Hidrogênio Verde no Ceará: o lobby do petróleo é contra

No debate sobre a viabilização dos projetos de produção do H2V no Complexo do Pecém, outro especialista em energia rebate os que são contra

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 07:30)
Legenda: As críticas que se fazem hoje contra o alto custo do hidrogênio verde são as mesmas que se fizeram no início da energia eólica
Foto: Shutterstock
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Afinal, são viáveis ou não os projetos de implantação de unidades industriais para a produção de Hidrogênio Verde (verde porque produzidos com energias renováveis) no Complexo do Pecém, como os da Fortescue e da Casa dos Ventos?  

Esta coluna abrigou aqui, nos últimos dias, duas opiniões céticas -- a do engenheiro Maurício Tolmasquin, especialista em energia, e a do economista Marcos Holanda – que duvidam dessa viabilização, e as dos engenheiros Adão Linhares, um especialista na área; Maia Júnior, ex-vice-governador e ex-secretário da Infraestrutura e do Desenvolvimento Econômico do governo Cará; e Jurandir Picanço, consultor em Energia da Fiec e Presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Ceará, igualmente especialista no assunto, todos a favor da viabilidade dos empreendimentos na geografia da ZPE cearense. 

Hoje, quem mete sua colher de pau na panela deste debate é José Carlos Braga, engenheiro e, também, especialista em energia. Ele transmitiu à coluna um texto com suas opiniões, que são as que se seguem: 

“Neste quesito tão fundamental à sustentabilidade do homo sapiens dentro da biosfera onde estamos inseridos, não podemos nos valer de torcidas tal e qual um clássico rei ou um Fla-Flu, pois se trata de abreviar ou não a extinção da espécie humana. 

“A verdade é que o Hidrogênio Verde (H2V) apresenta-se hoje como o único combustível renovável capaz de produzir, em escala quase infinita, a substituição de todos os demais, deixando o menor nível de danos ambientais. 

“Assim, é bastante coerente e real o paralelo traçado pelo colega Adão Linhares entre o início das eólicas e o seu estabelecimento de fato. Aliás, a posição cética de Maurício Tolmasquim em relação ao Hidrogênio Verde assemelha-se à postura de homens medianos que jamais ajudaram a promover um futuro mais profícuo para a humanidade em questões energéticas, desde a descoberta do controle do fogo, marco fundamental na evolução humana, ocorrido provavelmente entre 1,8 milhão e 300 mil anos atrás, com o Homo Erectus. 

“O H2V é realmente a nova matriz energética a ser utilizada, e os visionários de hoje já estão cientes dessa maravilha e, também, de onde estão os melhores locais para o seu desenvolvimento em escala mundial. E o Ceará é um desses locais. 

“Enfileirando-se ao nefasto conceito de Tolmasquim e de forma recorrente, ressurge a velha opinião do economista Marcos Holanda, que sequer teve a delicadeza de aprofundar-se e ler todo o trabalho de Adão Linhares, evocando os mesmos antigos argumentos utilizados pelos protagonistas dos petrodólares -- o atual preço competitivo dos combustíveis fósseis versus o do H2V, como se isso fizesse parte da lógica dinâmica da evolução humana. 

“Caso esse sórdido diapasão se apresentasse como corolário, ainda estaríamos na Idade da Pedra e no máximo sendo movidos a tração animal dos irracionais, a exemplo do comportamento de alguns pseudoracionais. 

“Parafraseando o jornalista angolano José Eduardo Agualusa em seu artigo ‘Como Enfrentar um Predador’, ele comenta: ‘...não se foge de um Leão. O melhor é enfrentá-lo de pé, olhando-o nos olhos, e erguendo os braços’...". 

“Este enfrentamento energético contra agentes predatórios poderosíssimos significa uma luta em prol da Humanidade, do Brasil e do Nordeste, que inapelavelmente ocorrerá em várias etapas, nas quais não caberá o negacionismo. Somente o esforço e a consciência de cada um levarão à escolha do lado que melhor lhe aprouver para um futuro próximo e próspero.” 

Como se observa, no último parágrafo do seu arrazoado, Jose Carlos Braga refere-se ao que chama de “agentes predatórios poderosíssimos”, provavelmente aludindo ao fortíssimo e muito atuante lobby internacional do petróleo.  

Como aqui já foi dito ontem, as energias fósseis, o petróleo como protagonista, ainda reinarão por muito tempo, mas há um gigantesco esforço da indústria mundial no sentido de despoluir o planeta e sua atmosfera. E a crescente fabricação e a incrível rapidez na comercialização de veículos automotores -- automóveis, caminhões e ônibus -- são um bom sinal e uma boa notícia.  

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