Inflação sobe e Banco Central ameaça subir taxa Selic

Ata da última reunião do Copom deixa claro que, se for necessário, a Autoridade Monetária não hesitará em aumentar os juros básicos da economia brasileira

Legenda: Inflação real: o preço das frutas, legumes e verduras subiram mais do que indica o IPCA, que mede a inflação oficial brasileira
Foto: Fabiane de Paula / SVM

Está muito alta a taxa básica dos juros da economia brasileira, a Selic, sigla do Sistema Especial de Liquidação e Custódia, um programa virtual por meio do qual são negociados os títulos do Tesouro Nacional. Só o Banco Central e as instituições financeira estão autorizadas a negociar esses papeis no ambiente do Selic, cuja taxa mantém-se no patamar de 10,50% ao ano. 

Mas esse percentual poderá mudar, porque a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, trouxe a clara indicação de que a Autoridade Monetária não hesitará em elevar os juros se isto se fizer necessário. E pode acontecer já em sua na próxima reunião de setembro. 

Todo o esforço do Banco Central continuará sendo o de conduzir a inflação para o centro da meta de 3% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional para este e o próximo ano, permitida, porém, uma variação de 1,5% para cima ou para baixo da meta. Neste momento, a inflação anualizada está em torno de 4%, portanto, dentro da banda superior da meta.

A perspectiva de uma redução da inflação, especulada na transição do primeiro para o segundo trimestre deste ano, virou fumaça com a explosão do câmbio. O dólar, que no primeiro trimestre não passou de R$ 5, chegou a ser cotado a R$ 5,80 no meio da segunda-feira passada. Isto quer dizer que, em mais alguns dias, os preços das matérias-primas importadas (trigo, fertilizantes, princípios ativos dos medicamentos, fretes marítimos, ferroviários e rodoviários, querosene de aviação) poderão majorados, robustecendo a inflação que segue com sinal de alta, como indicam os últimos Boletins Focus. 

Para combater a alta inflacionária, o remédio é o que aconselha a elementar cartilha da ciência econômica: a subida dos juros, tornando mais difícil e mais caro o acesso ao crédito, algo que castiga duramente o comércio varejista. 

Uma visita aos supermercados e às padarias indicará que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado pelo IBGE para medir a inflação oficial brasileira, é bem diferente, ou seja, a inflação real é bem maior do que a inflação oficial, pois os preços das coisas estão subindo na velocidade do frevo, assustando o consumidor de classe média, que, por exemplo, deixou de comprar azeite de oliva porque seu preço se tornou proibitivo. 

Com todo o respeito que merecem os pesquisadores do IBGE, mas os preços de verduras, legumes e frutas subiram mais de 10% no primeiro semestre de 2024. O custo do material didático e da mensalidade escolar, também. O do pão, idem: um carioquinha, um só, está custando hoje mais de R$ 1.

 O Boletim Focus das últimas semanas tem indicado uma alta da inflação captada pelos 100 economistas consultados pelo Banco Central e cujas previsões o ajudam a projetar o IPCA para todo o ano. No setor de serviços, a inflação resiste com mais força e isto, somado aos riscos da política fiscal e às incertezas externas (juros altos nos EUA) pode levar a Autoridade Monetária a elevar a taxa Selic em setembro.

Como dizem os comissários de voo: apertem os cintos, que vem aí uma zona de turbulência.

Veja também