Hidrogênio Verde no Ceará: o lobby do petróleo é contra
No debate sobre a viabilização dos projetos de produção do H2V no Complexo do Pecém, outro especialista em energia rebate os que são contra
Afinal, são viáveis ou não os projetos de implantação de unidades industriais para a produção de Hidrogênio Verde (verde porque produzidos com energias renováveis) no Complexo do Pecém, como os da Fortescue e da Casa dos Ventos?
Esta coluna abrigou aqui, nos últimos dias, duas opiniões céticas -- a do engenheiro Maurício Tolmasquin, especialista em energia, e a do economista Marcos Holanda – que duvidam dessa viabilização, e as dos engenheiros Adão Linhares, um especialista na área; Maia Júnior, ex-vice-governador e ex-secretário da Infraestrutura e do Desenvolvimento Econômico do governo Cará; e Jurandir Picanço, consultor em Energia da Fiec e Presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Ceará, igualmente especialista no assunto, todos a favor da viabilidade dos empreendimentos na geografia da ZPE cearense.
Hoje, quem mete sua colher de pau na panela deste debate é José Carlos Braga, engenheiro e, também, especialista em energia. Ele transmitiu à coluna um texto com suas opiniões, que são as que se seguem:
“Neste quesito tão fundamental à sustentabilidade do homo sapiens dentro da biosfera onde estamos inseridos, não podemos nos valer de torcidas tal e qual um clássico rei ou um Fla-Flu, pois se trata de abreviar ou não a extinção da espécie humana.
“A verdade é que o Hidrogênio Verde (H2V) apresenta-se hoje como o único combustível renovável capaz de produzir, em escala quase infinita, a substituição de todos os demais, deixando o menor nível de danos ambientais.
“Assim, é bastante coerente e real o paralelo traçado pelo colega Adão Linhares entre o início das eólicas e o seu estabelecimento de fato. Aliás, a posição cética de Maurício Tolmasquim em relação ao Hidrogênio Verde assemelha-se à postura de homens medianos que jamais ajudaram a promover um futuro mais profícuo para a humanidade em questões energéticas, desde a descoberta do controle do fogo, marco fundamental na evolução humana, ocorrido provavelmente entre 1,8 milhão e 300 mil anos atrás, com o Homo Erectus.
“O H2V é realmente a nova matriz energética a ser utilizada, e os visionários de hoje já estão cientes dessa maravilha e, também, de onde estão os melhores locais para o seu desenvolvimento em escala mundial. E o Ceará é um desses locais.
“Enfileirando-se ao nefasto conceito de Tolmasquim e de forma recorrente, ressurge a velha opinião do economista Marcos Holanda, que sequer teve a delicadeza de aprofundar-se e ler todo o trabalho de Adão Linhares, evocando os mesmos antigos argumentos utilizados pelos protagonistas dos petrodólares -- o atual preço competitivo dos combustíveis fósseis versus o do H2V, como se isso fizesse parte da lógica dinâmica da evolução humana.
“Caso esse sórdido diapasão se apresentasse como corolário, ainda estaríamos na Idade da Pedra e no máximo sendo movidos a tração animal dos irracionais, a exemplo do comportamento de alguns pseudoracionais.
“Parafraseando o jornalista angolano José Eduardo Agualusa em seu artigo ‘Como Enfrentar um Predador’, ele comenta: ‘...não se foge de um Leão. O melhor é enfrentá-lo de pé, olhando-o nos olhos, e erguendo os braços’...".
“Este enfrentamento energético contra agentes predatórios poderosíssimos significa uma luta em prol da Humanidade, do Brasil e do Nordeste, que inapelavelmente ocorrerá em várias etapas, nas quais não caberá o negacionismo. Somente o esforço e a consciência de cada um levarão à escolha do lado que melhor lhe aprouver para um futuro próximo e próspero.”
Como se observa, no último parágrafo do seu arrazoado, Jose Carlos Braga refere-se ao que chama de “agentes predatórios poderosíssimos”, provavelmente aludindo ao fortíssimo e muito atuante lobby internacional do petróleo.
Como aqui já foi dito ontem, as energias fósseis, o petróleo como protagonista, ainda reinarão por muito tempo, mas há um gigantesco esforço da indústria mundial no sentido de despoluir o planeta e sua atmosfera. E a crescente fabricação e a incrível rapidez na comercialização de veículos automotores -- automóveis, caminhões e ônibus -- são um bom sinal e uma boa notícia.
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