Uma sucessão na empresa familiar deve começar por um básico e importante ensinamento: os pais precisam ensinar aos filhos, desde o primeiro momento, a trabalhar para preservar o negócio, fazendo-o próspero e longevo. “É isto o que venho transmitindo aos meus três filhos desde o momento em que começaram a trabalhar comigo”, disse Cristiano Maia – dono do Grupo Samaria, um conjunto de várias empresas que atuam em diferentes ramos da atividade econômica – ao falar ontem para 50 filiados da Associação dos Jovens Empresários (AJE) de Fortaleza, para os quais contou, na hora do almoço, sua história empresarial.
Ele também aconselhou: “Façam tudo para não pedir dinheiro emprestado aos bancos. Eu nunca pedi. Eu empresto ao banco”.
Com o seu caraterístico e espontâneo jeito de expor suas ideias, Cristiano Maia começou assim sua fala ao atento auditório:
“Devo repetir aqui o que tenho dito a alguns consultores que já me procuraram com a proposta de cuidar da minha sucessão na empresa: vou completar 74 anos em outubro e não estou pretendendo morrer tão cedo.” Foi aplaudido, inclusive por sua mulher, D. Luzia, e pelo filho Giscard, que acompanharam o seu depoimento.
Tudo aconteceu no Náutico Atlético Cearense em mais uma edição do Almoço Empresarial que há anos reúne, periodicamente, os associados da AJE Fortaleza, cujo presidente Lucas de Melo saudou Cristiano com as seguintes palavras: “Aqui está um gigante cearense da inovação empresarial”.
Ele fez jus ao elogio. Começou contando sua história, que começou há sete décadas “no interior do interior do Ceará”, ou seja, na zona rural de Jaguaribara, que na época nem município era. Quando se deu conta, era um menino de 13 anos com olhar posto no futuro, que não era lá, mas em Fortaleza, para onde veio e de onde partiu para a paulista Guaratinguetá, onde cursou a Escola de Especialistas da Aeronáutica e onde se especializou em plano de voo. Mas seu sonho era tornar-se engenheiro para construir estradas. E trocou o céu dos brigadeiros pelo duro trabalho em terra.
Aos 29 anos, graduou-se em engenharia no Recife, retornou a Fortaleza e fundou sua Construtora Samaria. “Por que Samaria?”, ele mesmo perguntou e respondeu:
“Porque me impressionei profundamente com a história bíblica do povo samaritano, do qual nasceu o espírito da solidariedade que nos leva a fazer o bem ao próximo!”. Pura verdade.
A Construtora Samaria progrediu mais do que imaginou o seu fundador. Cresceu a tal ponto que Cristiano Maia, em busca de novos negócios, ouviu de um amigo uma dica: a produção do camarão marinho estava caindo, mas o seu consumo aumentava. Foi aí que se tornou carcinicultor. Comprou, em 2015, no vizinho Rio Grande do Norte, a Fazenda Potiporã, que pertencia ao Grupo Queiroz Galvão, na qual fez investimentos que a modernizaram – incluindo a instalação de um moderno laboratório de pesquisa biológica e a construção de uma usina de geração de energia solar fotovoltaica com capacidade instalada de 3 MW – que a tornaram o que é hoje: a maior produtora de camarão do país, na qual trabalham 2 mil pessoas. Depois, instalou outra fazenda de criação intensiva de camarão em Paraipaba, no Litoral Norte, e em Beberibe, no Litoral Leste do Ceará.
Era pouco. Por isto, em seguida, adquiriu de uma multinacional uma fábrica de ração animal localizada em Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza, cuja produção triplicou, para o que investiu na compra de novas e modernas máquinas. Além dessa unidade – que produz ração para bovinos, equinos, cães, gatos, peixes e camarão – o Grupo Samaria tem outra em Goiana, cidade pernambucana que fica à margem da BR-101, entre João Pessoa e Recife.
O Grupo Samaria é hoje um portento. Cristiano Maia diz e repete para quem quer ouvir, e ontem os jovens empresários o ouviram dizer:
“Nunca pedi dinheiro emprestado a banco. O que tenho comprei à vista, fruto das minhas poupanças. É preciso sempre guardar um bom pedaço do que se ganha para enfrentar os futuros desafios. É o que aconselho a vocês, jovens: se pedirem financiamento ao banco, usem-no no seu objetivo, ou seja, naquilo a que ele se destina. Não façam como alguns que tomam empréstimo bancário e, em vez de investir no negócio, compram um carro novo, de luxo, e apartamento novo, também de luxo. Está claro que quem age assim não conseguirá pagar a dívida, e os juros bancários estão hoje proibitivos, para não dizer outra coisa.”
No final do seu pronunciamento, que durou uma hora, Cristiano Maia declarou-se “com muito medo da Reforma Tributária”, pois tem a certeza de que, ao contrário do que dizem deputados e senadores a favor e contra o governo, ela não reduzirá, mas aumentará a pesada carga tributária hoje existente. Na sua opinião, pelo que se lê e ouve a respeito, será mantido o manicômio em que se transformou, há 50 anos, o modelo tributário brasileiro, o que significa manter em plena atividade os escritórios de advocacia tributária.
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