Constantino Frate, consultor em energia, petróleo e gás da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet) do Governo do Ceará e membro de um Grupo de Trabalho que coordena o projeto de implantação do Hub do Hidrogênio Verde no Complexo do Pecém, surpreendeu ontem um grupo de empresários da indústria e da agropecuária com os quais se reuniu, ao transmitir a seguinte informação:
“A Cagece dispõe de toda a água de que necessitarão as empresas que vierem aqui para produzir o H2V no Pecém”.
E, diante da surpresa dos que o ouviam, e para que não restassem dúvidas sobre o que estava a dizer, emendou:
“Se todas as 19 empresas que, até agora, celebraram MOUs (Memorandos de Entendimento) com o governo do Estado, implantasse, ao mesmo tempo, usinas de produção de Hidrogênio Verde, ainda sobraria muita água”.
E detalhou as informações, fornecendo números:
“A Cagece pode oferecer 4,5 metros cúbicos por segundo de água do seu sistema de esgotamento sanitário de Fortaleza e Região Metrpolitana, ou seja, bem mais do que os 2,5 metros cúbicos por segundo que as 19 empresas necessitarão para a produção do H2V”.
Ele explicou que “a solução Cagece” é mais rápida, mais barata e mais eficiente do que a imaginada dessalinização da água do mar.
Para começar – ele informou – já existe e está em funcionamento uma adutora de aço, com 1,5 metro de diâmetro, que liga Fortaleza até o Pecém, com capacidade suficiente para transportar os 2,5 metros cúbicos por segundo, volume que só será alcançado se vierem para o Ceará todas as 19 empresas que manifestaram interesse em investir no Hub do H2V.
Será necessária, naturalmente, a construção de uma ou duas Estações de Tratamento de Esgoto a ser fornecida pela Cagece. Mas para isso há tecnologias disponíveis – várias cidades do mundo reutilizam águas do seu sistema de esgotamento sanitário para diversas finalidades, inclusive, e principalmente, industriais.
Constantino fez questão de dizer que o Ceará está bem à frente de todos os estados brasileiros que também se movem pela instalação de usinas de produção do Hidrogênio Verde, citando, além da organização e da interação do governo com as entidades empresariais e com os centros de inteligência de sua academia, “as vantagens da natureza que só aqui existem”. E citou:
“Localização geográfica do Porto do Pecem, equidistante dos portos europeus e norte-americanos; presença física e societária do Porto de Roterdã, o maior da Europa, pelo qual entrará, no continente europeu, todo o H2V a ser importado de várias partes do mundo, inclusive do Ceará; o alto índice de insolação e os ventos fortes e constantes que garantem a geração de energias solar e eólica; e a capacidade do cearense de assimilar novas tecnologias”.
“Prestem atenção ao que se passa no litoral do Ceará, já transformado na meca do kitesurf. As nossas praias estão tomadas por jovens e executivos da Europa e dos EUA que vêm para cá por causa dos ventos que embalam esse esporte praticado por quem tem boa renda”, disse Constantino Frate.
Ele também informou que o Fator de Capacidade de projetos eólicos “offshore” (dentro do mar) no Ceará alcança 70%; na Europa, ele é de apenas 38%. E lembrou que os custos de instalação e operação de parques de geração eólica e solar estão caindo em boa velocidade.
“Na Europa, eu ouvi uma boa opinião de um investidor, que disse o seguinte: ‘O Ceará tem um discurso e uma prática aliados’, o que é verdade”, afirmou Constantino, que adicionou outra informação importante:
“As autoridades do Porto do Pecém, incluindo seus sócios do Porto de Roterdã, já estão projetando um terminal exclusivo para a movimentação exportadora do Hidrogênio Verde”.
E, na sua conclusão, ele fez outra revelação:
“A Sedet está trabalhando, arduamente, no sentido de trazer para cá não apenas usinas de produção de H2V, mas todos os elos de sua cadeia produtiva”.