Economia do Mar: o Ceará desperdiça a riqueza das algas marinhas

Com 600 km de litoral e grandes fazendas de produção de camarão, o empresariado cearense pode produzir e industrializar aqui o que hoje o Brasil importa

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 03:30)
Legenda: Em Icapuí, um grupo de mulheres criou uma associação para a produção de algas marinhas, que precisa ganhar escala.
Foto: Kid Júnior / SVM
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De frente para quase 600 quilômetros de litoral, de Icapuí a Barroquinha, o Ceará reúne condições ideais para investir na Economia do Mar — e um dos setores mais promissores é o da produção e industrialização de algas marinhas. Apesar do enorme potencial, nenhum empresário cearense quis mergulhar nesse negócio, que é de alto e seguro retorno.  

Hoje, o Brasil importa cerca de 90% da carragenina (ou carragena) — substância obtida de algas vermelhas usada como espessante em laticínios, cremes, sobremesas e sorvetes. 

A dependência é tamanha que, se você tem dúvida sobre ela, basta perguntar a qualquer fabricante de sorvete. O maior produtor mundial de algas marinhas são as Filipinas. 

As algas e seus produtos  

As principais classes de algas são: Rodofíceas (vermelhas) – típicas de ambientes marinhos, contêm ficoeritrina; Clorofíceas (verdes) – predominam em água doce, com clorofilas A e B; Feofíceas (pardas) – marinhas, ricas em alginato. Delas se originam produtos de grande valor econômico, como: 

Carragenina, das vermelhas – usada em alimentos, cosméticos e fármacos; Agar-agar, também das vermelhas – aplicado em microbiologia e confeitaria; Alginato de sódio, das pardas – essencial em sorvetes, medicamentos e moldes odontológicos. Além disso, microalgas verdes e vermelhas servem como base para biocombustíveis e suplementos ricos em proteínas e antioxidantes.  

A “Ferrari das algas”  

Para o engenheiro Cláudio Baima, cearense que há mais de 20 anos estuda e atua no setor — e que dirigiu a primeira empresa do gênero no litoral do Rio de Janeiro — o negócio das algas marinhas “é de alta rentabilidade, com baixo custo operacional”. 

Segundo ele, um investimento de cerca de R$ 25 milhões é suficiente para erguer uma operação verticalizada de cultivo e processamento industrial com um retorno exponencial.  

“Se você tem bom lucro criando camarão, saiba que terá lucro três vezes maior produzindo, beneficiando e comercializando a Kappaphycus alvarezii, a alga de maior importância dessa cadeia produtiva”, afirma Baima, chamando-a de “a Ferrari das algas”.  

A joia da produção  

Cultivada industrialmente pela alta concentração de κ-carragenina (até 55% da massa seca), a Kappaphycus alvarezii é usada como espessante e gelificante natural. A biomassa residual, rica em minerais, serve para biofertilizantes, rações e suplementos minerais, e quase metade de sua massa seca é composta de carboidratos utilizáveis — o que a torna energeticamente eficiente e sustentável.  

Suas aplicações industriais diretas incluem:  

Alimentos: espessantes e estabilizantes; Cosméticos: géis e cremes; Fármacos: cápsulas e suspensões; Agroindústria: biofertilizantes e condicionadores de solo.  

Agora vem a melhor notícia para os carcinicultores: essa produção pode ocorrer nos viveiros já existentes de criação de camarão, aproveitando a estrutura e as licenças ambientais das fazendas aquícolas. Em sistemas multitróficos, a alga pode ser cultivada como segunda cultura, e as licenças da fazenda se estendem automaticamente ao cultivo complementar, sem necessidade de novos processos complexos.  

Oportunidade para o Ceará  

Com litoral extenso, clima favorável e presença consolidada da carcinicultura, o Ceará tem todas as condições técnicas e logísticas para liderar o mercado nacional de algas. Este estado pode tornar-se pioneiro na produção e industrialização da carragenina no Nordeste, gerando empregos qualificados e atraindo investimentos em biotecnologia marinha.  

Cláudio Baima resume com otimismo:  

“O Ceará pode ser, em poucos anos, o maior polo brasileiro de algas marinhas industriais — sustentável, rentável e de impacto global.” 

Em maio de 2021, o Diário do Nodeste publicou reportagem, abordando o esforço de um grupo de mulheres do litoral de Icapuí, no Sudeste do Ceará, que produzem algas marinhas e as transformam em produtos de beleza, como cosméticos. Imagem esse esforço sendo desenvolvido de forma empresarial ao longo de todo o litoral do Ceará.

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