Fiec diz aos jovens da AJE: Ceará será polo mundial do hidrogênio verde

Ricardo Cavalcante, presidente da Federação das Indústrias, mostrou o Master Plan do Hub do H2V do Pecém, cujos primeiros investimentos somam US$ 31,6 bilhões

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 06:06)
Legenda: Ricardo Cavalcante, presidente da Fiec, fala sobre H2V para os filiados da Associação dos Jovens Empresários (AJE) de Fortaleza
Foto: Egídio Serpa

Faz algum tempo que o futuro chegou ao Brasil, e aqui no Ceará ele já tem domicílio – a ZPE do Pecém, onde se instalarão as empresas nacionais e estrangeiras que produzirão, para consumo interno e, principalmente, para a exportação, o hidrogênio verde que será produzido com energias renováveis hidráulica, eólica e solar.

Depois de ouvirem ontem, durante uma hora, detalhada exposição do presidente da Federação das Indústrias (Fiec), Ricardo Cavalcante, sobre o Plano Master do Hub do H2V a ser instalado no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, os quase 100 filiados da Associação dos Jovens Empresários (AJE) de Fortaleza saíram com a certeza de que o Ceará será, até 2030, um polo mundial produtor da nova energia do planeta, em cuja primeira etapa serão investidos US$ 31,6 bilhões – algo como R$ 189,6 bilhões ao câmbio de US$ 1 por R$ 6.

Quem no empresariado, no governo, na academia ou na arquibancada do Castelão ainda duvidar da viabilidade do Hub do Hidrogênio Verde do Pecém deve procurar com urgência o presidente da Fiec, que, com a desenvoltura de quem domina o tema, sepulta qualquer incerteza a respeito “do que nos espera nos próximos anos, e o que vem aí são projetos que mudarão, de forma radical, a economia do Ceará e, também, a do mundo, principalmente a da Europa, para onde irá grande parte do hidrogênio verde que será produzido aqui”, como disse, com outras palavras, Ricardo Cavalcante.

Falando na cobertura da Casa da Indústria para um auditório atento e absolutamente silente – no qual se destacavam os empresários Beto Studart, Igor Queiroz Barroso, Cristiano Maia, Ricard Pereira, Luís Carlos Queiroz e Chico Esteves e o coordenador da AJE, Lucas Melo – o presidente da Fiec lembrou que o Masterplan do H2V do Pecém foi elaborado por especialistas do MIT (Massachussets Institute of Technology), uma das três mais importantes universidades do mundo, os quais têm dito e repetido que o Ceará será um dos importantes centros mundiais de produção do hidrogênio verde.

Sustentado por slides com números e informações extraídos do Masterplan, Ricardo Cavalcante disse que, hoje, 73% das emissões globais de CO2 originam-se nas empresas geradoras de energia; isto representa a queima anual de 14,8 milhões de toneladas de petróleo. Mais: 51% da energia produzida no mundo são consumidos pelos países da Ásia. O Brasil responde por 49% da energia consumida na América Latina.

Enquanto no mundo as energias renováveis representam apenas 14,7%, no Brasil elas já são mais de 50, e com viés de alta. O potencial de geração solar no Brasil é de 28,5 mil gigawatts (GW), sendo que o Nordeste responde por 34% desse total (9.700 GW). Por sua vez, o potencial nacional de geração eólica onshore (em terra firme) é de 880 GW, dos quais 309 GW (35% do total) estão na região nordestina. No Brasil, o potencial de geração eólica offshore, ou seja, dentro do mar, é de 1.350 GW, enquanto no Nordeste é de 356 GW (26,3% do total).

É mais extensa, ainda, a lista de vantagens comparativas a favor do Brasil na geração de energias renováveis: o custo de produção de energia eólica no Brasil foi reduzido em 61%, saindo de US$ 84,8 por MWh, no ano de 2009, para US$ 33,1 em 2023 (na Alemanha esse custo é de 49 euros por MWh, segundo dados de 2023).

No Ceará, o potencial de geração solar fotovoltaica é de 643 GW, enquanto o de geração eólica onshore é de 94 GW, sendo de 117 GW o potencial offshore.

