EUA x China: as estratégias de cada um pela liderança mundial
Como a China tornou-se a potência econômica, tecnológica e inovadora de hoje e como os EUA estão a reagir ao avanço do gigante asiático

Maior empresa de consultoria para latinos residentes nos Estados Unidos, a Oxford Group, com sede em Miami, onde atua há 40 anos, elaborou e publicou um ligeiro estudo a respeito da realidade da economia da China diante das mudanças na política comercia norte-americana. E vice-versa.
O estudo começa referindo-se à Inteligência e à Habilidade chinesas. E diz:
“Há mais de 40 anos, a China, de forma pragmática e silenciosa, iniciou uma transição estratégica que mudou a geopolítica global. Em vez de criar uma nova teoria econômica, passou a subordinar a economia nacional aos interesses de Estado. Criou uma dicotomia prática: adotou o capitalismo de mercado para fomentar crescimento e inovação; manteve o controle centralizado comunista para garantir a estabilidade do poder político.
“Esse modelo híbrido permitiu à China: crescer a taxas médias de 9% ao ano entre 1980 e 2010; retirar mais de 800 milhões de pessoas da pobreza; tornar-se a segunda maior economia do mundo em PIB nominal (US$ 17,5 trilhões em 2023), e a primeira em paridade de poder de compra (PPC).
“Com sua política industrial fortemente subsidiada: o governo chinês passou a financiar matéria-prima e salários via estatais, permitindo condições para a prática de dumping em mercados ocidentais; o Ocidente, focado no livre comércio e na maximização do consumo, aceitou de bom grado a ‘China barata’, compensando com produtos acessíveis a potencial perda do poder de compra causada por impostos e serviços públicos caros.”
O estudo prossegue, agora abordando a nova estratégia chinesa:
“O Projeto Global: A Nova Rota da Seda. A estratégia de longo prazo da China ficou clara com a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI). Lançada oficialmente em 2013, já envolve mais de 150 países, com investimentos superiores a US$ 1 trilhão."
De acordo com o estudo, esse projeto:
“Controla portos estratégicos em mais de 30 países; a China opera hoje 7 dos 10 maiores portos do mundo, e controla parcialmente 4 terminais nas Américas, incluindo áreas próximas ao Canal do Panamá, o que gerou alarme nos EUA.
“Forneceu equipamentos portuários com tecnologia embarcada, supostamente com sistemas de monitoramento ligados ao Partido Comunista; enviou centenas de milhares de estudantes para universidades americanas e europeias, com instrução clara de retornar com know-how tecnológico e científico; criou centros de excelência tecnológica, como Shenzhen e Hangzhou, superando em algumas áreas (como IA e energia solar) os centros ocidentais”.
Agora, o estudo passa a abordar o Declínio Ocidental e o Deslocamento de Prioridades, ressaltando:
“Enquanto isso, os EUA deslocaram o foco de suas universidades para pautas identitárias, humanistas e artísticas, muitas vezes desconectadas das necessidades técnicas e industriais; acumularam uma dívida estudantil superior a US$ 1,77 trilhão nos EUA, com muitos graduados ocupando empregos de baixa qualificação; abandonaram o ensino técnico e a formação em engenharia, ciência aplicada e manufatura de ponta.
“A consequência: uma geração endividada e mal preparada para os desafios da nova ordem econômica global.
“A Reação dos EUA: Segurança e Interesse Nacional como Vetor Econômico – A administração norte-americana recente (desde Trump até Biden, cada um à sua maneira) iniciou um movimento de reorientação econômica com foco na segurança nacional, reconhecendo que os EUA:
“Vendiam muito menos do que compravam (déficit comercial de mais de US$ 1 trilhão em 2022); gastavam muito mais do que arrecadavam (déficit fiscal de US$ 1,7 trilhão em 2023); estavam altamente endividados (dívida pública acima de US$ 34 trilhões em 2024); produziam pouco do que consumiam; estavam dependentes da China em insumos estratégicos como chips, medicamentos e minerais raros.
“Iniciaram medidas como:
Externo: realinhamento geopolítico com países estratégicos (Índia, Israel, Austrália, México e países do Golfo); redução de ajuda externa sem retorno claro e de interesse nacional; tentativas de recuperar influência sobre o Canal do Panamá; presença militar no Ártico e na Groenlândia, pela rota estratégica do Atlântico; transferência dos custos da OTAN e de segurança para Europa e Ásia; busca ativa de matérias-primas críticas (como terras raras e semicondutores) fora da China; estímulo à produção nacional via Lei CHIPS e IRA (US$ 280 bilhões para semicondutores e tecnologia limpa).
“Interno: reindustrialização do país com retorno de fábricas (reshoring); incentivo à produção interna com subsídios, cortes de impostos e compra governamental; estímulo à formação técnica nas universidades; tentativas de simplificar o sistema tributário (com propostas de corte de imposto de renda para a classe média).
“Comercial: Fim da era da globalização irrestrita; Imposição de tarifas de até 25% a 100% sobre produtos chineses (painéis solares, carros elétricos, chips); acordos comerciais bilaterais, e não multilaterais, com cláusulas de equilíbrio produtivo; redução do déficit da balança comercial como prioridade estratégica.”
O estudo da Oxford Group aborda agora “O Mundo em Reordenação”, ressaltando que:
“A nova ordem econômica está subordinada à soberania, segurança e estratégia de longo prazo. O modelo neoliberal globalizado está sendo substituído por um capitalismo estratégico, que:
“Define prioridades produtivas; protege setores-chave; condiciona o comércio à segurança e independência tecnológica.
“O Ocidente, se quiser sobreviver enquanto potência, terá que reaprender a produzir; voltar a valorizar ciência, engenharia e inovação aplicada; blindar suas cadeias produtivas e tecnológicas; defender suas instituições não apenas com retórica, mas com resultados concretos.”
O estudo conclui com esta frase: “Entendendo isto, compreenderemos a nova realidade econômica atual”
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