Paulo Rabello de Castro: saída do Brasil é pelas reformas e redução de gastos

Para o economista, que foi presidente do IBGE, se o tarifaço prosseguir por muito tempo, o PIB brasileiro poderá cair a zero

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 14:47)
Legenda: Paulo Rabello e Castro fala sobre o cenário atual e futuro da economia brasileira para dezenas de empresários cearenses o BS Design
Foto: Divulgação
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Dezenas de empresários e executivos cearenses ouviram ontem do economista Paulo Rabello de Castro, que foi presidente do IBGE e hoje é um dos mais requisitados consultores empresariais do país, um diagnóstico sobre a cena atual da economia brasileira, que enfrenta problemas para cujas soluções ele aponta uma série de providências, entre as quais a redução dos gastos sociais e as reformas Trabalhista e Previdenciária. 

Promovida pela Academia Cearense de Economia, presidida por Sérgio Melo, a palestra de Paulo Rabello de Castro aconteceu no auditório do edifício BS Design. Ele falou sobre a inserção do Brasil no atual e turbulento contexto internacional.  

Durante duas horas, ele prendeu a atenção do público, dizendo, em resumo, o seguinte: 

os motivos comerciais do tarifaço de Donald Trump não se sustentam em teorias econômicas válidas, citando o exemplo do déficit comercial dos EUA, que pode ser compensado por superávits em serviços ou entrada de capital; a fragilidade financeira dos EUA, cuja dívida mobiliária ultrapassa 120% do PIB, o que restringe a capacidade do país de lidar com taxas de juros elevadas. Essa vulnerabilidade, segundo Rabello, é um dos fatores que impulsionam as ações agressivas de Trump; 

o Brasil tem uma influência 5.2 vezes menor que a dos Estados Unidos em termos comerciais. A dependência dos EUA das exportações brasileiras é de apenas 2.4% da pauta total, enquanto o México (82%) e o Canadá (65%) são muito mais dependentes do mercado americano. A Europa, por outro lado, tem uma relação mais equilibrada (0.4 de influência dos EUA), o que lhe confere maior poder de retaliação; 

a exposição do Brasil à China é "bastante elevada", especialmente devido à exportação de commodities de baixo valor agregado, enquanto a China exporta produtos acabados. Paulo Rabello adverte que essa dependência pode tornar-se uma ameaça, caso a China decida impor barreiras comerciais, evidenciando que o Brasil está cada vez mais "por sua conta"; 

Rabello traçou cenários para a economia brasileira, começando pelo Cenário Trump (Linha Vermelha): com a manutenção das tarifas americanas, o PIB pode cair para perto de zero no início do próximo ano, impactando o emprego e o bem-estar social, o que seria desfavorável para a reeleição do presidente; Cenário "Limonada" (Linha Azul): a partir de propostas práticas para fomentar o mercado interno (medidas fiscais, monetárias e creditícias), o Brasil poderia transformar a crise em oportunidade, alcançando um crescimento mais robusto;  

Para Paulo Rabello de Castro, o Brasil terá de tomar medidas duras, incluindo estas:  

Revisão dos Gastos Sociais:a relação entre gastos sociais e investimentos fixos no orçamento governamental mostra um desequilíbrio, com gastos sociais crescentes e investimentos produtivos estagnados. A proposta não é cortar gastos sociais, mas reformulá-los para maior eficiência e impacto reprodutivo; 

Reequilíbrio Financeiro: A distorção entre a rentabilidade da renda fixa (governamental) e da renda variável (empresas) no Brasil é apontada como um problema. A renda fixa paga muito mais que a renda variável, desincentivando o investimento produtivo; 

Reformas Trabalhista e Previdenciária: a crescente informalidade do emprego inviabiliza o financiamento da previdência, que é baseada em carteira assinada. A previdência atual é descrita como "massa falida e fraudada" e a solução passa pela capitalização do sistema e pela separação da assistência social dos benefícios previdenciários; 

Projeto de Nação e Renovação Política: o Brasil cresceu a uma média de 3.7% na renda per capita antes de 1980, caindo para 0.8% após a Constituição de 1988. A proposta é "reentortar essa curva" para cima, dobrando a renda per capita no futuro próximo. Isso exige um novo projeto de nação, com renovação política e a coragem de sair do "bipartidarismo ideológico". 

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