Boletim Focus: Inflação em queda, mas cautela com economia

País caminha na direção certa para controlar a inflação, mas enfrenta limitações estruturais e fiscais que seguram o crescimento.

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 03:36)
Legenda: A inflação caiu pela 13ª semana consecutiva, segundo revelou ontem o Boletim Focus, do Banco Central
Foto: Fabiane de Paula / SVM
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Segue caindo a inflação! O Boletim Focus desta semana, divulgado ontem pelo Banco Central, indica que este ano de 2025 fechará com IPCA em 4,86%, menos do que os 4,95% estimados na semana passada, o que, na prática, que dizer que “os preços devem continuar subindo, mas em ritmo mais controlado”, segundo opinou o economista André Matos, CEO da MA7 Negócios. 

Na sua opinião, a redução da projeção do PIB – que desceu de 2,21% para 2,18% -- indica que a economia deve seguir em expansão, mas sem grandes acelerações. No câmbio, acrescentou ele, o mercado vê o dólar um pouco mais baixo, passando de R$ 5,60 para R$ 5,59 em 2025, e reduzindo também para os anos seguintes.  

André Matos com a palavra: 

“Isso sugere uma visão de maior estabilidade no cenário externo, ainda que em patamares elevados. A taxa Selic, por sua vez, continua projetada em 15% até o fim do ano, caindo de forma gradual nos próximos anos, mas sem mudanças nesta leitura. Como o mercado deve reagir a isso? A tendência é de alívio, já que a expectativa de inflação menor ajuda a reduzir os juros futuros, o que favorece setores mais ligados ao crédito e ao consumo, como varejo e construção.  

“Por outro lado, o crescimento ainda modesto reforça a visão de que o país segue em compasso de cautela. Esses resultados sinalizam que o Brasil caminha na direção certa para controlar a inflação, mas ainda enfrenta limitações estruturais e fiscais que seguram o crescimento. Para quem atua em ativos estressados e “litigation finance”, esse ambiente gera oportunidades: empresas pressionadas por juros altos e crescimento lento tendem a demandar soluções alternativas de crédito e reestruturação. Ao mesmo tempo, uma inflação mais baixa ajuda na previsibilidade e no cálculo de recuperação desses ativos, o que torna o momento desafiador, mas fértil para quem sabe identificar valor em meio à incerteza”.  

Sobre o mesmo tema, eis o que disse o economista Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, empresa do mercado financeiro: 

“O Boletim Focus desta semana aponta para o efeito esperado de uma Selic alta, de inflação em queda, mas com sinais de desaceleração da economia. Para 2026, o mercado vê a inflação ainda mais baixa, e o crescimento do PIB perde ainda mais força. Isso indica que a economia tende a desacelerar antes de se beneficiar de juros menores, que só devem começar a cair no próximo ano.  

“Na prática, o mercado deve reagir com cautela porque temos um cenário de alívio com a inflação sob controle, mas preocupação com o ritmo de crescimento, ainda mais se considerarmos os efeitos das tarifas dos EUA impostas ao Brasil. Para empresas, o desafio é administrar margens e liquidez em um ambiente de juros elevados e demanda mais fraca.” 

Agora, a opinião do economista Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos: 

“O Focus trouxe mais uma revisão para baixo da inflação, a 13ª queda seguida. Embora ainda esteja acima do teto da meta, esse movimento consistente mostra que o mercado enxerga maior controle de preços à frente. Ao mesmo tempo, a projeção do PIB caiu para 2,18%, sinalizando perda de fôlego da atividade, por mais que seja leve. Na prática, isso significa que o mercado aposta em um cenário de inflação menos pressionada, mas com crescimento moderado e juros ainda elevados, já que a Selic continua projetada em 15% no fim do ano. Para os investidores, a leitura segue de cautela: o recuo da inflação abre espaço para algum alívio nas expectativas, mas a combinação de atividade mais fraca e juros altos ainda limita uma recuperação mais robusta da confiança e dos ativos de risco.” 

Para esta coluna, o bom desempenho da economia brasileira, neste segundo semestre e por todo o próximo ano de 2026, dependerá de como o governo – ou seja, seus poderes Executivo, Legislativo e Judiciário -- manejará seus gastos, que seguem elevados, fazendo pressão sobre a dívida e o seu serviço, que, de acordo com cálculos do deputado cearense Mauro Benevides Filho, vice-líder do governo na Câmara dos Deputados, encerará este exercício na marca de R$ 1 trilhão.