CNI diz que Selic a 15% sufoca economia e isola o Brasil

Pesquisa aponta que 80% das empresas industriais acusam a taxa de juros elevada como a principal dificuldade para a tomada de crédito de curto prazo

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 19:58)
Legenda: CNI acusa a política monetária do Banco Central de sufocar a economia. Hoje, o Copom manteve a Selic em 15 ao ano. Taxa muito alto.
Foto: Marcello Casal / Agência Brasil
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Decidiu hoje, quarta-feira, 5, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manter a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 15% ao ano. A decisão “sufoca a economia e isola o Brasil no contexto internacional dos juros reais”, de acordo com a avaliação da Confederação Nacional da Indústrua (CNI). 

Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, a continuidade da política monetária excessivamente contracionista é prejudicial ao país.  

“A Selic tem freado a economia muito além do necessário, uma vez que a inflação está em clara trajetória de queda. A taxa de juros atual traz custos desnecessários, ameaçando o mercado de trabalho e, por consequência, o bem-estar da população. Além disso, o Brasil segue com a segunda maior taxa de juros real do mundo, penalizando duramente o setor produtivo”, critica.   

Uma pesquisa inédita da CNI mostra que 80% das empresas industriais apontam a taxa de juros elevada como a principal dificuldade para a tomada de crédito de curto prazo. No caso de acesso a financiamento de longo prazo, 71% dos empresários apontam a Selic como principal barreira.   

As empresas arcam ainda com o aumento recente das alíquotas do IOF, o que reduz o crédito e os investimentos. Segundo o mesmo levantamento, quase metade das indústrias respondentes desistiu de contratar ou renovar o crédito ou reduziu o seu volume após o aumento das alíquotas do IOF.   

Brasil é pária internacional dos juros reais   

Alban lembra que a decisão do Copom vai na contramão do movimento global de redução dos juros. O banco central dos Estados Unidos, por exemplo, cortou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual na última reunião. “O Brasil desperdiça mais uma oportunidade de reduzir a Selic sem pressionar o câmbio e, consequentemente, a inflação, porque o diferencial de juros entre Brasil e EUA aumentou ainda mais”, completa.   

Para Alban, o Banco Central precisa diminuir os juros a partir da próxima reunião, em 10 de dezembro. Ao mesmo tempo, ele defende a construção de um pacto de toda a sociedade em torno do ajuste das contas públicas, com redução de despesas que permitam um consistente ciclo de redução dos juros.  

Selic é a maior em quase 20 anos   

A Selic está no nível mais alto em quase duas décadas. Nesse patamar, a taxa de juros real está em torno de 10,5% a.a., quando se considera a inflação esperada nos próximos 12 meses, de 4,06%. A taxa de juros real está aproximadamente 5,5 p.p. acima da taxa neutra, que não estimula nem desestimula a atividade econômica, estimada em 5% a.a. pelo Banco Central.   

A CNI estima que a taxa básica de juros de equilíbrio deveria estar em 11,9% a.a., considerando as expectativas de inflação para os próximos 12 meses. Assim, os juros atuais estão 3,1 p.p. acima do necessário para controlar a inflação e evitar prejuízos ao crescimento econômico. 

O COMUNICADO 

Eis a íntegra do comunicado distribuído pelo Banco Central, logo após o fim da reunião do Copom: 

O ambiente externo ainda se mantém incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário exige particular cautela por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica. 

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores segue apresentando, conforme esperado, trajetória de moderação no crescimento da atividade econômica, mas o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes apresentaram algum arrefecimento, mas mantiveram-se acima da meta para a inflação. 

As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, situando-se em 4,5% e 4,2%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o segundo trimestre de 2027, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,3% no cenário de referência. 

Os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada, tendo impactos sobre o cenário de inflação; (ii) uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza; e (iii) uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários. 

O Comitê segue acompanhando os anúncios referentes à imposição de tarifas comerciais pelos EUA ao Brasil, e como os desenvolvimentos da política fiscal doméstica impactam a política monetária e os ativos financeiros, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado. 

O Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 15,00% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego. 

O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. O Comitê avalia que a estratégia de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado. 

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira. 

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