Crédito para a indústria cai 40%, mostra a CNI
Por outro lado, aumentou em 97% o crédito para os consumidores
O volume de crédito destinado à indústria de transformação brasileira despencou 40% entre 2012 e 2024, mostra a Nota Econômica nº 38, elaborada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com base em dados do Banco Central, divulgada nesta quinta-feira, 23.
Os volumes de crédito para as indústrias extrativa e da construção também encolheram: 38% e 29%, respectivamente. Por outro lado, aumentou consideravelmente o crédito para consumidores (97%) e demais setores da economia:
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Administração pública: +118%
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Pessoas físicas: +97%
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Serviços financeiros: +49%
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Agropecuária: +38%
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Eletricidade, gás, água e outras utilidades: +20%
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Outros serviços: +20%
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Transporte e armazenagem: +6%
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Comércio: +3%
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Total de pessoa jurídica: -4%
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Indústria da Construção: -29%
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Indústria Extrativa: -38%
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Indústria de transformação: -40%
Com isso, a participação da indústria no total do crédito da economia brasileira recuou quase pela metade, passando de 27,2% para 13,7% no período. O presidente da CNI, Ricardo Alban, diz que a retração do crédito à indústria é um sinal preocupante e revela um desequilíbrio estrutural na economia.
“O crédito para a indústria tem um efeito multiplicador ímpar sobre os demais setores produtivos e é fundamental para o crescimento consistente do país. O sistema financeiro tem priorizado o consumo em detrimento da produção, comprometendo investimento, inovação e competitividade. Não bastasse isso, as taxas de juros elevadas e a escassez de crédito de longo prazo limitam a modernização do chão de fábrica e ampliam a dependência de importações. É urgente criar condições de financiamento mais adequadas para sustentar o crescimento produtivo do país”, afirma o presidente da CNI, Ricardo Alban.
A queda de oferta do crédito à indústria não se deve a uma redução da oferta total de crédito pelos bancos. O estudo aponta que o volume de operações bancárias manteve participação estável nos ativos das instituições financeiras. O que mudou foi a destinação: nos últimos 12 anos, a fatia destinada a pessoas físicas subiu de 45% para 63% do crédito total, enquanto a das empresas caiu de 55% para 37%.
Essa mudança favoreceu o consumo das famílias, mas deixou a produção em desvantagem. O crédito às pessoas físicas praticamente dobrou no período, enquanto o crédito para empresas se manteve estagnado, e, no caso da indústria, recuou fortemente.
A redução é ainda mais acentuada quando se analisam os créditos de médio e longo prazos, fundamentais para investimentos em máquinas, equipamentos e inovação. Entre 2012 e 2024:
• O crédito de curto prazo para a indústria caiu 33%.
• O de médio prazo encolheu 55%.
• O de longo prazo sofreu a maior queda: 64%.
O movimento indica que a estrutura de financiamento está cada vez mais concentrada no curto prazo. Em 2012, ele representava 73% do total destinado à indústria de transformação; em 2024, passou a 82%.
Com o financiamento à produção das empresas estagnado e o financiamento especificamente às empresas industriais caindo, a dificuldade de acesso ao crédito compromete tanto o funcionamento diário das empresas quanto a sua capacidade de investir no futuro. Sem linhas adequadas de médio e longo prazos, a indústria tem dificuldade para ampliar sua capacidade produtiva, incorporar tecnologia e inovar, o que compromete o desenvolvimento econômico de longo prazo do país.
Já a dificuldade de acesso ao crédito de curto prazo fragiliza a situação financeira das empresas, trazendo a elas dificuldades em honrar seus compromissos imediatos, causando custos adicionais, incertezas e, no limite, pondo em risco sua sobrevivência, pela perda de saúde financeira.
Além disso, o descompasso entre o crédito ao consumo e o crédito ao investimento resulta em pressão inflacionária e crescimento das importações. Como a produção nacional não acompanha a demanda estimulada pelo crédito às famílias, a solução tem sido recorrer a produtos vindos do exterior. O aumento de importações prejudica especialmente a indústria de transformação, setor da economia mais exposto à competição externa.
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