Empresários sugerem a Evandro: “Feche o caixa e repactue contratos”

Para dois industriais e um agricultor, novo prefeito de Fortaleza tem de proibir despesa durante 90 dias. Fim da taxa do lixo foi atitude correta e popular

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(Atualizado às 07:08)
Legenda: Prefeito Evandro Leitão, no dia de sua posse, tem desafios gigantescos a enfrentar, a começar pela saúde financeira da Prefeitura de Fortaleza
Foto: LC Moreira

Houve um tempo – até meados do século passado – em que os pais ensinavam aos filhos: “Quem não pode com o pote não pegue na rodilha”. Rodilha era – e ainda é – um pedaço de pano enrolado à guisa de almofada para proteger a cabeça de quem transportava nela alguma carga pesada.

Em novembro de 2020, o médico José Sarto Nogueira foi eleito prefeito de Fortaleza, pegando a rodilha que lhe dera a população. Mas, mesmo com a cabeça almofadada, ele não suportou o pesado pote de grave responsabilidade que é governar a quarta maior cidade do país em população.

Resultado: Sarto transmitiu ao seu sucessor, Evandro Leitão – que desde quarta-feira, 1, está de posse da mesma rodilha – uma carga no mínimo três vezes maior do que a que recebeu de Roberto Cláudio há 4 anos.

Para começar, essa herança registra um rombo nas contas da PMF cujo valor ainda levará alguns dias para ser levantado com detalhes. Rasparam os cofres do Tesouro Municipal, diziam, no dia da posse de Evandro Leitão, vereadores da gigantesca base de apoio do novo governador da capital cearense.

O que deve fazer o prefeito para superar esse desarranjo financeiro? A pergunta foi dirigida a três empresários, dois da indústria e um do agro, que ontem se reuniram na hora do almoço com o objetivo de jogar conversa fora.

Eles foram unânimes na resposta:

“Deve fazer o que faz qualquer administrador responsável e competente – e eu acho que ele tem esses dois atributos, que são virtudes indispensáveis a quem, na iniciativa privada e no serviço público, carrega a tarefa de gerenciar o patrimônio particular ou coletivo”.

Depois, cada um dos três, a seu modo, ampliou a resposta. Na opinião do agricultor, acostumado ao árduo trabalho de produzir alimentos sob as mais difíceis condições, “a primeira providência do novo prefeito deve ser fechar o caixa”.

Ele explicou:

“Durante 90 dias, deve ser proibido gastar. Isto quer dizer que, ao longo dos três primeiros meses de sua gestão, Evandro Leitão arrecadará tudo o que for possível em impostos, taxas e emolumentos. Ao mesmo tempo, deve convocar todos os fornecedores – principalmente os maiores – para uma conversa séria com um exclusivo objetivo: repactuar os contratos. Olha aqui, meu amigo, a PMF deve-lhe R$ 10 milhões, não tenho como pagar esse volume de dinheiro. Que tal reduzirmos essa dívida para R$ 4 milhões que lhe pagarei em abril? É pegar ou largar!”

Os dois industriais concordaram com a sugestão do seu colega da agricultura, mas a ela acrescentaram as suas.

O primeiro disse:

“Uma medida de grande acerto e de alta e positiva repercussão junto ao povo Evandro Leitão já tomou: mandou ao Legislativo projeto-de-lei extinguindo a taxa do lixo, renunciando a uma receita superior a R$ 100 milhões/ano. Se for feita hoje uma pesquisa sobre a popularidade do novo prefeito, ela deverá estar por volta dos 90% de aprovação, produto dessa providência. Mas há outra medida que ele poderia adotar neste instante de alta credibilidade e legitimidade: a redução do tamanho da máquina da PMF. A Prefeitura tem excesso de secretarias e de organismos vinculados, com exagerado número de cargos comissionados que só servem mesmo para empregar correligionários. Evandro tem maioria suficiente para aprovar o que quiser na Câmara de Vereadores. Estes, porém – e é assim nos legislativos de todo o país – não querem nem ouvir falar em austeridade administrativa.”

O segundo industrial – entre um gole e outro de uma bem gelada cerveja que regou o Bife de Tira servido aos três comensais e ao atento repórter que testemunhou a boa conversa – foi ousado ao emitir sua sugestão:

“Já que a política fiscal do governo da União não contempla o corte de gastos no tamanho que exigem o buraco orçamentário e a crescente dívida pública, o novo prefeito de Fortaleza poderia dar bom exemplo ao país, comandando uma redução de pelo menos 20% nas suas despesas.”

O empresário do agro encerrou a conversa e a reunião com o seguinte comentário:

“Mas aí você está querendo demais de um prefeito do PT” – e todos gargalharam.

O agricultor emendou:

“Mas, como diria Sancho Pança, enquanto há vida há esperança; e a esperança é a última que morre”.

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