Tarifaço começou e pequenas e médias empresas correm risco maior

Leandro Turaça, da Ouro Preto Investimentos, diz que, com restrição de crédito, chance de inadimplência e de demissões em massa é real,

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 09:22)
Legenda: As pequenas e médias empresas são as que mais sofrerão com o tarifaço, diz Leandro Turaça, da Ouro Preto Investimentos
Foto: Kid Júnior / SVM
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Com vigência desde zero hora desta quarta-feira, 6 de agosto, a tarifa de 50% anunciada por Donald Trump contra o Brasil deve atingir 56,6% das exportações brasileiras para os Estados Unidos, ameaçando cerca de US$ 9,4 bilhões da balança comercial em apenas 12 meses, mesmo com as exceções pontuais incluídas pelo governo norte-americano.  

O tarifaço do governo norte-americano compromete, no Brasil, cadeias produtivas, reduz a atividade industrial e mina a confiança de investidores de longo prazo. O impacto é especialmente severo para as pequenas e médias empresas, que correm o maior risco nesse cenário. Com contratos sendo suspensos, fluxo de caixa pressionado e acesso limitado ao crédito bancário, muitas delas podem enfrentar uma nova onda de inadimplência. O próprio governo já admite que a absurda tarifa pode acelerar a inflação e aumentar o desemprego, agravando ainda mais o ambiente de negócios que já vinha fragilizado por incertezas fiscais e juros elevados. 

De acordo com Leandro Turaça, sócio gestor da Ouro Preto Investimentos, as empresas atingidas pela medida já operam com margens comprimidas e pouca folga financeira.  

“A imposição de tarifas nesse nível empurra parte relevante da cadeia para uma situação-limite: contratos suspensos, quebra de fluxo de caixa e uma corrida por crédito emergencial num ambiente que já é seletivo. Sem acesso rápido a instrumentos fora do sistema bancário tradicional, como FIDCs, o risco de inadimplência e demissões em massa se torna real, especialmente entre pequenas e médias exportadoras. É uma crise de liquidez com reflexo direto no chão de fábrica”, diz Turaça.  

Diante disso, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) ganham destaque como rota emergencial de liquidez. Apenas no primeiro semestre de 2025, essa modalidade movimentou R$ 28,8 bilhões, com patrimônio total de R$ 687 bilhões. A Ouro Preto Investimentos estima que o setor pode alcançar R$ 2,8 trilhões até 2030, consolidando-se como uma das principais alavancas para manter o crédito empresarial funcionando fora do sistema bancário tradicional.  

Além dos FIDCs, outras estratégias vêm sendo consideradas por empresas que buscam preservar capital e manter a operação diante da turbulência. A antecipação de recebíveis via mercado de capitais, por exemplo, permite que empresas convertam suas vendas a prazo em liquidez imediata, reduzindo a exposição ao risco de inadimplência dos clientes.  

A renegociação de contratos com cláusulas de proteção cambial tem sido usada para mitigar os efeitos da volatilidade do dólar sobre custos operacionais, especialmente para quem importa insumos ou depende de contratos atrelados à moeda americana. Há também um movimento de dolarização parcial de receitas, visando preservar margem em setores com exposição internacional.  

Por fim, comenta Leandro Turaça, cresce o esforço para diversificar mercados, com foco em exportações para América Latina, Oriente Médio e África, regiões que vêm ganhando relevância como alternativa ao eixo EUA-China. 

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