Alô, alô, Complexo do Pecém! O Porto de Suape está na área
Os pernambucanos estão dragando o canal interno do seu principal porto, que poderá receber os maiores porta contêineres do mundo. Pecém, que tem condições melhores de operação, precisa de melhorar sua performance
Para o conhecimento do novo comando da Companhia de Desenvolvimento do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP S/A): o porto de Suape, no vizinho Pernambuco, está começando neste mês de janeiro a dragagem do seu canal interno, com o que sua profundidade passará para 16,2 metros. O prazo para a execução dos serviços é de seis meses, período em que serão removidos 3,8 milhões de metros cúbicos de sedimentos.
O mesmo contrato contempla a dragagem e a manutenção da bacia de evolução e dos dois Píeres de Granéis Líquidos (PGLs), que passarão a ter profundidade de até 18,5 metros, suficiente para receber os maiores porta-contêineres do mundo, algo que o Porto de Pecém já tem.
Estão sendo investidos nessa dragagem de Suape R$ 200 milhões, metade dos quais fornecida pelo governo da União, por meio do ministério dos Portos e Aeroportos – do qual é titular o Pernambuco Sílvio Costa Filho – e metade de recursos próprios do governo de Pernambuco.
Em comunicado transmitido a esta coluna, a direção do Porto de Suape diz:
“Trata-se de uma das mais importantes obras de infraestrutura do atracadouro pernambucano, o 6º mais movimentado entre os portos públicos do país. Após a conclusão dos serviços, Suape terá o maior calado operacional para navios de contêineres entre os portos públicos brasileiros e o segundo maior calado operacional do país para granéis líquidos. Os sedimentos removidos serão encaminhados para área de bota-fora, operação já licenciada pela Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH). Todas as autorizações já foram concedidas.”
Pecém tem, segundo os especialistas, condições naturais de operação melhores do que as de Suape. O porto cearense é do tipo offshore (dentro do mar e não na beira da praia), acessado por duas pontes de 2,1 km de extensão e protegido por um molhe de pedras que pode crescer para o Norte, o Oeste e o Leste. E, provavelmente a partir deste ano, vai crescer outra vez para o Oeste, para o que investirá algo como R$ 750 milhões.
O seu Terminal de Múltiplas Utilidades (TMUT) ganhará um novo berço de atracação com área suficiente para a movimentação dos grandes equipamentos das empresas de geração de energia eólica offshore, algo ainda incerto diante do alto custo de implantação desses empreendimentos e, também, pela ação do lobby das empresas que querem aproveitar em terra firme os bons ventos cearenses.
O governo estadual do Ceará tem 70% do capital da CIPP S/A, da qual é sócia, com 30%, a Autoridade Portuária de Roterdã, que administra o maior e mais importante porto da Europa. Os holandeses têm toda a expertise necessária para incrementar a performance de Pecém. Um exportador disse a esta coluna – antes das festas natalinas – o seguinte:
“Pecém precisa de ampliar sua carteira de clientes, e isto exige dedicado e permanente trabalho no Ceará, nos estados vizinhos, no resto do país e, também, no exterior. Os operadores de Pecém têm investido na aquisição e na operação de novos equipamentos, principalmente nos destinados à movimentação de contêineres. Mas algo ainda está faltando, e claramente isto tem a ver com o comando da gestão, que, após dois anos, acaba de mudar outra vez”, comentou a mesma fonte, negando-se a prosseguir na sua análise.
Max Quintino, que saiu da Casa Civil do Palácio da Abolição para a presidência da CIPP S/A, já conhece o tamanho do pepino que tem de descascar. Como é inteligente, aproximar-se-á logo dos representantes de Roterdã para medir a extensão e o volume das dificuldades que a empresa tem hoje – na realidade, essas dificuldades são poucas, mas exigem habilidade, agilidade e competência do gestor para a sua superação.
Quintino poderá, ainda, pedir e recolher – em reuniões privadas – a opinião dos operadores do porto, gente com experiência e com expertise para apontar as falhas e indicar sua solução. Ele é do diálogo, o que conta como ponto a seu favor, desde que, evidente e naturalmente, essa sua virtude se mostre na prática.
Resumo da ópera: o Complexo do Pecém é uma grande vantagem comparativa que favorece o Ceará na hora de o empresário decidir onde investir. Mas – e Max Quintino o sabe – precisa de ter em suas posições-chave profissionais do mercado portuário e da área de infraestrutura e de logística de transporte.
O gestor eficiente é o que sabe cercar-se de auxiliares mais eficientes ainda. Ponto!
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