Por mais esforço que o governo e a iniciativa privada do Ceará tenham feito – e fizeram muito, nos últimos 30 anos – para dar músculos à economia do estado, o resultado ainda é raquítico.
A economia do Ceará continua representando, apenas 2,2% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, um percentual ridículo diante do potencial existente em terra firme, dentro do mar, na inteligência da academia e na vontade de trabalhar da gente cearense.
Mas será possível dobrar o PIB do Ceará em 10 anos, bastando que se tornem realidade os grandes projetos estruturantes, principalmente os de produção do Hidrogênio Verde no Complexo do Pecém e os de geração de energia eólica offshore e onshore e solar fotovoltaica.
De acordo com o que disse ontem na Federação da Agricultura do Ceará o secretário do Desenvolvimento Econômico e do Trabalho, engenheiro Maia Júnior, “está tudo planejado e com meio caminho andado”, referindo-se aos 19 Protocolos de Intenção celebrados com igual número de grandes empresas estrangeira e nacionais para a produção do H2V no Pecém.
“Estamos falando de investimentos da ordem de US$ 40 bilhões (o equivalente a R$ 200,8 bilhões), nos próximos 10 anos, só para a produção de Hidrogênio Verde”, disse Maia Júnior para os produtores rurais e empresários cearenses do agro.
Ele fez referência a “outra montanha de dinheiro, maior ainda”, relativa aos projetos de geração de energia eólica dentro do mar do Ceará e de energia solar fotovoltaica nas áreas mais áridas do sertão cearense. E levantou uma questão que já é causa de debates e de preocupações. Maia disse:
“É muito investimento em áreas sofisticadas da economia e da tecnologia, para as quais ainda não temos mão de obra qualificada, sendo este o nosso imediato e grande desafio: formar e treinar gente para atender às novas demandas do mercado de trabalho”.
O secretário do Desenvolvimento Econômico revelou que 50% da População Economicamente Ativa (PEA) do Ceará estão fora do mercado de trabalho, e a causa primeira desse dado é, justamente, a falta de qualificação da mão de obra, que ainda não domina a tecnologia da digitação, ainda não fala inglês e ainda tem dificuldades com o manejo e as linguagens do computador.
“É um gargalo que se formou por nossa culpa, porque ligamos pouco ou nada para a importância de formar quadros qualificados para as empresas da Economia 4.0 que estão chegando aqui”, acrescentou ele.
Uma prova disso é a constatação de que as empresas cearenses de tecnologia se ressentem da falta de programadores de sistemas. Os poucos que há no mercado local já foram e seguem sendo requisitados, em dólares, por empresas de outros países que os mantêm residindo e trabalhando aqui mesmo no Ceará. É o que se pode chamar de globalização da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).
Mesmo em outras atividades que exigem menos preparo técnico e intelectual da mão de obra, há dificuldades para encontrar bons quadros. Na agricultura, por exemplo, além das funções que são executadas pelos chamados “peões”, isto é, operários de salário-mínimo, há tarefas que exigem certo nível de qualificação profissional, como, por exemplo, o uso do computador e de suas linguagens.
Maia Júnior costuma citar o exemplo do empresário autodidata José Roberto Nogueira, sócio majoritário e CEO da Brisanet, que formou, ele mesmo, seu time de colaboradores.
Hoje, a Brisanet é a maior telecom do Nordeste e seu quadro de executivos é do mais alto nível. Para começar, todos dominam o inglês.