, foi proibida pelo Ibama, cujos técnicos, sabidos, alegaram, acreditem, pendências técnicas que impedem a emissão da competente e indispensável Licença de Operação da estrada de ferro, o que quer dizer a circulação de suas locomotivas e de seus vagões.
Esse empreendimento, que segue sendo implantado pela cearense Marquise Infraestrutura no acelerado ritmo do frevo, é essencial, podemos dizer vital para o desenvolvimento da economia de parte do Nordeste. Seus trilhos ligarão a zona produtora de grãos e fibras do Maranhão e do Piauí e a de frutas do Polo Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) ao Porto do Pecém.
Em 2027, está previsto o fim da obra de infraestrutura dos seus últimos trechos (terraplenagem, cortes e aterros, sistema de drenagem, pontes, viadutos e túneis), de acordo com promessa feita há seis meses pelo presidente da concessionária Transnordestina Logística, Tufi Daher, ao presidente Lula.
Por que o Ibama atrasa o trem do crescimento econômico do Nordeste e do país? Esta pergunta é pertinente, porque só há poucos dias, depois de mais de cinco anos de espera, o Ibama concedeu à Petrobrás licença para a perfuração de um poço exploratório na Margem Equatorial brasileira, mais de 500 quilômetros além da costa de Roraima. Essa exploração é tão importante para o interesse nacional e da própria Petrobras, que as obras de perfuração começaram seis horas depois de emitida a licença.
As pesquisas indicam que na camada pré-sal da Margem Equatorial há um oceano de petróleo que se estende desde Roraima até o Rio Grande do Norte. Essa área alastra-se, também, até a Guiana, onde uma empresa norte-americana está extraindo centenas de milhares de barris diários de excelente petróleo, o que fez multiplicar por três o PIB do país, que segue crescendo.
A Ferrovia Transnordestina está sendo construída com o que de mais moderno há na engenharia ferroviária. Seus trens circularão a uma velocidade média de 80 quilômetros, levando e trazendo, em pouco tempo, as riquezas produzidas pelo agro, pela indústria e pela mineração das áreas de sua influência, as quais, por falta de um transporte eficiente, ainda são conduzidas de caminhão.
Por que, então, o Ibama retarda a licença de funcionamento do trecho Boa Vista-Iguatu? A linha permanente já foi testada com sucesso, não havendo, assim, do ponto de vista técnico e ambiental e pelo lado do bom senso, impedimento para a inauguração das viagens dos trens cargueiros da Transnordestina no seu primeiro trecho concluído.
Imagina-se agora o que acontecerá daqui a cinco meses, quando a Petrobras concluir a perfuração do seu poço exploratório na Margem Equatorial. Estimam os especialistas que a sonda confirmará a existência de petróleo em mais uma área pré-sal. A Petrobras já avisou que quer perfurar mais três poços exploratórios para comprovar essas boas suspeitas. Que farão os técnicos do Ibama? Negarão a Licença Ambiental ou, como já fizeram os organismos ambientais guianenses, darão o sinal verde para a sua exploração comercial?
Tanto na Transnordestina quanto na Margem Equatorial, o que está em jogo é o alto interesse nacional. O Brasil, que já é uma potência petrolífera, tornar-se-á um poderoso player desse mercado de energias fósseis que, pelos próximos 30 anos, no mínimo, ainda fornecerão energia para o mundo.
No que tange ao modal ferroviário da logística de transporte, o Brasil só agora, com o apoio da China, acorda para a necessidade urgente de trocar o caminhão pelos trens de carga. Por enquanto, as ferrovias brasileiras não têm as catenárias que sustentam os cabos elétricos das estradas de ferro modernas e de alta velocidade da Europa e da Ásia. Assim, seguiremos por vários anos ainda, utilizando locomotivas movidas a óleo diesel ou biodiesel. Quando, um dia, descobrirmos as virtudes do trem elétrico, tudo mudará.
Nessa época, certamente, uma nova elite política estará a comandar este país. Este é o sonho que estimula, hoje, a juventude brasileira.
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