Exportações x Importações: EUA e China polarizam o mercado mundial
O economista cearense Célio Fernando, um requisitado consultor empresarial, diz que no comércio global o Brasil ainda é periférico. E que o Ceará reduziu suas vendas para o exterior
Saíram com duas convicções os 24 empresários cearenses da indústria e do agro que ouviram segunda-feira, 21, a palestra do economista Célio Fernando, que já serviu ao governo do estado e hoje capitaneia uma requisitada empresa de consultoria: 1) a palestra confirmou a competência do palestrante; 2) o mundo da economia está hoje e estará pelos próximos anos divididos entre dois polos – o dos Estados Unidos e o da China.
Célio Fernando começou apresentando os impressionantes números do comércio exterior, ou seja, os relativos às exportações e às importações. A China liderou em 2024 as exportações mundiais, com vendas que alcançaram a incrível marca de US$ 3,6 trilhões, ou 14,6% das vendas globais (os EUA foram o segundo com US$ 2,5 trilhões e 8,5%, respectivamente).
Por sua vez, os Estados Unidos foram, em 2024, os líderes do planeta nas importações, com a marca de US$ 3,4 trilhões, representando 13,6% de todas as compras do mundo (a China foi a segunda colocada com US$ 2,6 trilhões e 10,5%, respectivamente).
Na corrente do comércio internacional, o Brasil ocupa posição periférica, segundo Célio Fernando, que, ao longo de sua fala, se apoiou em estatísticas e números oficiais de organismos internacionais. Ele expôs o seguinte:
Até 2017, os EUA operavam dentro de um regime comercial liberal, com tarifas médias de apenas 3%, firmemente ancorado em acordos multilaterais e princípios técnicos. Essa lógica foi quebrada com a ascensão de Donald Trump, que, já em 2018, iniciou uma guerra comercial contra a China, elevando as tarifas sobre mais de US$ 360 bilhões em produtos. Em 2020, o antigo Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte, envolvendo EUA, Canadá e México) foi substituído pelo USMCA, com cláusulas mais rígidas para setores automotivos e agrícolas.
Em abril deste 2025, Trump ampliou sua doutrina protecionista com o pacote denominado de Liberation Day Tariffs. A medida impôs tarifas sobre 86% de todas as importações norte-americanas, com alíquotas médias saltando de 3% para quase 30%. Os critérios deixam de ser técnicos -- como dumping ou subsídios -- e passam a basear-se em déficits bilaterais, atingindo não só adversários estratégicos (China: 65%), mas também aliados históricos (México, Canadá, Coreia do Sul e Israel).
Célio Fernando deteve-se no balanço das exportações e das importações brasileiras. E revelou o ranking dos principais parceiros do Brasil em exportações. Esse ranking é liderado pela China, para cujo destino vão em produtos o equivalente a US$ 94,3 bilhões; em segundo lugar, os EUA, com US$ 40,3 bilhões (menos da metade das exportações para os chineses); em terceiro, a Argentina, com US$ 14,5 bilhões; em quarto, os Países Baios (Holanda), com US$ 13,2 bilhões; e, em quinto, Cingapura, com US$ 11,7 bilhões.
No lado das importações, é a China, outra vez, que lidera o ranking dos parceiros comerciais que mais vendem para o Brasil, com US$ 63,3 bilhões; em segundo lugar, os EUA, com US$ 40,6 bilhões; em terceiro lugar, a Alemanha, com US$ 16,4 bilhões; em quarto, a Argentina, com US$ 14,9 bilhões; em quinto, a Rússia, com US$ 10,8 bilhões.
NÚMEROS DO CEARÁ - Célio Fernando apresentou, também, os números do comércio exterior do Ceará. Em 2022 e 2024, o Ceará apresentou déficits consecutivos em sua balança comercial, com destaque para 2022, quando houve um déficit de US$ 2,6 bilhões. A corrente de comércio caiu de US$ 7,2 bilhões em 2022 para US$ 4,5 bilhões em 2024, refletindo retração nas exportações e importações cearenses.
No ano passado de 2024, as exportações cearenses representaram apenas 0,44% do total exportado pelo Brasil, “evidenciando a baixa inserção do estado no comércio internacional e o potencial de expansão de sua pauta exportadora”.
Depois de sua palestra, Célio Fernando respondeu a perguntas dos empresários sobre questões de geopolítica e geoeconomia. Ele reforçou a necessidade de o Brasil encontrar maior competividade global para sair de “dependências coloniais”.
De acordo com ele, “a educação é um dos principais caminhos para alcançarmos inovação tecnológica e uma neo-industrialização, criando, além de espaços para novos mercados, maior valor para os nossos produtos”. Ele disse que “há questões estruturais que nos restringem no excesso de burocracia, no debate tributário e no sistema político deformado de eleições de dois em dois anos, interesses que não colaboram com a ética necessária para o desenvolvimento sustentável”.
Para Célio Fernando, há aspectos globais que envolvem uma nova ordem. Lembrou que empresas norte-americanas se encontram com suas tecnologias e produções em muitos outros países, perdendo sentido o protecionismo nesta mudança de época.
“O Brasil pode acordar do berço esplêndido sem polarizações infrutíferas e trabalhar de forma cooperativa internamente para ocupar um lugar de protagonismo na economia global, e isto está acima do embate político superficial existente”, disse Célio Fernando, acrescentando:
“A diplomacia deve ser mais comercial, não perdendo sua história e seu vínculo com a diplomacia institucional global. Talentos temos muitos, precisamos encontrar novas lideranças que tratem com maior profundidade este novo contexto da ordem global”, finalizou.
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