“O Ceará é o único lugar do planeta que possui energia solar, eólica onshore e eólica offshore com qualidade e em abundância”, disse com todo o entusiasmo o presidente da Fiec, na opinião de quem o sol e o ventos estão domiciliados na geografia cearense, “e os grandes investidores sabem disto”, citando um deles – Mário Araripe, fundador e controlador da Casa dos Ventos, com quem acabara de reunir-se no quinto andar da Casa da Indústria, o edifício sede da Fiec.

Cavalcante não revelou do que tratou com Araripe, mas alguns empresários bem-informados, presentes ao evento, intuíram que o tema do encontro foi o grande projeto da Casa dos Ventos de implantar, na ZPE do Pecém, não só uma unidade produtora de hidrogênio verde, mas também um Data Center.

Trata-se de um projeto – como todo Data Center – consumidor intensivo de energia elétrica, algo de que o Ceará dispõe, mas com um gargalo importante: a falta de Linhas de Transmissão, um assunto que hoje envolve o presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, o governador Elmano de Freitas, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o vice-presidente Geraldo Alckmin, e ninguém menos do que o próprio presidente Lula. O projeto do Data Center da Casa dos Ventos é hoje de interesse do estado brasileiro.

Ricardo Cavalcante disse, com outras palavras, aos jovens empresários da AJE que “o mundo, principalmente a Europa, está de olho no Brasil, sendo que a Alemanha tem os dois olhos voltados para o Ceará por causa da disponibilidade das energias renováveis indispensáveis à produção do H2V”.

Ele se referiu à importância estratégica da presença da Autoridade do Porto de Roterdã na composição societária da Companhia do Desenvolvimento do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP S/A) – os holandeses são donos de 30% do capital da empresa cearense, “e este é um dado da maior significação”.

Ricardo Cavalcante recordou que, no dia 10 de maio de 2023, o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, esteve pessoalmente no Pecém, celebrando um acordo que criou o Corredor do Hidrogênio Verde entre os portos de Pecém e Roterdã. Nesse mesmo dia, em Roterdã, o vice-presidente da Fiec, Carlos Prado, estava participando, representando a entidade, da maior feira mundial de energia, cuja abertura foi feita pelo próprio Mark Rutte em solenidade transmitida diretamente de Pecém para a Holanda. Prado, emocionado e incentivado por um sentimento bairrista, aplaudiu com força o discurso do holandês

O presidente da Fiec também disse que os alemães estão há dois anos trabalhando na instalação de uma rede de gasodutos que distribuirá o hidrogênio verde a ser importado do Pecém e de outras partes do mundo. E acentuou que, enquanto tudo isso acontece, cientistas na Europa, nos EUA e na Ásia trabalham em pesquisas cujo objetivo é o de reduzir o custo dos eletrolisadores, que separarão as moléculas da água para a produção do hidrogênio, que, por sua vez, será verde porque no processo de sua fabricação serão usadas as energias renováveis.

É o tamanho, a potência e a capacidade de produção dos eletrolisadores que concentram as atenções dos cientistas.

Ricardo Cavalcante advertiu o auditório, usando outras palavras, para o fato de que os cearenses “não podemos ficar de costas para o que está acontecendo aqui e no mundo”. E disse que, aqui, a australiana Fortescue mantém seu projeto de produzir H2V no Pecém, no qual investirá – ele revelou – US$ 6 bilhões.

Dos 39 Memorandos de Entendimento celebrados pelo governo do Ceará com empresas nacionais e estrangeiras, quatro já estão com projetos prontos – esperando a licença ambiental – para o início das obras de construção dos seus empreendimentos.

O coordenador da AJE, Lucas Melo, falou antes da palestra de Ricardo Cavalcante e anunciou que está sendo elaborado o livro sobre os 35 anos de atividade da entidade. Informou, ainda, que, no próximo dia 26, no Ideal Clube, a AJE promoverá novo Almoço Empresário, dessa vez recebendo o empresário Edson Queiroz Neto, que falará sobre sua trajetória empresarial.

Detalhe: quase no mesmo instante em que o presidente da Fiec falava para os jovens da AJE Fortaleza, o governador Elmano de Freitas recebia, no Palácio da Abolição, a alta cúpula da Fortescue na América Latina. Os executivos da companhia australiana reiteraram o compromisso da Fortescue de implantar no Pecém sua grande unidade de produção do hidrogênio verde.

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